Tenente PM tinha acabado de deixar filho na escola

Escrito por Redação ,
Legenda: "A violência aqui está de um jeito que a gente tem medo até de andar nas ruas. Todo mundo quer ter vida. Quem é que não quer?", questiona moradora da região

Um dos policiais militares morto a tiros, ontem, na Vila Manuel Sátiro, tinha acabado de deixar o filho na escola, em frente ao bar onde o crime ocorreu. Antonio Cezar Oliveira Gomes, 50, 2º tenente da reserva da Polícia Militar, era morador do bairro e querido por aqueles que lhe conheciam. "Todos eram muito queridos, gente boa mesmo. Nunca ouvi ninguém falar mal de nenhum", ressalta um morador da Rua São Manoel, que preferiu não se identificar.

Conforme o entrevistado, era comum os policiais se reunirem no bar, fosse "para assistir ao jogo ou jogar conversa fora". "Eles eram conhecidos por todos aqui. Não tinham porque não se sentirem seguros", conclui.

O respeito aos policiais militares brutalmente assassinados era percebido por quem chegava à rua onde o triplo homicídio ocorreu. O clima era de luto, os moradores demonstraram o pesar com silêncio, que foi interrompido apenas pelo choro dos familiares - contido e cheio de dor. O medo, agora, assombra a vizinhança, que se protege como pode, preferindo não falar.

Aqueles que resolvem conversar com a reportagem pedem logo: "moça, não quero ser identificada, não". Uma mulher conhecida das vítimas revela que Cezar havia acabado de deixar seu filho mais novo na escola, como era de rotina. "Ele vinha todo dia deixar o filho na escola, o menino deve ter uns 8 anos. Ele viu os amigos e resolveu sentar lá, e ficar conversando. Ele estava almoçando quando os criminosos chegaram", detalha a fonte.

Após o ocorrido, a escola liberou as crianças. Vários pais foram buscar os filhos sem saber direito o que tinha acontecido.

O tenente Antonio Cezar e o subtenente Sanderley Cavalcante, 46, moravam próximo de onde foram mortos. Já o 1º sargento José Augusto Lima, 58, residia em um bairro próximo.

Medo

A mulher ouvida pela reportagem ressaltou ter ouvido muitos disparos: "era tiro que não acabava mais". Ela reflete, ainda, sobre a situação do Estado: "a violência aqui está de um jeito que a gente tem medo até de andar nas ruas. Todo mundo quer ter vida. Quem é que não quer ter vida? Mas como se vive com medo? A gente não pode sair de casa, não pode viver mais".

Segundo outra moradora, Sanderley também tinha uma filha que estudava na escola em frente ao bar, "mas graças a Deus estava em casa quando tudo aconteceu". "Ela tem uns 7 anos, era doida por ele. Quando o Sanderley chegava na viatura, a menina corria para abraçá-lo. Ele tem 3 filhos, dois rapazes e a criança", completou.

Ainda conforme a vizinha, "o filho mais velho do Sanderley estava trabalhando quando soube do que aconteceu, chegou em um desespero só, muito abalado. Foi triste de ver", conta emocionada, sem conter as lágrimas. Todos os PMs eram casados e tinham filhos. (Colaborou Alessandra Castro)

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