A economia caminha para a frente, o governo para trás

E para agravar o quadro fiscal, o STF vem perdoando as dívidas das empresas indiciadas na Operação Lava Jato.

Legenda: A inflação dos alimentos preocupa o presidente Lula, que chamou setores do agro para reuniões nesta semana
Foto: Thiago Gadelha / Diário do Nordeste

Depois de amanhã, quarta-feira, 20, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, deverá reduzir em mais 0,50% (meio ponto percentual) a taxa básica de juros Selic. Isto está escrito nas estrelas e devidamente precificado pelo mercado. 

A dúvida que surge é o que acontecerá na reunião seguinte, marcada para o dia 8 de maio. Já admitem os economistas e os analistas do mercado financeiro que o ciclo de redução dos juros – que prevê mais dois cortes de 0,5% – poderá ser alterado para 0,25%, tendo em vista os fortes sinais de inflação dos preços dos alimentos e dos serviços. 

É que surpreendeu a inflação do setor de serviços (bares, restaurantes, cabeleireiros, advogados, atividades médicas etc) que, divulgada na sexta-feira passada, dia 15, veio com um crescimento de 0,7%, enquanto o mercado previa uma queda de 0,5%. Isto aponta para uma boa atividade econômica em curso, que pode ser medida pelo agitado mercado de trabalho favorecido pelo aumento da renda, via melhoria salarial, e pelo incremento da oferta de crédito.

Também surpreendeu positivamente o comportamento do varejo, cujas vendas, no mês de janeiro, segundo o IBGE, bateram na casa dos 2,5%, ou seja, bem mais do que esperava o mercado, cuja previsão era de alta de apenas 0,2%. Os setores de calçados e vestuário foram os que mais cresceram. 

São sinais robustos de que as famílias, com mais dinheiro no bolso, passaram a consumir mais, atiçando a inflação e deixando preocupada a Autoridade Monetária, razão pela qual é procedente a hipótese de que a Selic, no dia 8 de maio, poderá ser reduzida em apenas 0,25% e não em 0,50%, como está previsto nos próprios comunicados do Copom. 

Como imediata consequência desses números, os juros futuros subiram, assim como subiu, também, para 0,6% a projeção do Produto Interno Produto (PIB) deste primeiro trimestre, ao mesmo tempo em que a previsão do PIB anual, que começou 2024 em 1,8%, está agora em 2,2%.  

Preocupado com a alta dos preços dos alimentos e com o declínio de sua popularidade, o presidente Lula chamou os líderes do agronegócio para uma conversa nesta semana. Essa conversa será em um cenário característico da atividade agropastoril: a Granja do Torto, em Brasília.

Lula terá reuniões separadas com cinco setores do agro, o primeiro dos quais será o da fruticultura, ao qual está atrelado o da horticultura, que produz verduras e legumes.

Desconfia o mercado de que o governo pretende interferir no preço dos alimentos. É uma ideia que já se mostrou desastrosa e equivocada, e quem duvida deve consultar o que aconteceu nas gestões de José Sarney e Collor de Mello, que tentaram o mesmo objetivo e se viram diante do fracasso e da desmoralização.

Numa economia de mercado, é o próprio mercado que deve determinar as altas e baixas dos preços por meio da famosa e natural Lei de Oferta e Procura. Interferir nesse processo é dar com os burros n’água, e os exemplos estão aí, ali, aqui e no mundo todo. 

O Palácio do Planalto já tratou de explicar que o que pretende o governo é colaborar para que seja aumentada a produção de alimentos. Com mais oferta do que demanda, o preço das mercadorias cai.

A economia brasileira, pelos números de hoje, está caminhando para a frente. O problema, porém, segue sendo o governo e sua política fiscal – ele gasta mais do que arrecada. E gasta mal, e isto tem consequência, pois sobra quase nada para investimentos no que interessa: saúde, educação, infraestrutura, segurança pública, ciência, tecnologia e inovação. 

Para agravar, o Supremo Tribunal Federal vem perdoando as dívidas das grandes empreiteiras envolvidas nas investigações da Operação Lava Jato. São vários bilhões de reais que poderiam ajudar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a alcançar sua meta de zerar o déficit orçamento deste exercício de 2024. 

Assim, diante da impossibilidade de equilibrar as contas públicas como está previsto no OGU de 2024, situação piorada pela decisão do STF de determinar o pagamento total de precatórios (uma montanha de R$ 90 bilhões), o governo já se prepara para encaminhar ao Parlamento uma Medida Provisória trocando o equilíbrio por um déficit orçamentário que poderá chegar a 0,8% do PIB. 

O ministro Fernando Haddad tenta conter as despesas do governo, mas sua tarefa é inglória, pois o Palácio do Planalto e o comando do PT exigem mais gastos.

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