A invasão russa ao território ucraniano já dura 26 dias. Imagens, relatos e análises chegam até nós por todos os meios de comunicação. São horas e horas de cobertura dos fatos.
Nessa avalanche de informações, a população brasileira, de modo geral, não é familiarizada com as estratégias e táticas de guerra; acredito que poucos entre nós dominam o vocabulário técnico e entendem as ações durante um período bélico.
Assim como a maioria, também não sou especialista em guerras ou em geopolítica. Até por isso, demorei a me atrever a escrever algo sobre. Na guerra, como na vida, não há determinantes únicos, causas ou efeitos simples.
EUA, OTAN, União Europeia, separatistas ucranianos, Rússia e China são coparticipes de tudo que de mais terrível vem acontecendo naquela zona do planeta. Todo e qualquer discurso simples e que defina o bem ou o mal, os mocinhos e os bandidos, é simplificador, ingênuo ou ideologizado.
Certeza temos ao reconhecer as vítimas desse conflito. Falo dos milhões de civis, como dizem os militares. São pessoas simples, trabalhadores, trabalhadoras, jovens, idosos, crianças os atingidos severa e mortalmente pela guerra.
A ONU registra milhões de imigrantes ucranianos, sobretudo, nos países vizinhos (Polônia, em especial) e outros milhões de deslocados dentro do território cercado pelas tropas de Putin.
Como entusiasta dos estudos urbanos e do processo de urbanização, me chama à atenção a importância da tomada das cidades no avançar dos interesses russos.
Nunca ouvimos falar tanto das principais cidades ucranianas como neste período. Isto decorre porque são as cidades os centros de controle do território. Elas, além de concentrarem a maioria da população (a taxa de urbanização aproxima-se de 70%), sediam as infraestruturas industriais, de telecomunicação e de transporte de mercadorias.
O cerco às cidades, prática antiga nas guerras, vai enfraquecendo as resistências, pois impede a chegada de novos recursos e alimentos, além de causar terror aos habitantes. No caso das guerras do presente, os bombardeiros com mísseis teleguiados ou ativados por veículos não tripulados permitem acertar constantemente os alvos escolhidos centenas de vezes em um único dia.
Assim como na Síria, onde os russos já treinaram e executaram essas táticas, as cidades ficam em ruínas. Aeroportos destruídos, hospitais, prédios residências; em miúdos, além de catástrofe social, uma aniquilação urbana.
Não sabemos quanto tempo mais vai durar este processo, e nem sobre quais condições será decretado um cessar fogo; por outro lado, se sabe que, da mesma forma como, em muitos outros países atingidos pela guerra, as cidades precisarão ser totalmente reconstruídas para dar condições dignas de vida à população do país atingido.
Para termos um parâmetro, as cidades sírias e as do Iêmen, há mais tempo atingidas, permanecem como verdadeiros exemplos de urbicídio, como exemplificamos em coluna anterior.
Pela proximidade com a União Europeia e com os EUA, e também em virtude da maior atenção mundial, os ucranianos possivelmente receberão recursos internacionais (e se endividarão) num grandioso plano de reestruturação urbana.
Por aqui, elevamos nossos pensamentos positivos pelos ucranianos, pelos sírios, pelos afegãos e por todos aqueles que tiveram seus lares e cidades aniquilados pelo jogo de xadrez mortal dos homens da guerra.