Chega de doces

Toda criança adora um doce! Pirulitos, bombons, algodão-doce, recheados, sorvetes, chocolates, enfim, as ofertas são tentadoras, sejam pelo visual ou pelo sabor. Mas os pequenos nem imaginam os riscos à saúde quando passam a consumir açúcar além do limite

Escrito por Cristina Pioner , cristina.pioner@diariodonordeste.com.br
Legenda: Priscila Stirling, 10 anos, já teve uma alimentação totalmente desregrada, sem horários definidos para comer e um cardápio recheado de doces

Caso de Arthur Lima de Menezes, 7 anos, reflete bem esta realidade. Em casa, ele tinha o costume de comer doces à vontade, incluindo colheradas de creme de avelãs e panquecas com leite condensado. "Gostava mais de chocolate, algodão-doce, sorvete, biscoitos recheados e finnis de todos os sabores". Com estes hábitos, passou a apresentar sintomas de cansaço e suas roupas dobraram de tamanho.

Quando a mãe de Arthur, Adriana de Paulo Lima, sentiu a necessidade de ajuda, buscou uma profissional especializada na área. "Tivemos que esconder os doces. Ele chorava. Pra gente que é mãe, dói demais", confessa Adriana.

Legenda: Arthur, 10 anos, sonha emagrecer. Por isso faz acompanhamento nutricional há dois meses e já se sente mais bonito

O sofrimento de Arthur faz lembrar a cena do filme "A Fantástica Fábrica de Chocolates", na qual o personagem Willy Wonka, interpretado por Johnny Depp, era proibido pelo pai, um dentista obsessivo, de comer qualquer tipo de guloseima. A infância triste de Willy o fortaleceu para criar a própria fábrica de chocolates. Assim como o personagem, Arthur também começa a superar este desafio.

"Hoje, dois meses depois do início do acompanhamento nutricional, ele continua com os mesmos 47 kg do início, mas perdeu 500g de gordura e ganhou 400g de massa muscular. Fiquei muito feliz. A gente também passou a incentivar as caminhadas", completa a mãe.

Está comprovado que o consumo exagerado de açúcar pode desencadear uma série de problemas, bem como diabetes mellitus, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, obesidade e esteatose hepática (gordura no fígado). O alerta é da endocrinologista e metabologista Aline Garcia Costa e Melo, que destaca ainda o excesso de peso, bem como a elevação d o colesterol e/ou triglicerídeos.

Outro sinal que pode identificar o problema, conforme a nutricionista Tatiara Monção, é quando a criança passa a recusar os alimentos naturais e aumenta o desejo pelos doces. "Os pais percebem isso com facilidade, mas em alguns casos, acabam cedendo para não desagradar os filhos". Priscila Stirling, 10 anos, é exemplo de quem já teve uma alimentação desregrada. Não tinha horários definidos para comer e a rotina era "recheada" de doces. Como consequência, há três anos ela apresentou problemas como a baixa nas vitaminas D e Zinco, e aumento da insulina.

O resultado mais preocupante, de acordo com a mãe, Deborah Stirling, foi o diagnóstico de pedra na vesícula, tendo como causa a má alimentação. "Priscila precisou tirar a vesícula. Nós jamais imaginávamos que isso ia acontecer, afinal, na nossa cabeça, toda criança come besteira, mas vimos que não é bem assim", comenta.

As crianças, por volta dos 3 anos, já têm uma certa consciência alimentar. A partir de então, segundo a nutricionista materno infantil, Juliana Araújo, é importante conversar com elas e explicar sobre os alimentos saudáveis. Os doces, vale salientar, são mais atrativos ao paladar, entretanto, têm impacto negativo na programação metabólica.

Em relação à quantidade de açúcar, Juliana reforça que até os 2 anos deve-se evitar qualquer tipo de consumo de açúcares refinados e, a partir de 2 anos, recomenda-se não passar de 20 a 25 gramas de açúcar na alimentação, equivalendo a uma média de cinco a seis colheres (de chá) por dia.

Mas como equilibrar o consumo de açúcar nas crianças? Tatiara Monção diz que é não ofertar e não ter em as ditas guloseimas em casa. Para deixar os maus costumes de lado, ela sugere aos pais que estimulem o consumo de frutas em preparações diferenciadas, do tipo: frutas no palito, o retorno do dindin, do picolé caseiro com frutas e água de coco, frutas de cores chamativas e docinhas. "Não adianta deixá-las na geladeira com casca e esperar que a criança demonstre interesse, temos que ofertar. Eu até falo: façam piquenique, aniversário das bonecas, dos animaizinhos, tudo à base de frutinhas. Eles amam!"

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