Do cantil aos mortos

Grupo Teatro Máquina faz mostra de seu repertório a partir desta segunda (15), no Cineteatro São Luiz

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br
Legenda: Elenco em cena nos espetáculos "Diga que você está de acordo!" e "O Cantil"
Foto: FOTOS: DEYVISON TEIXEIRA

O Teatro Máquina (CE) completa 15 anos e realiza, de hoje (15) até quarta (17), uma mostra de seu repertório. Além da trajetória do grupo, a movimentação traz outro apelo histórico: as peças "Diga que você está de acordo! MÁQUINAFATZER", "Nossos Mortos" e "O Cantil" serão encenadas no palco tradicional do Cineteatro São Luiz (Centro), sempre a partir das 19h. O acesso é gratuito.

Em entrevista por telefone, a diretora do Máquina, Fran Teixeira, destaca que a seleção das três montagens foi feita a fim de se adequar ao tradicional "palco italiano" do equipamento. "Quando recebemos proposta pra fazer a mostra por lá, a gente foi se organizando e decidimos fazer o que cabe lá dentro. A maioria dos nossos trabalhos se adequa a esse formato", situa Fran.

A mostra foca tanto na retrospectiva do grupo ("Cantil" tem 10 anos em cartaz) quanto na produção mais recente ("Diga que você está de acordo!" é de 2014, e "Nossos Mortos" estreou em abril passado).

Fran faz um paralelo sobre o perfil do Máquina quando realizou "O Cantil", e sua abordagem mais atual. "A gente cresceu junto, então isso faz uma diferença. Trabalhava nessa ideia de um grupo de teatro que tem uma diretora, e produz de acordo com a pesquisa da direção. Com o tempo, isso foi ficando mais horizontal e a gente luta pra criar coletivamente", observa Fran.

Para a diretora, realizar a mostra no Cineteatro São Luiz faz sentido para além do significado histórico do espaço. Depois da última reforma do local, Fran observa que a casa se tornou um dos espaços mais bem equipados de Fortaleza para quem faz teatro.

Dentre os três espetáculos da mostra, somente "Nossos Mortos" já foi apresentado no Cineteatro, no último mês de junho. "A estreia foi em São Paulo, no Sesc Pompeia, depois fizemos na Maloca Dragão, e o São Luiz convidou. Tecnicamente, é o melhor espaço, embora a plateia fique numa inclinação de cinema", detalha Fran Teixeira.

Ela chama atenção para os dias de exibição. O mais comum é que as apresentações de teatro em Fortaleza (e na maioria das cidades brasileiras) aconteçam de quinta a sábado, com exceção da programação de festivais.

Mobilização

Questionada a respeito do papel dos artistas no cenário político atual, Fran Teixeira sinaliza que as políticas culturais no âmbito federal praticamente têm "sumido", desde que Michel Temer assumiu a presidência. A diretora ressalta a organização da classe teatral em Fortaleza e observa como, através da articulação junto aos poderes municipais e estaduais, os grupos conseguem viabilizar seus projetos.

"Estamos interessados em fazer pressão, municipal, estadual, sob a clareza que as políticas federais têm desaparecido, como as ações da Funarte. Existe hoje um simulacro do Ministério da Cultura, sem políticas (consistentes) mesmo", alega a diretora do Teatro Máquina.

Ela reforça, no entanto, que a principal manifestação política da classe teatral é se manter fazendo teatro, mostrar o trabalho. No repertório do grupo, temas como a violência, a guerra e o descaso político são abordagens comuns.

"A potência do teatro é poder reunir gente, que está junta ali em torno do mesmo interesse. E (isso) só acontece se juntarmos gente, não tem como acontecer se não for assim", acrescenta. Observação que também inclui o público.

Programação

Segunda (15), às 19h

Encenação de "Diga que você está de acordo! MÁQUINAFATZER". O espetáculo parte de fragmentos do "Fatzer", de Bertolt Brecht, escrito entre 1926 e 1931. A fábula se passa na Primeira Guerra Mundial. Conta a história de quatro soldados alemães desertores, confinados na casa de um deles. Em cena, a guerra é explorada como situação motriz para os atores improvisarem, expressando os extremos da espera, da violência e da comunicação.

Terça (16), às 19h

Encenação de "Nossos Mortos". A peça traz a voz de Antígona, articulada às inúmeras histórias dos massacres a movimentos populares, em especial o Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, no Crato (CE). Trata-se de uma tragédia sobre uma irmã que deseja enterrar o irmão, enquanto o tio dela, um general, tenta impedir.

Quarta (17), às 19h

O grupo leva ao palco "O Cantil". Conhecida do repertório do Teatro Máquina, a peça surge de uma leitura de "A exceção e a regra", de Bertolt Brecht. Em cena, a palavra é suprimida e o gesto é enfatizado, ressignificando o trabalho dos atores. Sem espaço nem tempo definidos, conta a história de dois homens à procura de algo. Entre eles, predominam os extremos da desconfiança total e da pura subserviência.

Serviço

Mostra Teatro Máquina 15 anos

Exibição dos espetáculos de teatro "Diga que você está de acordo! Máquinafatzer" (segunda, 15), "Nossos Mortos" (terça, 16) e "O Cantil" (quarta, 17), sempre a partir das 19h, no Cineteatro São Luiz (Rua Major Facundo, 500, Centro). Acesso gratuito. Contato: (85) 3252.4138

 

 

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