Cinebiografia de Erasmo Carlos estreia na próxima quinta (14)

O filme é baseado no livro "Minha Fama de Mau". A adaptação chega ao circuito de cinema e demonstra a efervescência musical dos tempos da Jovem Guarda

Escrito por Rômulo Costa* , verso@verdesmares.com.br

Antes de estourar como expoente da Jovem Guarda, Erasmo Carlos tinha suas malandragens. Completamente envolvido pelo rock'n'roll e influenciado por ídolos como Elvis Presley e Bill Haley, ele dividia com outros amigos do bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, a paixão pela música e planos para pequenas delinquências cotidianas. Como no dia que saiu correndo de uma loja de discos com um bolachão por debaixo da jaqueta, foi perseguido pelo dono do local e sequer se intimidou com os gritos de "ladrão".

Na cinebiografia "Minha Fama de Mau", que estreia nos cinemas na próxima quinta-feira (14), esse e outros episódios protagonizados pelo cantor e compositor não foram poupados pelo diretor Lui Farias. E engana-se quem pensa que Erasmo Carlos fez cara feia ao ver o passado de contravenções exposto na telona. Na verdade, ele queria era mais.

Depois que conferiu o resultado do filme, o Tremendão chegou a provocar o cineasta, dizendo que Farias o tinha retratado "muito bonzinho".

"Eu me surpreendi (com o comentário), mas isso foi bom porque agora eu posso fazer uma versão mais 'mauzinho' do Erasmo. Faço o 'Minha Fama de Mau 2' e a gente conta outras histórias", ameaça em tom de brincadeira, o diretor em entrevista ao Verso, em um dos eventos que marcaram a pré-estreia do filme em São Paulo, na última quarta-feira (6).

Baseado na autobiografia do cantor, lançada em 2008, o longa se concentra no início da carreira de Erasmo Carlos (Chay Suede) até o fim da Jovem Guarda. Mostra como o menino da Tijuca conheceu e passou a desenvolver as primeiras composições com Roberto Carlos (Gabriel Leone) e uniram-se à cantora Wanderléa (Malu Rodrigues) em um programa de televisão que projetou nacionalmente os três artistas, marcando época na música brasileira com o surgimento do movimento "iê-iê-iê".

Outros personagens centrais no início da carreira do roqueiro não são esquecidos pela produção, como a amizade, antes da fama, com Tim Maia (Vinicius Alexandre) e a relação controversa com o compositor e radialista Carlos Imperial (Bruno de Luca).

O longa toca ainda em questões delicadas no início da trajetória artística do Tremendão, quando ele se viu com a necessidade de se reinventar como compositor, após o declínio da Jovem Guarda, provocado pela saída de Roberto Carlos do trio.

Jovem Guarda

Não por acaso, o filme, além de revisar a trajetória de Erasmo, também funciona para relembrar clássicos que atravessaram gerações na voz do trio, como "Eu sou terrível", "Gatinha manhosa" e "Prova de fogo".

"A gente canta de verdade no filme, tem os trejeitos, tem o jeito de cantar parecido, mas a gente não imita eles em nenhum momento. Isso traz uma verdade", compara Malu Rodrigues, atriz experimentada em musicais brasileiros e que dá vida a Wanderléa. Assim como ela, os outros atores também auxiliam o espectador a atravessar o período por meio das músicas. "Foi um processo muito gostoso de revisitar músicas que sempre fizeram parte da minha vida", sintetiza Chay Suede, refeito como Tremendão.

Em "Minha Fama de Mau", Chay reaparece aliando a música à interpretação, o que já não é mais tão comum desde que passou a se dedicar mais ao trabalho de ator. "O filme foi rodado em 2015. Nessa época, isso era bem mais corriqueiro que hoje. De lá para cá, não fiz mais nada cantando", afirma Suede. "Não sinto falta porque tenho tido prazer de interpretar e a música sempre existe na minha vida", completa.

Como cantor e compositor, Chay também foi influenciado pela geração da Jovem Guarda e que já tinha tido o interesse de interpretar Erasmo no período. "Me encontrei com ele por acaso em um show e fizemos uma foto, antes de saber que o filme estava sendo produzido. Me animei com a foto e com a possibilidade de um dia eu fazê-lo em um filme. No dia seguinte, eu recebi o convite pro teste deste papel. Eu não sabia da produção do filme, nem mesmo a produtora sabia da foto. Começou de um jeito importante", afirma.

Amigo de fé

Nas gravações, uma nova surpresa: a sintonia com Gabriel Leone, que vive Roberto Carlos, foi tanta que ele compara à amizade empreendida entre Erasmo e o seu principal parceiro musical.

"Na verdade, a construção do personagem veio muito dessa nossa amizade fora de cena. A gente usou a energia de dois jovens atores se conhecendo com a energia de dois jovens artistas se unindo no final da década de 1950 para fazer algo importante. A gente misturou um pouco. Não tinha o momento do 'corta' tão claro assim", explica Chay.

Gabriel Leone, que já havia vivido Roberto Carlos em "Chacrinha, o Musical" (2014), confirma a parceria. O clima entre os dois ajudou a amenizar a tensão de representar uma figura tão popular quanto desafiadora como o principal parceiro de Erasmo.

"Foi bem diferente. No 'Chacrinha' era um número musical que eu tinha de gerar uma identificação imediata com uma plateia. Eu aumentava as características dele, na voz e no corpo. No filme, é diferente. Foi realmente uma outra pesquisa e, por mais que seja o mesmo Roberto Carlos, foi um outro direcionamento que eu dei", comenta.

O esforço foi reconhecido pelo próprio cantor que, segundo Lui Farias, viu o filme e o "abençoou". Em mensagem encaminhada ao diretor, após conferir o longa, o parceiro de Erasmo se disse emocionado. Um alívio para o diretor e um convite para quem é fã dos amigos e fé.

*O jornalista viajou a convite da produção do filme

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