Policiais, advogada e chefes do PCC são alvos de operação

Dentre os suspeitos envolvidos, há um delegado que atuava em Caucaia e é investigado por corrupção passiva

Escrito por Messias Borges/Emanoela Campelo de Melo - Repórteres ,

Dois policiais civis e um militar foram presos por envolvimento com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), durante a Operação Saratoga, deflagrada pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) e pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ontem. Outro PM investigado e a sua companheira, uma advogada, permanecem foragidos.

Juízes de Fortaleza, Caucaia e Maracanaú decretaram a prisão preventiva de 25 suspeitos de integrarem a teia criminosa, sendo que 17 deles já se encontravam no Sistema Penitenciário; e a prisão de mais 15 pessoas no Regime Diferenciado de Disciplina (RDD). Os nomes dos investigados não foram divulgados.

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A reportagem esteve na manhã de ontem na sede da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) e apurou que, entre os presos, está o delegado da Polícia Civil Francisco Enéas Barreira Maia, da Delegacia Metropolitana de Caucaia. Um escrivão do 8º DP (José Walter) e um sargento da Polícia Militar do Ceará (PMCE) também foram detidos. O outro PM que teve a prisão expedida, a advogada, que é companheira do militar e mais 16 pessoas estão foragidas.

Procurado pela reportagem, o advogado do delegado Enéas Barreira, criminalista Leandro Duarte Vasques afirmou que "por questão de zelo profissional só iremos nos pronunciar quando obtivermos amplo acesso ao acervo investigativo, mas de antemão não descarto que o delegado possa ter sido alvo de uma armadilha".

A reportagem apurou ainda que o soldado foragido já havia sido preso em 9 de abril de 2015, na Barra do Ceará, na companhia de outro PM e de um policial civil com um veículo roubado, três pistolas uma balança de precisão e R$ 5 mil. Os policiais presos foram levados à sede da Delegacia de Assuntos Internos (DAI), na CGD no início da manhã. Por volta de 9h, os investigados foram transferidos para o Complexo de Delegacias Especializadas (Code).

Policiais da DAI ajudaram no cumprimento dos mandados da Operação Saratoga. A CGD informou que instaurou procedimentos disciplinares contra os agentes de segurança. De acordo com o controlador geral disciplinar, Rodrigo Bona, "os servidores se utilizam das funções exercidas em troca de favores".

Caso comprovadas as participações, os policiais podem ser punidos com expulsão. Ontem, durante coletiva de imprensa, Bona ressaltou não descartar a participação de outros policiais e que as investigações continuam.

Líderes

O Diário do Nordeste obteve a informação de que os líderes do grupo criminoso desarticulado na Operação são primos. Um deles é Francisco Márcio Teixeira Perdigão, 39, que já estava detido desde agosto deste ano, quando foi capturado com mais quatro suspeitos, no bairro Bom Jardim, em Fortaleza, na Operação Profilaxia, da Polícia Civil. Com o grupo, foram apreendidos um fuzil AK-47, uma pistola calibre 7.65, munições e 300g de maconha do tipo skunk (mais forte e cara que a tradicional).

Perdigão é conhecido da Polícia do Estado, por ser um dos principais assaltantes de banco, participar de sequestros e ter atuado no bando comandado por Alexandre de Sousa Ribeiro, o 'Alex Gardenal'. Recentemente, Perdigão também se envolveu com o tráfico de drogas.

Entre os episódios protagonizados por Perdigão, está um sequestro 'cinematográfico' do bando do 'Alex Gardenal' a um estudante, filho de um empresário cearense, no bairro Papicu, em 2008, que viria a durar 23 dias; uma fuga do Instituto Penal Paulo Sarasate vestindo uma farda da Polícia Militar, em 2010; e a descoberta pela Polícia de uma troca de favores que existia entre o líder do PCC e diretores da Unidade Prisional Desembargador Francisco Adalberto de Oliveira Barros Leal (conhecido como 'Presídio do Carrapicho'), em Caucaia, em 2015.

O primo de Perdigão, que também foi capturado na Operação, é Leandro de Sousa Teixeira. A reportagem apurou que o traficante representava a facção criminosa no município de Caucaia. Ele teria negociado o relaxamento da prisão de dois comparsas, com o delegado Barreira.

Conforme o MPCE, o delegado teria recebido R$ 20 mil para, durante a madrugada, alterar um inquérito acerca de um flagrante. Na ocasião, Enéas Barreira fez com que um dos suspeitos passasse a ser considerado pela Polícia Civil como testemunha. Barreira foi autuado pelo crime de corrupção passiva. Já o escrivão investigado na mesma operação, em outros momentos, é suspeito de tráfico de drogas. A reportagem tentou entrar em contato com as defesas dos investigados Leandro de Sousa e Márcio Perdigão', mas até o fechamento da matéria, os advogados não haviam sido localizados.

Lideranças

A investigação da teia criminosa, realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do MPCE, e pela Coordenadoria de Inteligência (Coin), da SSPDS, teve início em maio de 2015, através do monitoramento e acompanhamento de várias lideranças do PCC.

Desde o início da apuração até agora, 53 suspeitos já foram detidos em flagrante e 19 armas de fogo de diversos calibres e, cerca de 270 quilos de entorpecentes foram apreendidos. Segundo o Ministério Público, para além da lavratura das prisões em flagrante ao longo da investigação, os promotores do Gaeco compilaram todo o material colhido e apresentaram denúncias criminais contra todos os investigados, pelos crimes de organização criminosa armada, tráfico de drogas, associação para o tráfico, dentre outros. A previsão do MPCE é que as penas dos principais líderes da organização criminosa possa variar, em caso de condenação, de 45 a 503 anos de prisão.

Ainda de acordo com o MPCE, a Operação Saratoga foi responsável por impedir grandes motins no Sistema Penitenciário cearense, pois a Inteligência da SSPDS procurou sempre se antecipar aos fatos junto à Secretaria da Justiça e Cidadania (Sejus), para manter o controle e evitar crimes e mortes dentro das unidade prisionais.

O nome 'Saratoga' é uma alusão ao conhecido porta-aviões norte-americano que, em filme ficcional, serviu de base para o combate a criaturas subterrâneas, que na vida real se assemelham a indivíduos que atuam na clandestinidade, praticando crimes à margem da lei e da ordem.

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