Na (tr)ilha de Marajó: confira roteiro de três dias no arquipélago paraense

Três dias na maior ilha fluviomarítima do mundo ainda podem parecer pouco se você estiver em busca de sossego, mas também de aventura

Escrito por Roberta Souza , roberta.souza@diariodonordeste.com.br

Para onde você fugiria? Da janela de um coletivo, li esta pergunta num muro de Fortaleza no início do ano. Capitais movimentadas como a nossa, com carros e prédios disputando cada metro quadrado de existência, muitas vezes nos paralisam. Mas são nesses pequenos segundos de reflexão que me reporto a alguns lugares que visitei, e que facilmente poderia classificar como "meus refúgios". A Ilha de Marajó, localizada no Estado do Pará, e a qual tive a oportunidade de conhecer em viagem solo nas férias de junho de 2017, é um deles.

A duas horas de lancha de Belém, o arquipélago faz jus ao imaginário de lugar paradisíaco que atrai os turistas para a região. Após alguns dias na capital paraense, sobreaviso de todos em relação à questão de insegurança - especialmente sendo mulher e viajando sozinha, quando os alertas dobram -, chegar a Marajó foi como ser abraçada por uma mãe.

De mochila nas costas, caminhei até minha hospedagem. Propriedade de dois professores, a Pousada Aruanã fica a apenas dois quarteirões da entrada de Soure, principal cidade da ilha, e, à época, tinha o melhor preço de diária (R$ 100) para uma localização privilegiada, com instalações confortáveis. O desafio maior foi ficar sem internet. É que o período era de chuva e um raio havia caído sobre a torre, deixando parte da cidade sem conexão pelos exatos três dias que passei lá. Comunicação mesmo só foi possível via SMS!

Caminhos

Preparados para visitas rápidas, os moradores da ilha já dão o banquete completo quando você chega. Valdo, funcionário da pousada, logo me passou a indicação de passeios para as duas principais fazendas da região, Bom Jesus e São Jerônimo, e os respectivos horários de saída com carros ou mototáxis parceiros.

Antes de sair para a primeira trilha, conheci a lanchonete da dona Teca, com pratos feitos a R$ 10, e point dos funcionários públicos da cidade. Lá fiz boa parte das refeições, sentindo o gostinho caseiro do tempero paraense e, o mais importante, sem o preço de turista.

O pós-almoço foi na Fazenda Bom Jesus, em uma trilha de R$ 90, que durou um pouco mais de 1h de caminhada. No percurso, você anda lado a lado ao rebanho de búfalos, uma das principais fontes econômicas da região, pela exportação de leite e queijo. Os guarás, pássaros vermelhos comuns em todo litoral norte da América do Sul, são os outros protagonistas. Com o cair da tarde, é possível avistar a revoada deles, ponto alto do passeio. Voltamos à casa da fazenda de barco, sob forte chuva para alimentar o espírito aventureiro, e lá fomos recepcionados com um lanche marajoara.

No segundo dia, pela manhã, fui até a Fazenda São Jerônimo, cenário da terceira edição do Programa No Limite. O passeio de R$ 100 envolve uma caminhada mais curta, travessia de canoa e também um percurso de búfalo opcional. À tarde, segui de forma independente para a Praia (de água doce) do Pesqueiro.

Na manhã do último dia, acordei cedinho para aproveitar cada instante. Visitei a praia de Barra Velha, com a maré cheia sobre as barracas de palafita, e também dei um pulinho em Salvaterra, a 7 minutos de Soure. Para cruzar, fui de "pô pô pô", embarcação típica da região, e cujo nome foi definido pelo barulho do motor. O curto tempo só me permitiu dar uma volta no Centro e molhar os pés na Praia Grande. É que no começo da tarde, um navio já me esperava para cruzar de novo o Rio Pará.

Mais de um ano depois dessa viagem, ainda é pra lá que eu voo em pensamento quando lembro da pergunta: Para onde você fugiria?

+ Espaços Culturais em Soure:

Carimbó

O Grupo de Tradições Marajoara Cruzeirinho realiza, semanalmente, com crianças e jovens, ensaios e apresentações de carimbó. Como as opções noturnas na ilha são pouquíssimas, os turistas são convidados a entrar nesta animada festa da Rua 6 com Travessa 3.

Artesanato

O ateliê Arte Mangue Marajó concentra uma parte da produção de esculturas em madeira e dos objetos em cerâmica marajoara. O artista plástico e percussionista no conjunto “Tambores do Pacoval”, Ronaldo Guedes, é o responsável pelo espaço localizado na Travessa 23.

Serviço:

Como chegar:

De Fortaleza a Belém, voos diários pelas companhias Azul, Gol e Latam. Para Marajó, saída do terminal hidroviário de Belém às 9h, de segunda a domingo, em lancha expressa. A passagem custa R$ 48 por um percurso de 2h. O retorno de lancha para a capital paraense é sempre às 6h da manhã. De navio, há opções à tarde, mas a viagem dura 3h30.

 

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