Ilustres criações de tecido

Vodoozinhos produzidos pela artista Lana Benigno só faltam falar, tamanha a perfeição facial, corporal e do figurino

Escrito por Cristina Pioner , cristina.pioner@diariodonordeste.com.br
Legenda: Lana Benigno está sempre bem acompanhada pelos personagens, famosos ou não, que desenvolve a partir de tecidos variados O cantor Luiz Melodia ganha corpo por meio da criatividade e do carinho da artista
Foto: Foto: Helene Santos

Logo na entrada da sala-ateliê, somos recepcionados por uma figura ilustre: o escritor e poeta Ariano Suassuna, personificado num corpo de pano e em tamanho contrário à sua grandeza. Vestindo roupa de linho cru, como manda o "figurino", Suassuna não estava solitário naquele ambiente multifacetado de "vodoozinhos" criados por Lana benigno. Personalidades como Bispo do Rosário, Bono Vox, Chico Buarque e Sigmund Freud enriquecem sua casa localizada na Praia do Icaraí, em Caucaia.

Para dar vida a tais criaturinhas, a artista apropria-se dos conhecimentos da formação em moda, das vivências com figurino no cinema e da paixão pelo universo das artes. Com essa trajetória e alma inventiva, Lana se entrega à cada "personalidade" que se propõe a fazer. Começa sempre pela pesquisa, depois desenha, recorta, costura, borda e, por fim, materializa sua arte com fidelidade e afeto aos eleitos.

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A intimidade com as linhas, os tecidos e os "personagens em si" alimentam a imaginação de Lana Benigno que, em cinco anos de trabalho, já produziu mais de mil esculturas de pano, chamadas carinhosamente de "vodoozinhos". Em todas as peças, ela tenta imprimir a personalidade e o sentimento de cada pessoa retratada - a partir de sua própria opinião, claro.

"Se faço a Pina Bausch, por exemplo, vou lembrando das peças dela que já assisti, dos gestos e de tudo o que ela representa. Quando estava fazendo o Cazuza, ficava só ouvindo as músicas dele", diz. Segundo ela, é uma forma de se entregar por inteiro ao trabalho, produzido ponto a ponto.

Entre os personagens mais pedidos está o austríaco Sigmund Freud, "Pai da Psicanálise", com cerca de 40 produções diferentes, divulgadas nas suas redes sociais (Instagram e Facebook). "Sou uma pessoa que resiste a fazer coisas iguais ou em escala", confessa. Mesmo assim, aceitou o convite para desenvolver a Elke Maravilha em forma de troféu para o Festival de Cinema e Cultura LGBT, em 2016.

"Fiz por acreditar na causa e pelo fato de poder criar a Elke em 20 versões distintas. Tinha a Elke de cabelo preto, loira, de botas prateadas, botas pretas... Eu me esbaldei com ela", conta.

Pedidos

Há, contudo, quem ainda não compreenda o trabalho da artista e peça para produzir personagens políticos com objetivo de enfiar os alfinetes. "Não vou gastar a minha energia com isso. Os meus vodoos estão cheios de amor. Eles estão com o meu sumo, pois eu lambo a linha com a língua. Pego neles, amasso, torço, costuro. Tem muito de mim em cada um, minhas células estão em cada um deles".

Para desenvolver o trabalho, Lana diz que primeiro escolhe o gesto, depois faz as modelagens, corta, preenche, costura, monta e, por fim, faz a cabeça, começando sempre pelos olhos, depois o nariz, a boca e as orelhas. Eles são únicos e produzidos na sua inteireza: "Não são bonecos, nem objetos, são vodoozinhos que carregam a essência da pessoa".

"Começo sempre pela pesquisa, depois desenho, modelo, corto, costuro e dou vida aos personagens, que podem ser famosos ou não"

"Eu não faço 30 braços e saio montando os vodoozinhos. Eles são únicos, vou criando passo a passo, ponto a ponto"

luís melodiaO cantor Luiz Melodiaganha corpo por meio da criatividade e do carinho da artista

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