Está faltando mãe?

É chegado o mês de maio e com ele o Dia das Mães, a segunda data mais importante do ano para o mercado de varejo.

Foto: Marketing/ SVM

Em 2022, mais de 127 milhões de brasileiros saíram às ruas para comprar presentes para suas queridas mães ou pelo menos para limpar a barra no caso dos filhos desnaturados. O fato é que a data aquece, em 2023, um mercado que vive receoso e conta neste mês de maio com o novo aumento do salário mínimo para reerguer números em um ano complexo. Para resolver o problema do setor, só uma mãe mesmo pode ser capaz.

Viveremos em 2023 um Dia das Mães especial para o mercado, acontecendo no segundo domingo de maio já no limite possível, o dia 14. O que isso gera de bom? Teremos a primeira metade do mês de maio para trabalhar estratégias que possam fazer com que os R$ 28 bilhões de receitas geradas em 2022, segundo informa a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), possam crescer.

Você já olhou para o vovô na hora de fazer a estratégia da sua empresa?

O Brasil vive atualmente o perfil de uma mãe cada vez mais solitária. Basta ver os dados da PNAD, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. A casa brasileira padrão com pai, mãe e filhos já não é a mais frequente desde a PNAD de 2005. Hoje, assistimos um padrão de residência familiar com mãe, filhos e avós, a famosa casa geracional, e isso altera bastante o modo como empresas podem entender seus portfolios na hora de criar suas ações de marketing.

Essa casa feita sem um pai, que em boa parte saiu do lar por divórcio ou abandono, coloca no avô uma função de apoiar seus netos, pois ele se transforma na figura paterna referencial. Ele então acaba ajudando a comprar o presente para sua filha, mãe dos netos, e para sua esposa, mãe da mãe dos netos. Esse avô também é parte da fonte de renda que sustenta o lar, pois sua aposentadoria é de grande importância na hora de fechar as contas apertadas do mês. 

Mães são um baita negócio

Um bom estrategista de marketing sabe bem o poder da mulher no mercado. Ela é a decisora de grande parte das compras de um lar e influencia diretamente na compra de casas e carro. Pois é. Aquele carro esportivo que o pai comprou teve aval da mãe. É ela quem define o processo de compra de carros para homens casados ou até mesmo os namorados. Segundo dados da Volkswagen, a mulher compra diretamente 37% dos carros no Brasil e influencia na compra de outros 35% quando homens compram apenas com seu aval. Ou seja, 72% no total.

Mulheres são as maiores consumidoras de computadores, roupas, produtos para casa e decoração, cosméticos, remédios e lideram na compra de conteúdos de streaming para música e filmes.

Só tem mercado gigante dominado por elas.

Empresas não valorizam mães

Fiz questão de citar a importância da mulher nos grandes mercados de consumo e como o Dia das Mães tem força no varejo. O tamanho e valor do mercado é nítido, mas as empresas não apresentam um movimento de valorização digno.

Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as mães têm uma participação no mercado de trabalho 33% menor que o de pais. Ainda segundo dados das FGV, após 24 meses, quase metade das mulheres que tiraram licença-maternidade não está mais presente no mercado de trabalho. Dados do IBGE apresentam as mulheres com uma remuneração 20% menor que a de homens quando estão desempenhando as mesmas funções. 

O impacto de tais números geram mudanças profundas na pirâmide social do país. Segundo dados do IBGE, a taxa de fecundidade no Brasil atualmente está em 1,94 filho por mulher, menor que a taxa de reposição populacional mínima necessária que é a de 2,1 filhos por mulher.

Os fatores que mais influenciaram essa queda, que na década de 60 era de 6,3 filhos por mulher (era menino muito no mundo), foram os movimentos populacionais das regiões rurais para as grandes cidades, os contraceptivos, educação sexual, os gastos com filhos e a ascensão da mulher no mercado de trabalho.

Não foi somente a independência da mulher que moveu tanto a nossa pirâmide populacional, mas em todos os fatores citados a mulher se faz presente com destaque.

Quando olhamos para dados em âmbito mundial temos uma questão mais grave, de acordo com estatísticas encomendadas pela gigante farmacêutica Bayer em parceria com o instituto Think About Needs In Contraception, 72% das mulheres no mundo não querem ter filhos. No Brasil, onde os dados para nossa economia se mostram já alarmantes, 37% das mulheres não querem.

O que podemos entender do cenário atual? 

Ter filho é um desafio enorme. Os custos que um filho acarreta são elevados e só crescem. Os pais não são grandes parceiros em boa parte dos lares. As mães são subvalorizadas no mercado de trabalho. Elas recebem menos que os homens. Tudo isso e ainda são o mercado consumidor mais pujante.

Acho que já está mais do que na hora do mercado, Estado e sociedade entenderem o tamanho da situação que chegamos e como isso afeta e afetará cada vez mais a economia de um país como o nosso.

Não existe sistema previdenciário que se sustente num país sem jovens.

Não faz sentido que o mesmo mercado que gera 28 bilhões de reais em uma única data do ano, seja o que mais sofre no mercado de trabalho e nos lares. Ter vantagens competitivas não é uma questão de gênero, é uma questão econômica super importante e que necessita de ampla discussão.

Até que algo aconteça para mudar essa realidade, faça um esforço e compre algo importante para sua mãe. Ela enfrentou um mundo para te criar e seu carinho no dia 14 de maio é o mínimo.