Simbologia da seca, mostra Vacas Magras volta em exposição na Unifor

Exposição circula pela cidade há quatro anos

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br

A partir desta terça (23) até o dia 20 de dezembro, nove esculturas da intervenção urbana criada pela artista plástica Márcia Pinheiro serão distribuídas pelo campus da Universidade de Fortaleza (Unifor). É a segunda vez que a ação é sediada pela instituição de ensino: no ano passado, "Vacas Magras" esteve exposta no local de fevereiro a abril.

Para exibir o material no espaço novamente, Márcia conta que preparou as esculturas das vacas inspirada na roupagem que tem desenvolvido com a série "Bichos". "Nessa série, com a qual vou trabalhar ao longo de 2019, desenvolvo pinturas, gravuras e esculturas. Pintei (as vacas) de acordo com essa linha que venho trabalhando", destaca a artista plástica, lembrando que, em 2017, a pintura das ruminantes ainda se inspirava na temática da seca sertaneja.

Márcia enfatiza, inclusive, que o objetivo da exposição segue o mesmo: chamar atenção para o período de estiagem, ainda uma dura realidade no Interior do Ceará. Além da Unifor, "Vacas Magras" já esteve exposta, desde 2014, em locais como o Aeroporto Internacional Pinto Martins, a Rodoviária Engenheiro João Tomé, o Mercado Central, a Praça José de Alencar, o shopping Reserva Open Mall e as ruas de bairros como Aldeota, Dionísio Torres e Cocó.

"Adoro ter feito esse trabalho na Unifor, que é um lugar que valoriza a arte. Durante esse período em que a exposição das vacas se aquietou (abril de 2017), passei a me dedicar mais ao projeto que criei de conscientização sobre o uso da água e, de dois meses pra cá, passei a desenvolver a série 'Bichos'", detalha a artista.

Como um desdobramento da intervenção "Vacas Magras", Márcia criou e mobilizou o projeto "Água de Chuva". Com o intuito de levar água a pequenas comunidades no Sertão Central do Ceará, a iniciativa teve um espaço no shopping RioMar (Papicu). No local, ela organizou atividades artísticas, educativas e recolheu doações em prol de comunidades carentes de abastecimento d'água.

Ao todo, "Água de Chuva" tem o objetivo de levar água para nove municípios cearenses. "Fiz um ano de pesquisa sobre esse tema, com apoio do Governo do Estado. Daí, no fim de 2016, consegui juntar pessoas da área de moda e desenvolver uma camisa temática da campanha. O espaço no RioMar funcionou durante três meses", recapitula a idealizadora.

Ainda sobre o projeto dedicado à questão da água, Márcia destaca que, a exemplo da intervenção urbana "Vacas Magras", a iniciativa "revela" como existem pessoas solidárias à questão da seca sertaneja. "O que mais me surpreende é a solidariedade das pessoas. No dia a dia, nós não as vemos. Umas querem participar presencialmente, outras só dão dinheiro. Elas existem, isso só precisa ser mais divulgado", alerta a artista.

Bichos

Paralelo ao trabalho com "Vacas Magras", Márcia Pinheiro tem desenvolvido, além da criação das obras artísticas em si, ações educativas em torno da série "Bichos". Ela recapitula que, no último dia 8 de outubro, fez uma ação na escola Yolanda Queiroz, com palestra a respeito do cuidado com os animais e a realização de uma pintura.

"Queria mostrar os bichos que estão em extinção em consequência da seca, das queimadas, do desmatamento. Quero investir nas crianças, independente de ser de escola pública ou particular. Pra inserir valores na educação e no futuro dos pequenos", vislumbra a artista.

Márcia adianta que está em busca de apoio para abrir, até o fim do ano, uma exposição individual. A ideia é canalizar a produção que ela tem desenvolvido para a série "Bichos", em paralelo à mostra das vacas na Unifor.

"A gente vive esse período eleitoral e eu só penso que há saída (para os problemas sociais) na educação. Por isso, fui atrás de realizar ações nas escolas, e continuo me articulando para fazer mais. Todo trabalho meu sempre traz uma questão social", pontua. A preocupação com o sertão vem das origens da artista: a família materna é de Milhã (Município do Sertão Central, próximo a Senador Pompeu).

 

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