Escritora cearense conta história de Dandara dos Palmares por meio de cordel

Jarid Arraes é de Juazeiro de Norte e projeta o nome da histórica guerreira no mercado editorial

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@diariodonordeste.com.br

Questões de xenofobia, gênero e, principalmente, visibilidade negra dão o tom do trabalho de Jarid Arraes. A escritora e cordelista cearense, nascida em Juazeiro do Norte, é um dos principais nomes no Brasil quando o assunto é Dandara dos Palmares. É de sua autoria o livro “As lendas de Dandara” (Editora de Cultura, 2016), romance que procura elucidar fatos de uma história que nunca foi bem contada. 

No atravessar de cada página, vamos descobrindo que a icônica mulher participava, por exemplo, da manutenção doméstica e de atividades de caça e colheita, indo além ao também comandar batalhões de negras que defendiam a comunidade na Serra da Barriga – onde hoje está o município de União dos Palmares, em Alagoas. Nesse movimento, Dandara lutou ao lado de mulheres e homens inúmeras vezes, demonstrando inteligência e força para lutar pela dignidade de seu povo.

Tais vieses foram trabalhados por Jarid na noite de ontem (19), durante participação na mesa “Heroínas Negras Brasileiras”, compondo a programação da 20ª Mostra Sesc Cariri de Culturas. O momento foi de reflexão sobre como as narrativas de mulheres negras podem ser acessíveis ao público, para que suas vozes sejam ouvidas e ganhem destaque.

Fôlego

“As lendas de Dandara”, além dos detalhes mencionados, prima também por um recorte estético apurado, resultado das ilustrações assinadas pela artista mineira Aline Valek para a obra. Nos desenhos, se sobressai o belo encontro entre a tradição do cordel e a elegância de um traço contemporâneo, o que deve encher os olhos de leitoras e leitores e conferir a dimensão da amplitude da guerreira.

Engana-se, porém, que Jarid Arraes contempla apenas Dandara em sua produção literária. Além da personagem, outros vultos de relevância – como Luísa Mahin, Antonieta de Barros, Tereza de Benguela e Aqualtune (considera avó materna de Zumbi dos Palmares) – têm suas narrativas de engajamento e protagonismo contadas em cordel.

O esforço em dar fôlego a trajetórias negras e femininas converte-se em mais trabalhos editoriais assinados pela escritora cearense. No ano passado, veio à luz “Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis”, também ricamente ilustrado – dessa vez, por Gabriela Pires – e com prefácio da pesquisadora Jaqueline Gomes de Jesus. 

Já em agosto deste ano, a escritora lançou “Um buraco com meu nome”, seu livro de estreia na poesia, no qual dedica os versos àqueles que não encontram matilha, que procuram um lugar pra chamar de seu. Nas quatro partes da obra – Selvageria, Fera, Corpo Aberto e Caverna – Jarid revira lembranças de sua infância no Cariri, cercada de intolerância e machismo, mas também cercada de poesias.

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