Com alta no preço do trigo, pão carioquinha tem aumento de até 7,5% em padarias de Fortaleza

Produtores de alimentos derivados, como pães e massas, relatam não conseguir repassar reajustes ao consumidor

Escrito por Lívia Carvalho , livia.carvalho@svm.com.br
Pão
Legenda: Pão sofrerá aumento com disparada do trigo
Foto: Fabiane de Paula

A pandemia afetou mundialmente as indústrias, uma delas foi a do trigo. O preço da matéria-prima no Brasil aumentou 21% entre dezembro de 2020 a dezembro deste ano, conforme dados Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP).

A empresária Luana Medeiros, dona de padaria localizada no bairro Passaré, em Fortaleza, relata que todos os aumentos (insumos, energia, combustível) causam um impacto, mas que não é possível repassar tudo ao consumidor.  

Veja também

De acordo com ela, de setembro para outubro, o pão carioquinha ou francês teve um aumento de 7,5% na padaria dela, com o quilo chegando a custar R$ 15,98.  

“Para gente é uma dificuldade. O poder aquisitivo não se manteve o mesmo e a gente teve uma dificuldade no repasse. Se fôssemos repassar todos os aumentos que estamos tendo, afetaria nosso faturamento, conseguimos por meio de negociações que esse aumento não fosse tão constante”. 
Luana Medeiros
empresária

Apesar disso, a empresária conta que as vendas se mantiveram estáveis ao longo de 2021, contudo, os clientes passaram a optar por produtos com preços menores para economizar.  

Com as festas de fim de ano, a expectativa da empresária é de um faturamento de 30% a 40% maior que no ano anterior.  

“Aqui na padaria, desde novembro, estamos pegando encomendas, o que é muito bom. Nos anos anteriores, os consumidores sempre deixavam para última hora e nos permite nos organizar melhor, manter uma melhor qualidade”, afirma. 

Legenda: Luana afirma que faturamento deve crescer até 40% em comparação a dezembro de 2020
Foto: Fabiane de Paula

Preço aquém do mercado

Situação parecida é vivenciada pelo proprietário de padaria em Messejana, Melquíades Timbó, que teve de diminuir a margem de lucro para dar conta de absorver os aumentos sem repassar totalmente aos consumidores.  

“Esses aumentos não influenciam só no preço do pão, é toda a cadeia de bolos e salgados. Além da elevação do preço do trigo, tem os outros componentes. Nosso preço ainda está aquém do mercado para não perdemos essa clientela”.  
Melquíades Timbó
empresário

Conforme Timbó, o último aumento repassado foi de 6% no pão carioquinha, com o quilo sendo vendido atualmente a R$ 14,29.  

Essas altas dos alimentos derivados do trigo são confirmadas, conforme o último resultado do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  

Em outubro, os panificados de forma geral registraram alta acumulada nos últimos 12 meses de 9,76% em Fortaleza. Já a do pão francês foi de 9,98%. Outros alimentos derivados do trigo experimentaram altas de cerca de 10%.  

Alta desde 2020

Os dados do monitoramento do Cepea mostram também que, considerando apenas os meses de janeiro desses dois anos, a elevação ficou em 61%. Os preços considerados são do Paraná e Rio Grande do Sul.  

O menor valor registrado, segundo o Cepea, foi em janeiro deste ano, de R$ 1.379,60 a tonelada do trigo, já o pico foi atingido em maio (R$ 1.615,90). Em dezembro (até o dia 7), o preço médio ficou em R$ 1.575,70. 

O presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, explica que esse aumento é afetado por fatores internos e externos, consequências da pandemia de Covid-19.  

“O Brasil ainda importa 60% do consumo do trigo e tivemos aumento de preços por várias razões nos Estados Unidos, Canadá, Rússia, por questões climáticas, políticas internas, etc, além do custo do frete que subiu 250% nos últimos anos, é muita coisa”, diz.  

Outros fatores que influenciaram, conforme Barbosa, foram a variação cambial e o custo interno que também sofreu alta.  

“Apesar de termos tido este ano uma safra muito boa aqui no Brasil, por uma série de razões o custo interno aumentou, da forragem, da exportação".  
Rubens Barbosa
presidente-executivo da Abitrigo

Legenda: Mesmo com aumentos, se mantiveram constantes ao longo do ano
Foto: Fabiane de Paula

Aumento da demanda mundial  

O economista Alex Araújo destaca que o aumento da demanda mundial pela matéria-prima também impactou no preço. “As economias pararam e voltaram quase ao mesmo tempo, isso impactou as commodities sofrendo essa inflação de demanda”.  

“Complementarmente, tivemos uma crise de logística global, teve um aumento brutal do frete marítimo, mercados secundários sofreram muito como é o caso do Brasil. Tivemos uma diminuição do número de navios disponíveis”.  
Alex Araújo
economista

Já no caso do Ceará, o economista explica que os produtores locais tinham um estoque e houve um retardo do aumento do preço desses produtos, que agora está sendo repassado gradualmente ao consumidor.  

Expectativas para 2022 

Para o presidente-executivo da Abitrigo, a expectativa para o ano que vem é de um aumento da produção nacional, porém o custo ainda deve continuar elevado.  

“Porém, não vai ser repassado tudo para indústria que consome a farinha. Se repassar todo o preço, há uma redução do consumo. O que houve foi uma redução da rentabilidade dos moinhos que tiveram de absorver esse aumento”, explica.   

O economista Alex Araújo acrescenta que a perspectiva é de que a inflação fique em patamares muito menores que deste ano, o que deve afetar, consequentemente, os preços dos artigos alimentícios.  

"2021 foi um ano de recuperação, a expectativa é de que voltemos para trajetória que era antes da pandemia, mas moderada. Mas a demanda por trigo pode cair um pouco, se estabilizando e com isso o preço do trigo também deve retrair”.  

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados