Veículos de aplicativos são usados pelo tráfico

A segurança dos motoristas e usuários dos aplicativos se mostra comprometida, devido à ação de facções

Escrito por Emanoela Campelo de Melo - Repórter ,

Por mais que as Polícias tentem novas estratégias para combater a violência, os criminosos estão encontrando formas de se desvencilhar dos órgãos de Segurança Pública para continuar movimentando sua rede de delitos. De acordo com uma fonte ligada a um setor de Inteligência da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), foi detectado recentemente que criminosos têm se aproveitado de veículos cadastrados para prestar serviços aos aplicativos de transportes particulares, para movimentar drogas.

A fonte oficial, que concedeu entrevista sob condição de não ser identificada, contou que desde a expansão do Sistema Policial de Indicativo de Abordagem (SPIA), feita em abril de 2018, foi percebido um aumento do uso dos transportes de aplicativos por traficantes, com a finalidade de disfarçar alguma prática irregular. Isto, porque, o SPIA integra dados de todos os órgãos da Segurança Pública, com objetivo de recuperar veículos furtados e roubados.

"Os traficantes vêm usando mais esses transportes particulares para cometer crimes, para se locomover, porque a Polícia está monitorando placas dos veículos com queixa de roubo. A tecnologia do sistema policial, atualmente, sabe por onde os carros passam e eles querem passar despercebidos", explicou.

Neste ano, alguns casos repercutiram por se tratar de crimes envolvendo motoristas ou passageiros, que se deslocavam com uso desta ferramenta. Há cerca de uma semana, uma adolescente de 13 anos foi assassinada a tiros segundos após finalizar sua viagem, no bairro Bonsucesso. Dois homens roubaram celulares do motorista e da passageira e executaram a jovem, ainda dentro do automóvel.

Policiais militares que atenderam a ocorrência contaram que a vítima passou a viagem conversando em uma rede social. Existe uma suspeita de que ela conversava com alguém que a esperava no ponto de chegada. A morte da adolescente está na conta dos, pelo menos, 33 homicídios contra mulheres ocorridos, somente neste mês de setembro, no Estado do Ceará.

Insegurança

O policial ligado à Inteligência da SSPDS destacou que mulheres, integrantes de facções criminosas, vem se valendo das viagens em veículos particulares, para fazer entregas ou cobranças de drogas. De acordo com a fonte, algumas são flagradas com crianças, levadas durante as viagens para evitar levantar suspeitas da Polícia.

O papel das traficantes, porém, não se resume a serem entregadoras. Segundo o servidor entrevistado, depois da matança epidêmica ocorrida no Ceará, m 2017, elas assumiram o gerenciamento do tráfico em alguns bairros da Capital.

"As mulheres estão fazendo o papel que os filhos ou maridos assassinados faziam. Cobram dinheiro, compram mercadoria, andam armadas e contratam pessoas para vingar as mortes dos seus parceiros. Tem mulheres com cargos de lideranças nas facções", ressaltou.

Questionada sobre a situação, a SSPDS informou que está prevista, para o início do próximo mês de outubro, uma reunião com representantes de aplicativos de transportes. A Pasta respondeu, por meio de nota, que está aberta ao diálogo e já se reuniu com representantes desse grupo em outros momentos. Com relação à ficha criminal dos motoristas, a SSPDS acrescentou que é atribuição das empresas verificar o histórico dos seus colaboradores.

A fonte da Inteligência pontua que, na maioria dos casos, o motorista não está envolvido. "O motorista, na maioria das vezes, é mais uma vítima. Aceita a corrida, mas não sabe pra onde vai, nem o que o passageiro vai fazer. A disseminação dos aplicativos foi bom para a sociedade, mas, infelizmente, está sendo uma grande oportunidade para o tráfico também. Não há como controlar quem usa os aplicativos".

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