Filme 'O Grande Circo Místico' começa bem, mas piora com ritmo insano

Jesuíta Barbosa, no papel de Celavi, é um dos destaques do filme

Escrito por Folhapress ,

"O Grande Circo Místico" marca o retorno de Carlos Diegues à direção de ficção após doze anos. Seu longa anterior foi "O Maior Amor do Mundo" (2006). Entre esses dois, Diegues exerceu a função de produtor e dirigiu três documentários.

O retrato de um século na vida da família austríaca Knieps, desde que resolveu montar um circo no Brasil, parece caminhar a maior parte do tempo na corda bamba.

Baseado em um poema homônimo de Jorge de Lima, publicado em 1938 e composto por 47 versos, a adaptação pedia um sobrevoo mais ligeiro e poético, algo como "O Baile" (1983), de Ettore Scola, ou uma representação mais pensada e pausada de cada etapa da história do circo, possível apenas numa minissérie ou num longa de duração ousada. O meio-termo não funciona.

O melhor do filme não existe no poema. É o personagem de Jesuíta Barbosa, apropriadamente intitulado Celavi (como do francês, "c'est la vie"). Os anos passam, as pessoas nascem e morrem, e Celavi continua jovem. Mudam apenas suas roupas e seus cortes de cabelo. Ele representa o circo, impávido, resistente às intempéries familiares que o ameaçam.

O pior é a representação em imagens do lado mais místico do poema, o das gêmeas que levitam, por exemplo, como também o exagero na construção sem nuances de alguns personagens, principalmente o Jean-Paul de Vincent Cassel.

Decepciona também o aproveitamento do elenco, causado pelo meio-termo escolhido entre a invenção e a dramaturgia.

Apesar de ser recheado de nomes famosos do entretenimento contemporâneo, como Mariana Ximenes, Bruna Linzmeyer, Juliano Cazarré ou Marina Provenzzano, a velocidade narrativa dificulta uma mínima familiarização com os conflitos dramáticos que se sucedem.

O filme até começa de maneira interessante, principalmente pelas belas músicas de Chico Buarque e Edu Lobo compostas para o balé de 1983 inspirado no poema. Mas sucumbe à medida que nos acostumamos com seu ritmo insano -que lembra, na aparência de trailer gigante, o sofrível "Chatô" de Guilherme Fontes.

A direção

Os 12 anos de hiato na ficção não fizeram bem a Diegues. Mas é equivocado dizer que sua contribuição ao cinema brasileiro sempre foi pífia, como querem alguns críticos. "A Grande Cidade" (1965) é um belo filme e tem um papel importante na consolidação do cinema novo.

Nos anos 1970, atingiu um bom nível de qualidade artística com "Joana Francesa" (1973), de alcance popular com "Xica da Silva" (1976) e "Bye Bye Brasil" (1979), e de intesividade poética com "Chuvas de Verão" (1978). Seu tamanho na história do cinema brasileiro, portanto, é considerável, dentro de uma linha mais comercial, ainda que não chegue perto de mestres da dramaturgia como Joaquim Pedro de Andrade, Nelson Pereira dos Santos ou Paulo Cesar Saraceni.

Dos anos 1980 em diante tornou-se irregular demais. E seus momentos mais animadores -"Um Trem para as Estrelas" (1987) e "Tieta" (1996)- empalidecem diante de seus melhores filmes.

Assuntos Relacionados