Révia Herculano toma posse nesta quarta-feira (7) como membro da ACL

A escritora é a 13ª mulher a assumir uma cadeira da Academia Cearense de Letras

Escrito por Roberta Souza , roberta.souza@diariodonordeste.com.br

Na Fortaleza dos anos 1950, dona Alda entusiasmava-se quando observava a netinha Révia Herculano ainda criança, com os livros debaixo do braço, afirmando que ia para a escola. A avó talvez não imaginasse que, seis décadas depois, a pequena sapeca subiria ao palco da Academia Cearense de Letras (ACL) para ser empossada como a nova imortal na cadeira de número 36. Tampouco que seria o nome dela que ecoaria no discurso de agradecimento, pelo incentivo e dedicação sentimental que dera ainda na infância da futura escritora.

As mãos de Révia começaram a escrever poesia ainda na adolescência. De contemplação intimista, os textos iniciais traziam assuntos profundos, "da alma mesmo", como define ela hoje, aos 69 anos. A formação em Letras pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e a especialização em Literatura luso-brasileira pela mesma instituição serviriam de impulso para aquele sonho juvenil.

Das sessões de psicanálise às aulas na UFC, Révia ia descobrindo-se cada dia mais. Com o incentivo do psicólogo e de alguns "mestres", como a professora Noeme Elisa Aderaldo (acadêmica da cadeira 33 da ACL), ela ia divulgando em palavras o que sentia, escrevendo assim os primeiros livros.

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"Ao fazer psicanálise, me aprofundei muito na parte do ôntico, do que a alma tem pra revelar, e achei que a poesia cresceu. Eu entrei em contato com a minha própria essência. A gente só pode conhecer a nossa essência a partir de uma autorreflexão. E aí a poesia brota", descreve.

O mergulho em águas freudianas desfez bloqueios que a jovem escritora trazia consigo. "Quando nós nos conhecemos, temos menos medo da gente mesmo", pontua. Seu livro de estreia, "Aurora Escassa", traria à tona, em poesias, todas essas reflexões.

Trabalhos

A sala de aula também foi palco de expressão de Révia após sua graduação. Na carreira como docente, ela lecionou a disciplina de Língua Portuguesa no Colégio Estadual Justiniano de Serpa, e depois atuou no Centro de Estudos Supletivos. "Eu gostava da filosofia dos supletivos, de complementar a escolaridade. Achava que as pessoas que não haviam tido chance de estudar, precisavam ter novamente. Eu me sentia feliz ensinando lá", compartilha.

Na caminhada profissional, a escrita dos livros era intercalada com as aulas e também com a criação dos 4 filhos. "Quando a gente casa, as coisas tomam outro rumo. Depois que os filhos estão maiores, procuramos voltar para o caminho que tínhamos escolhido", conta.

E foi assim que ela escreveu outras três obras voltadas para o público adulto: "O Silêncio das Araras", uma travessia nos 500 anos de História do Brasil; "Chão Aberto", seu primeiro e único romance, com forte teor autobiográfico; e "Solo Sagrado", uma imersão na fé do povo caririense.

"Com 'Chão Aberto" ganhei o Prêmio Osmundo Pontes de Literatura em 2008. Eu digo que esse é o livro que eu quero mais bem. Quando Flaubert escreveu Madame de Bovary, ele disse: 'Madame de Bovary c'est moi'. Então, Chão Aberto c'est moi, sou eu", aponta Révia Herculano.

As obras infantis da escritora -"Dedé demais", "Voando com Isabelhinha - uma aventura ecológica", "Foguete de papel - Explorando o mundo bíblico", e "A Galera do Bem" - também carregam algumas características biográficas. Dando nome aos protagonistas de cada história estão seus próprios netos: André, Isabela, Anderson, Ruver Neto e Clarissa.

Academias

A escrita de tantos livros encorajou Révia a frequentar as academias. Antes de ser escolhida como nova imortal da ACL, por exemplo, já trazia no currículo a Academia Fortalezense de Letras e a Academia Cearense de Língua Portuguesa.

Com a nova atribuição, ela pretende contribuir em atividades de interiorização da cultura e com ações em comunidades carentes de Fortaleza, além de lançar novos livros como "Por serdes vós quem sois", já quase finalizado. "É assim que as nossas mãos mortais, nosso pensamento mortal fazem algo pra deixarmos pra posteridade", finaliza.

 

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