'Minha vida mudou quando me dei conta dos meus privilégios', diz Fernanda Lima

Fernanda Lima questiona os próprios privilégios, empresta sua voz a diferentes causas e lida com as consequências dessas escolhas

Escrito por Folhapress ,

A apresentadora Fernanda Lima, 41, é capa da revista Trip de dezembro. Entrevistada por Milly Lacombe,  sua colega de produção do programa Amor & Sexo (Globo), Fernanda desabafa sobre os ataques que vem sofrendo e porque vale a pena enfrentá-los. Ela afirma que nasceu cheia de privilégios, mas que isso não tira o seu direito e dever de lutar por um país melhor. 

"Minha vida mudou quando me dei conta dos meus privilégios, e nem sempre isso foi óbvio. Sou branca, sulista, heterossexual... São muitos lugares de privilégio", afirmou Fernanda, lembrando, na entrevista, o episódio em que foi chamada de racista por postar uma foto de suas babás, dizendo que não as obrigava a vestir branco. "Dói crescer porque a gente confronta pensamentos interiorizados que nem a gente sabia que tinha. " 

Ela conta como aprendeu a se posicionar e ver o mundo com olhos mais atentos.

"Guria, eu poderia ter sido uma Barbie. Sou uma mulher dentro dos padrões, tenho um maridão, dois filhos, vivo bem e, se seguisse o recado do mundo, estaria bem quietinha comprando uma casa em Portugal e ninguém me esculhambando nas redes sociais. Mas eu disse para o mundo que não vou por aí", afirma a apresentadora.

Fernanda, que vive com a família nos Estados Unidos, afirma que escolheu sair do país para viver no anonimato, mas que nunca deixará de ser uma cidadã brasileira. "Morar fora não me tira o direito de participar das lutas em que acredito para construir um país melhor. Minha casa sempre foi e vai ser o Brasil. Trabalho no Brasil, pagos meus impostos no Brasil. O pior seria se eu morasse fora e ficasse calada, não?" 

Legenda: Fernanda Lima
Foto: Paulo Vainer

Como modelo, Fernanda viajou o mundo ainda bastante jovem, mas ela diz que a maior aprendizado veio com Amor & Sexo, que ela não imaginava que seria tão importante. "De repente fui vendo o frentista me pedindo para abrir o vidro do carro para me contar que a mulher dele não gostava de sexo, o porteiro me chamar pra dizer que tinha desejo em homem e que não sabia como lidar... Aí eu falei: 'Meu Deus, que missão eu tenho aqui!'". 

Em meio a um furacão de críticas, Fernanda se mantém firme com os seus discursos contra o racismo, contra o machismo e contra a homofobia, seja na TV ou nas redes sociais.

"Às vezes pergunto: "Você é contra gays?". E elas: "Não". "É racista?" "Não." "É contra justiça social?" "Não." "Mas então por que tu tá criticando?" Nunca ouvi uma resposta que me convencesse", diz a apresentadora.

Por comentários críticos e até ofensivos, Fernanda Lima chegou a bloquear comentários em suas redes sociais e até processou o cantor Eduardo Costa, que a xingou de "imbecil".

Para ela só há uma explicação: "Só posso pensar que essas estruturas de poder estão internalizadas a ponto de causar uma espécie de confusão entre o sentir e o dizer, uma confusão que fantasia que feminismo é contra o homem, que justiça social é pauta de determinado partido".
 

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