Haddad fala antes da hora: a Bolsa desce e o dólar sobe

Ministro da Fazenda só deveria ter falado depois do fim do pregão da Bolsa de Valores. Ele disse que superávit primário só em 2027, ou seja, no próximo governo

Legenda: O dólar, que na semana passada valia R$ 5,03, disparou ontem, 15, e fechou, cotado a R$ 5,18
Foto: Reuters

Uma palavra fora de hora do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi suficiente para fazer cair a Bolsa de Valores B3 e jogar o dólar para uma alta espetacular no dia de ontem. 

A moeda norte-americana fechou o dia cotado a R$ 5,18, depois de haver chegado a R$ 5,21 no meio da tarde. Bom para os exportadores, péssimo para os importadores. 

(A Petrobras exporta petróleo, mas importa combustíveis).

Houve duas fortes causas para esse movimento altista do dólar, a primeira das quais veio dos EUA, cuja economia segue bombando, como mostraram os números das vendas do varejo no mês de março passado, que subiram 0,7%, bem mais do que o 0,3% que esperava o mercado. 

Isto é mais um argumento para que o Federal Reserve, o Banco Central dos EUA, mantenha altas por mais tempo as taxas de juros da economia norte-americana, atraindo investidores que estavam aplicando seu dinheiro em mercados emergentes, como o Brasil e valorizando o dólar e desvalorizando o real.

A segunda causa, que também ajudou a derrubada da Bolsa de Valores B3 foi a entrevista que o ministro Haddad deu ao programa Estúdio I, da Globo News, durante a qual transmitiu algumas informações, duas das quais só deveriam ter sido divulgadas após as 17 horas, quando se encerraria o pregão da Bolsa de Valores B3. 

Primeira informação: o ministro da Fazenda antecipou que a meta fiscal do governo para 2025 será de déficit zero. Isto significou uma surpresa desagradável para o mercado financeiro, uma vez que o próprio governo havia prometido para o próximo ano um superávit de 0,5% do PIB e não um déficit zero. Aliás, o novo arcabouço fiscal prevê que a meta fiscal do governo poderá oscilar 0,25% para cima ou para baixo, com o que, em vez de déficit zero em 2006, como ele prometeu ontem, poderá haver um déficit de 0,25%.

Haddad disse ainda que um superávit de 0,5% do PIB só será possível em 2027, mas garantiu que em 2028 esse superávit será de 1%. 

Ele também anunciou que o Salário-Mínimo de 2025 será de R$ 1.502,00, uma alta de 6,37%, o que representará uma despesa para o governo de R$ 30 bilhões. 

Resumindo: o ministro da Fazenda deixou claro que durante todo o mandato do presidente Lula, que se encerrará em 2026, não haverá orçamento superavitário, mas deficitário, o que já vem desde 2014. Tudo porque o seu governo continua gastando mais do que arrecada.

O mercado não gostou do que disse Fernando Hadad, e a Bolsa respondeu mantendo sua tendência de queda, fechando o dia em baixa de 0,49%, aos 125.334 pontos. 

Em tempo: O preço internacional do petróleo subiu nesta terça-feira. Na Bolsa de Londres, onde se negocia o petróleo do tipo Brent, extraído no Mar do Norte e referenciado pela Petrobras, o barril está sendo vendido a US$ 90,35. 

Motivo dessa alta de 0,28%: a ameaça de Israel de retaliar o Irã, ou seja, de responder ao ataque iraniano de domingo. Mas Israel só fará isso se tiver o apoio dos seus aliados EUA, Reino Unido e França.

Por este mesmo motivo, as bolsas de valores da Ásia fecharam em baixa ontem e as europeias estão abrindo também no vermelho.

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