Mirem-se em T'challa e na NBA

Cinema e esporte podem ser veículos eficientes na conscientização de direitos. E por que não também em representatividade?

Legenda: O astro LeBron James e Chadwick juntos
Foto: Foto: Divulgação

O fim de semana chegou com a triste notícia da morte do ator afro-americano Chadwick Boseman, aos 42 anos, vítima de câncer. Como ator, ele foi responsável por um dos movimentos mais representativos na eterna luta contra racismo e opressão de minorias nos Estados Unidos. No papel de Pantera Negra, herói da Marvel criado já para simbolizar essas tensões, ele mostrou que o preto pode e deve ser mais. Assim como todas as minorias.

Não posso falar pela cabeça de um preto, pois não é meu lugar de fala. Mas posso falar das barreiras quebradas pelo filme "Pantera Negra" e pelo discurso do Rei T'challa, governante de diferentes tribos, que sempre as regia com igualdade. Muito diferente de tantos líderes mundiais reais. Durante todo o tempo de exibição, era possível ver que o discurso de igualdade enchia de orgulho cada preto que saía do cinema e fazia com isso reverberasse fora das salas.

"Pantera Negra" foi o primeiro filme de super-herói indicado ao Oscar de melhor filme. E isso é muito em academia recheada de brancos, muitos conservadores. Além disso, era a quebra do preconceito de que um filme de herói não poderia ser levado a sério. Sem contar, que no filme, surge uma África rica, cheia de cultura e diversa, bem diferente do nosso olhar prepotente, que considera o continente como um "nada muitas vezes.

Talvez ali, em "Wakanda, forever" já ressoassem sussurros de "#BlackLivesMatter". Sussurros que retumbaram nas quadras de basquete estadunidenses. Jogadores da NBA resolveram não entrar em quadra nesta semana por um motivo simples: como jogar por um título sem um mínimo interesse pela vida do outro? O que uma entidade que organiza o principal campeonato de basquete do mundo tem a dizer sobre isso? Nada!? E aqui, entramos na questão central de toda essa discussão: representatividade.

Se você é ídolo é ídolo para alguém. E se esse alguém o trata como ídolo é porque acredita no que você diz e faz. Então, o que você tem a dizer a essa pessoa? Que exemplo você quer dar? Os jogadores da NBA resolveram mostrar que o mundo pode ser mais igualitário e que todos podem fazer. Valeram-se do seu status.

Com isso, mobilizaram, por tabela, outros atletas e esportes. As jogadoras da WNBA, os jogadores das ligas de futebol e de beisebol, o piloto britânico Lewis Hamilton, sempre atuante. Atingiram até mesmo o elitista tênis. A partir de um movimento iniciado por Naomi Osaka, ATP e WTA paralisaram seus jogos por um dia, admitindo que precisavam e deviam dar exemplo.

Todos esses atletas têm muito a ensinar, por exemplo, aos atletas brasileiros. Estes estão muito longe de se organizarem ou lutarem por um bem comum. Em 2013, o Bom Senso FC iniciou um embrião de movimento organizado, mas sucumbiu três anos depois com manifestações que se perderam no tempo. Porque não passaram de manifestações. Talvez o último ensaio real tenha sido a "Democracia Corintiana", lembrada com saudosismo.

Este ano, por exemplo, houve iniciativa ou outra de organização para cuidar dos interesses de atletas na pandemia. Mas tudo difuso e sem representatividade. E se você não consegue se organizar pra resolver seus problemas como conseguiria pensar nos problemas dos outros? Assim, o silêncio da passividade é o que vê.

E aí, você pode me questionar: "Mas cinema e esportes são mercadológicos". "Tudo isso é marketing". Sim, é verdade. Cinema é um mercado e precisa de público. Das minorias, inclusive. O esporte igualmente também. Mas nunca se viu por aí tantas crianças fantasiadas de "Pantera Negra" ou usando uma camisa, um caderno ou algo com a imagem do herói. Da mesma forma, as novas gerações que vão ver basquete pode, sim, mirar-se naqueles atletas.

Tudo é questão de representatividade. E quem disse que ela não possa estar na cultura de massa? Quem disse que você não pode conscientizar em qualquer meio? Mirem-se no Rei T'challa e nos atletas da NBA.