Poderosa e errante

Em "Wanderer", Cat Power canta mudanças pessoais e entrega um álbum disposto a iluminar os percalços vividos na carreira

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@diariodonordeste.com.br
Legenda: Cat Power (Chan Marshall) aposta em nova gravadora

Ultrapassando um hiato de seis anos sem material inédito, Chan Marshall retorna aos trilhos da caminhada musical após uma série de rupturas na vida. O feliz nascimento do primeiro filho e a conflituosa saída da Matador, gravadora na qual trabalhava desde 1996, foram algumas das situações preponderantes na costura do álbum "Wanderer".

Hoje, atuando pela Domino Records, Chan Marshall (a Cat Power) entrega um disco em que guitarra, bateria e pianos demarcam território com suavidade. Há pouca coisa entre a voz da cantora e nossos ouvidos. Emotivas e mediadas pela usual entrega da artista, cada interpretação dispensa acompanhamentos chamativos e essa postura surge logo na primeira canção do registro.

Sutil

A faixa homônima que nomeia o lançamento se assemelha a uma brisa do campo, confortavelmente soprada no rosto. O tom de lamento é capaz de atravessar as eras e soa generosa ao exaltar antigos mestres do cancioneiro norte-americano.

Esfumaçada, "In your face" rasga uma balada hipnotizante, como se te tomasse pelos braços. "You Get" reforça o clima etéreo com um bom jogo de bateria e guitarra. Cat Power convida Lana Del Rey para "Woman" e as vozes se combinam no serviço de evocar o espírito de feminilidade. O apelo radiofônico da composição a coloca como uma peça à parte no conjunto. Não compromete, porém pouco inspira.

Passado

"Horizon" se alonga demais num mesmo tema musical e se perde pela inexistência de outros caminhos sonoros. "Stay", de Rihanna, já possui sozinha os méritos como balada pop repleta de momentos tocantes. Munida apenas do piano e de discretos arranjos de corda, Cat Power cria uma interpretação arrebatadora e única.

Com "Black", o passado é rememorado mais uma vez e um pop adocicado dá o tom de homenagem ao lamento do blues. "Robbin Hood" lembra "Werewolf", de "You Are Free" (2002). Aqui, a melancolia de Marshall aponta para um senso de justiça ao abordar a pobreza e exploração. A cativante "Nothing Really Matters" fala de superações e sobre tirar os melhores ensinamentos dos momentos complicados que nos chegam.

O terreno é completo pela beleza de "Me Voy", ponto alto entre as 11 canções. A compositora remete a partidas como modo de lidar com as mudanças. "Wanderer/Exit" conclui a viagem ainda inacabada de Cat Power neste mundo. Chan Marshall ainda tem muita estrada pela frente para superar e mostrar sua arte. Isso nos dá a certeza de outras pérolas como "Wanderer" nos próximos anos.

Veja o clipe de“Woman”, com participação de Lana Del Rey


 

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