Entre as boas memórias que Marcos Lessa carrega do período da infância, a de acompanhar as avós maternas escutando canções de Evaldo Gouveia é uma das mais fortes e que sempre lhe rendem momentos de emoção. Era ali, naqueles instantes de encontro com a poesia romântica do cantor, compositor e violonista cearense, que crescia a vontade de conhecer mais sobre Música Popular Brasileira e, de forma específica, sobre aquela figura cujo talento ecoava em voz e melodia.
Esse contato prematuro com as músicas não apenas justifica a sonoridade que o jovem artista abraçou tempos depois para executar seu trabalho - que empreende com especial preferência pelos grandes nomes do cancioneiro nacional, caso de Belchior (1946-2017), Gonzaguinha (1945-1991), entre outros -, mas dá o tom da apresentação que ele faz hoje, às 18h, no palco do Cineteatro São Luiz.
Trata-se do show "Sentimental demais", em que Lessa presta homenagem a Evaldo Gouveia ao entoar alguns dos maiores sucessos do músico.
O repertório contempla clássicos como "O Conde", "Bloco da Saudade", "Alguém me disse", "O Trovador" e, claro, a que intitula o show. Acompanhado do pianista Tito Freitas e do violonista Eduardo Holanda, Lessa interpreta ainda quatro canções inéditas do homenageado.
"Evaldo Gouveia completou 90 anos em agosto e, depois de tantas comemorações, chegou a minha vez de parabenizá-lo", comenta o cantor, destacando ainda que a apresentação tem outro motivo nobre: fazer com que Gouveia compareça ao São Luiz e possa conferir, de perto, o trabalho.
"A proposta é reuni-lo com seu público para fazermos algo bem intimista e bonito no palco, possibilitando a gerações passadas reviverem boas lembranças e aproximando os mais jovens do talento de Evaldo, que merece ser sempre revisitado", conta. Os ingressos - no valor de R$ 20 (inteira) - garantirão a entrada das primeiras 90 pessoas, obedecendo o espaço reservado no tablado.
Parceria
Amigos, Evaldo Gouveia e Marcos Lessa iniciaram uma relação mais próxima no ano de 2013, quando este ficou conhecido nacionalmente ao participar do programa The Voice Brasil.
"Foi a partir dessa época que, pouco a pouco, fui conhecendo mais do trabalho dele e visitando com frequência sua casa em São Paulo, onde sempre aprendia bastante sobre música e acompanhava o que tinha a me contar sobre o contato com nomes como Altemar Dutra e Nelson Gonçalves", rememora Marcos.
A parceria, além da troca de olhares sobre o fazer artístico, rendeu canções que Evaldo compôs especialmente para Lessa - caso de "Entre o mar e o sertão", que intitulou seu penúltimo disco - e projetos que o jovem músico deseja tocar adiante, contemplando a robusta produção de Gouveia.
"Após finalizar alguns trabalhos atuais, quero me dedicar a pensar em algo que dê conta de expressar o quanto ele contribui para a música cearense. Sem dúvida, é um dos mais ativos compositores de nossa terra", menciona ao lembrar das 850 letras assinadas pelo mestre e das 100 inéditas que ainda devem chegar aos ouvidos do público.
Legado
Indagado sobre qual o legado que Evaldo Gouveia deixa na música cearense, o intérprete do show de logo mais não titubeia: "Acredito que há duas coisas bem importantes a ser ressaltadas: a primeira é a qualidade do que ele faz. São letras muito bem escritas e harmonias lindas", sublinha.
"A outra é a prova de que é possível fazer música popular com qualidade e preciosismo sem ser rebuscado. Acho, inclusive, que falta isso na geração de músicos atual: algo que chegue às pessoas com qualidade e beleza", finaliza.
Mais informações:
Show "Sentimental Demais", com Marcos Lessa. Hoje (11), às 18h, no Cineteatro São Luiz (R. Major Facundo, 500, Centro). Ingressos: R$ 20 (inteira). Capacidade máxima: 90 pessoas.
Contato: (85) 3252.4138
Fique por dentro
Evaldo Gouveia e um coração em cada canção
Natural da cidade de Iguatu, Evaldo Gouveia já aos seis anos de idade cantava no sistema de alto-falantes instalado no município. Aos 11, mudou-se para a Capital, onde trabalhou como feirante e continuou a estudar violão. Foi precisamente em 1949 que começou a se apresentar em bares de Fortaleza, saindo premiado (em primeiro lugar) por sete vezes em programas de calouros da Ceará Rádio Clube. No ano seguinte, formou, com Mário Alves e Epaminondas de Souza, o lendário Trio Nagô, com o qual fez apresentações em São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro. A trupe fez sucesso no programa César de Alencar, na Rádio Nacional. Sua primeira composição, "Deixe que ela se vá", logo estourou na voz de Nelson Gonçalves e selaria uma trajetória de grande sensibilidade e entrega à arte musical. Foi a partir daquela época que ele escreveu sucessos como "Somos iguais", "Serenata da chuva", "Sentimental demais" e "Poema do olhar". Hoje com 90 anos, o músico celebra o retorno acalorado de público e crítica por cada trabalho.