Desde o debut com "Turn on the Bright Lights" (2002), o Interpol estabeleceu seu maior trunfo - de qualquer banda, na verdade: uma sonoridade inconfundível, majoritariamente soturna e estilosa. Guitarras singulares, afiadas e incisivas (várias vezes responsáveis pela introdução das faixas, sem o acompanhamento dos demais instrumentos). A voz grave e nasal de Paul Banks sempre a fatiar corações. Influências claramente oriundas do pós-punk, a partir de bandas como Echo and the Bunnymen e Joy Division, mas sem nunca soar como uma cópia ou uma versão pouco inspirada de nenhuma delas.
A partir desse conjunto, o álbum tornou-se um dos marcos naquele "renascimento" do indie rock, no começo dos anos 2000, com referências explícitas aos anos 70 e começo dos anos 80 - vide Strokes e Franz Ferdinand, por exemplo. Como esquecer os acordes de "Untitled" ou hits como "Obstacle 1" e "PDA"? O segundo disco, "Antics" (2004), foi bem recebido especialmente por dar continuidade à proposta artística da banda - apesar de ser ligeiramente menos sombrio - mas muito pouco, é verdade, vide "Evil", "Slow hands" e "C'mere".
Nos álbuns seguintes, "Our Love to Admire" (2007) e "Interpol" (2010), no entanto, a coisa toda meio que desandou. Os discos mais pareciam uma grande playlist, reunido faixas indistintas. O problema é mais do conjunto do que das unidades. As canções desta época estão longe de serem ruins, mas de tão semelhantes entre si que, em vez do arrebatamento, desbancam facilmente para o enfado quando ouvidas encadeadas.
No máximo, nota-se uma adição sutil de mais efeitos nos teclados, de sintetizadores, camadas de vozes (inclusive com vocais mais suaves de Banks), por vezes uma batida mais rápida na bateria. Mas tudo encaixado numa fórmula que já dava sinais de desgaste.
Manter-se fiel à própria sonoridade não impede um processo de reinvenção, algo necessário a qualquer banda longeva. No caso do Interpol, lá se vão 12 anos de mais do mesmo. É a constatação depois de ouvir o novo disco, "El pintor", a ser lançado dia 8 de setembro, mas disponibilizado nesta semana em streaming no site npr.Org.
Homogeneidade
Novamente, não se trata de um trabalho ruim, mas que recai sobre mesmo o problema dos dois anteriores: algumas boas faixas, consideradas isoladamente, não fazem um bom disco. Até o próprio exercício de comparação entre as canções novas e anteriores torna-se difícil pela homogeneidade do balaio todo.
Entre as conhecidas guitarras, a sempre potente voz de Banks (que assumiu o baixo nas sessões de gravação, com a saída do fundador Carlos Dengler), e um clima entre o sombrio e outro meio pop, no máximo metade das 10 faixas vale ser mencionada com algum comentário específico.
"All the rage back home", por exemplo, abre o disco claramente com um apelo mais pop, pela batida dançante - mas ainda taciturno, num equilíbrio que é a essência do Interpol. Boa, mas já ouvimos antes. "My desire" pode facilmente ser eleita a melhor do conjunto, pelos riffs e por seguir num movimento crescente até se agigantar. É sensual, é bonita. Mas, de novo, muito parecido com o que ouvimos antes.
"My Blue Supreme" lembra rapidamente "Untitled", no jeito de Banks de cantar (menos grave), nos arranjos e efeitos. Nem de perto tão boa quanto, mas digna do repeat. "Tidal Wave" tem bateria bem marcada, dando umas quebradas, além de sintetizadores mais evidentes. "Twice as Hard" tenta encerrar com um clima diferente, solene. Parece que a ideia foi a mesma de "The Lighthouse", sem sucesso, já que essa última é infinitamente mais surpreendente.
O resto cabe em um parágrafo, de tão genérico. "Anywhere" lembra canções anteriores do grupo assim que a bateria entra, de tão igual. O mesmo para "Breaker 1" e "Ancient ways" - de tão semelhantes, não precisam (ou não permitem) ser comentadas. "Same town, new story" chega a oferecer um fiapo de esperança ao iniciar com uma batida meio funkeada, mas logo desagua na mesma melodia "interpoliana". "Everything is wrong" lembra "Summer Well", do último disco.
No fim das contas, entre acertos isolados, lamenta-se ver uma banda como o Interpol - que não apenas se distinguiu na geração 00's do indie rock como estabeleceu influências e sonoridades para muitas delas - minguar em uma zona de conforto.
Disco
El Pintor
Interpol
Lançamento dia 8 de setembro. Liberado em streaming em npr.Org
Matador
2014, 10 faixas/ 11 faixas (iTunes)
R$ 30 (pré-venda)
Adriana Martins
Repórter