Em busca do ouro perdido: cearenses ganham dinheiro 'caçando' joias nas praias, mas há regras
Alianças são os objetos mais perdidos e que podem gerar boas recompensas para quem encontra

Quem nunca quis encontrar um tesouro perdido? Nas histórias e lendas, baús com joias e moedas de ouro são cobiçados por todo aquele que imagina a sua existência. Na vida real, quem tem essa vontade de ser descobridor de objetos valiosos pode ser chamado de detectorista.
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Seja por passatempo ou para ganhar uma renda extra, o movimento de detectorismo vem crescendo no Brasil. Nas praias aqui do Ceará já é possível ver pessoas usando detectores de metais em uma espécie de “caça ao tesouro”.
Muitos oferecem o serviço de resgate de objetos, como joias e celulares, ainda no boca a boca ou, timidamente, nas redes sociais. Porém, há quem use o detector de metais como trabalho e saia, na maré baixa, a procurar objetos que possa vender e ganhar dinheiro. Nas duas situações, é o ouro o metal precioso mais cobiçado.
O assunto causa certa desconfiança e, a maioria das pessoas que trabalha com detectorismo ou que precisou do serviço, prefere não se identificar. Esse foi o caso de um advogado de 48 anos, que perdeu sua aliança na praia, no Porto das Dunas, em Aquiraz. Por ter valor afetivo e financeiro (já que o anel era avaliado em cerca de R$ 8,5 mil), ele procurou quem pudesse tentar resgatar o objeto na areia e até ofereceu recompensa para quem a achasse.
Após uma indicação, ele chegou a um detectorista que cobrou R$ 100 para ir até o local fazer a busca e se achasse, o serviço completo teria um custo de R$ 300.
“Fiquei sabendo desse serviço já tinha passado algum tempo e, infelizmente, não recuperei a minha aliança. Porém, se eu soubesse dessa possibilidade de busca no dia, quem sabe, tivesse recuperado”, desabafa.
Depois de cinco anos, anel voltou para o dedo
Diferente do advogado que perdeu sua aliança no Porto das Dunas, quem trabalha com detectorismo coleciona, além de objetos, histórias de recuperação de memórias afetivas. Na Praia do Futuro, um detectorista, após cinco anos, conseguiu encontrar a aliança de uma mulher. Nesse caso, a certeza dela no local em que perdeu, que era no mar, em frente a uma barraca específica, fez toda a diferença.
Agora, além das praias, as quadras de beach tennis também são locais de trabalho para quem faz resgate e muitos profissionais têm feito esse relacionamento com os funcionários dos locais, para oferecerem os seus serviços a quem perdeu algum objeto de valor.
Curiosidade se tornou renda extra
Psicólogo clínico de formação, um homem de 36 anos tem o detectorismo como hobby de estudo e pesquisa desde jovem. Porém, somente no ano passado iniciou a prática ativamente e fez o perfil @resgatedejoias nas redes sociais para divulgar o serviço. Na sua experiência, 80% dos contatos que recebe é para resgate de aliança.
“Trabalho no formato de recompensa. Ou seja, só é pago se o item for encontrado. O valor é fixo para joias como anéis, colares, pulseiras, alianças e brincos”.
O detectorista explica que no caso de itens maiores, como eletrônicos ou outros objetos, cobra 20% do valor estimado do item. Além disso, se o resgate for em um local a mais de 5 km de onde ele está, é acrescido um valor de deslocamento.
“O contato pode ser feito a qualquer momento. Somos especialistas em detecção de metais em qualquer tipo de terreno”. No caso do seu equipamento, ele conta que é possível identificar itens até 1,5 metro de profundidade e submersos até 5 metros.
Em seu perfil de rede social exclusivo para este trabalho, é prometido precisão, confidencialidade e atendimento emergencial, entre outros pontos.
O psicólogo ainda lembra que, sem resgate programado, também sai para buscar “tesouros”. “O detectorismo sempre foi um hobby e a caça ao tesouro faz parte disso. Além de buscar histórias e conhecimento, gosto de ajudar as pessoas. Assim, também contribuo para a limpeza das praias, já que durante as buscas encontramos muito lixo, que acaba sendo removido”.
Os pares se conhecem
Atualmente, o homem faz parte de um grupo com cerca de 20 pessoas que residem no Ceará e praticam a ação, mas ele garante que os detectoristas são bem mais na região. “O trabalho geralmente é feito individualmente, mas sempre buscamos ajudar uns aos outros, seja com indicações, informações ou parcerias”.
Esse movimento de busca de objetos com detector de metais tem crescido nas redes sociais brasileiras e um jovem, morador de Balneário Camboriú (SC), é um dos maiores influenciadores do tema no país.
Mateus Natan da Silva, 26 anos, atualmente, vive daquilo que resgata e dos patrocínios do seu perfil. Como meta, ele quer ganhar R$ 1 milhão com os objetos que encontra.
"Vou de 3 a 4 vezes por semana para a praia caçar tesouros. Além disso, faço resgates e cobro o meu valor, dependendo da ocasião".
A partir do hobby que praticava com o pai, o sucesso dos vídeos já trouxeram ao seu perfil do Instagram, "Em busca de um tesouro perdido", mais de 460 mil seguidores. Atualmente, inclusive, o jovem atua como uma espécie de "garoto-propaganda" e tem cupons de desconto em uma marca de equipamentos para a prática de detectorismo.
Sobre os equipamentos, os preços variam de R$ 500 a R$ 40 mil. Há quem diga que pescadores e pessoas que moram na região litorânea estão investindo nessa atividade, e conseguido se sustentar a partir da venda de objetos encontrados, principalmente de ouro, que está valorizado nos últimos tempos.
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Quais são as regras no Brasil
O detectorismo, atividade de quem usa um detector de metais para encontrar objetos, não é proibido no Brasil, porém, há regras específicas para a prática. Uma das mais importantes é a lei que protege os bens arqueológicos e históricos do país.
Assim, não se pode realizar a atividade em lugares tombados ou sítios arqueológicos. Além disso, tesouros históricos encontrados devem ser comunicados ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Não é necessário ter licença para usar um detector de metais, porém, em terrenos públicos, como parques e praias, é preciso verificar se há regras específicas ou se é necessária alguma autorização.
Já em locais privados, é necessário ter a permissão do proprietário para fazer a detecção. Isso pode se aplicar a quadras de esportes de areia, por exemplo.