Colecionismo é hobby que reúne tesouros e histórias

Adeptos investem tempo e dinheiro para conquistar acervo com peças raras e repletas de significados

Escrito por Ana Beatriz Farias , beatriz.farias@tvdiario.tv.br
Legenda: Quem coleciona carrinhos de autorama quer vê-los ganharem as pistas. Em Fortaleza, há o grupo "Fendamaníacos"
Foto: José Leomar

Entrar no apartamento de Augusto Ponte é quase como mergulhar em um mundo paralelo. Há diversas versões do Batman, modelos de carros famosos do cinema e uma infinidade de outros personagens e ícones que, de alguma forma, revelam a história do advogado. Ele começou a reunir o acervo aos 21 anos: "Toda a minha coleção está ligada a uma questão sentimental, a alguma coisa que me fez bem, que eu curti na minha vida, que hoje eu tenho aquela concretude que trago da abstração. Então, é muito bom, isso é muito bom. E é um hábito salutar".

São cerca de 8 mil peças, entre gibis, estatuetas, dioramas, figuras de ação, miniaturas, carrinhos, nem todas expostas por conta das limitações do espaço físico. Algumas são raras, caso da estatueta do ator Bruce Lee no filme "Operação Dragão". Segundo Augusto, a imagem é única no Brasil. Uma representação de Arnold Schwarzenegger em "Conan, o destruidor" também chama atenção. Feita em escala de 1 por 3, a escultura foi produzida pelo artista cearense Edinho Maga. Para ter exemplares raros, bem trabalhados e originais o investimento pode ser bem alto. "Alguns custam 17 mil reais, 14 mil reais. São peças bem caras".

Legenda: Personagens do universo geek integram o acervo de Augusto Ponte, um dos maiores colecionadores do Brasil. Existem cerca de 8 mil peças entre gibis, estatuetas e dioramas
Foto: José Leomar

A alta do dólar o fez pisar no freio em relação às compras, que são constantes. Mesmo assim, o advogado mantém a coleção à medida do possível: "O dólar está na estratosfera, então a gente teve que dar uma paradinha, mas sempre que posso, eu faço uma economia. Não tô comprando com aquela constância de antes, mas a gente ainda compra muita coisa", diz.

Pequenos e velozes

Alguns acervos, no entanto, não são formados para ficar na estante. Acontece com os carros de automobilismo de fenda ou autorama, como a modalidade também é conhecida. Quem coleciona os exemplares quer mesmo vê-los ganhar as pistas. Organizador do clube "Fendamaníacos", Guilherme Borges se interessou, inicialmente, pelos automóveis de verdade, depois passou aos de miniatura. Quando ganhou uma pista de autorama, ainda na infância, desenvolveu o gosto pelos modelos adaptados para correr. Segundo ele, a paixão é compartilhada com muitos: "hoje, nós temos aqui médicos, empresários, temos funcionários de empresas. Os carros são bem acessíveis. O pessoal vem e gosta realmente de competir".

O colecionismo é um verdadeiro universo e não é incomum encontrar quem goste das miniaturas automotivas e colecione também outros tipos de itens. Marcelo Albuquerque tem aviões, tanques e navios O detalhe é que parte considerável da reprodução em escala é feita por conta dele, que é plasticomodelista. Como o processo de produção não é ininterrupto, a confecção da miniatura de um navio, por exemplo, pode demorar até três meses. Trabalho que exige uma "mão firme", como diz Marcelo. "Pra mim, é um desafio. Não tem sentido você ter um modelo desse e fazer por fazer. O objetivo, pelo menos para mim, é que ele fique o mais perfeito possível".

Mercado de nicho

Apaixonado pela cultura pop, Batista Morais decidiu que também teria um espaço para compartilhar esse gosto com outras pessoas em Fortaleza. Por isso, há sete anos, abriu em Fortaleza uma revistaria "geek", com objetos de colecionismo e histórias em quadrinhos. Durante os primeiros anos do negócio, as vendas alavancaram. "É um mercado de nicho. De 2011 até 2015, ele teve uma alta fabulosa. As vendas eram aquecidas, bastante procura. O meu estoque era bem maior".

Ao citar a recente crise econômica no País, conta que viu o próspero cenário ir se modificando aos poucos, principalmente a partir do ano de 2016. O comerciante lembra que muitas lojas do segmento fecharam as portas.

Para dar uma forcinha nas vendas, Batista conta com auxílio das redes sociais. "Desde 2015, eu utilizo, principalmente o WhastApp". Por meio de um dos clientes, reservam produtos recém-chegados e combinam encontros semanais na loja. O Instagram também é utilizado para promover a revistaria.

Hoje, o comerciante ainda sente as consequências da recessão, mas não deixa de ter uma perspectiva otimista sobre o que virá: "eu acredito que é um mercado que tem condições de prosperar, vai prosperar, porque a faixa etária vai desde criança até adulto. A gente é fascinado por isso", finaliza Batista. Como o processo de produção não é ininterrupto, a confecção de uma miniatura pode demorar até 3 meses