Polícia investiga se houve outros estupros em escola

Escrito por Redação ,

"Triste foi ouvir o relato e não poder chorar". Assim definiu a mãe de um menino de 6 anos sobre o momento em que a criança declarou ter sido abusada quatro vezes por funcionários da Escola Patronato São José, em Itapajé, a 125 Km de Fortaleza. "Tive que demonstrar força para encorajar ele a me falar tudo", pontua.

Dois auxiliares de serviços gerais da Instituição foram presos entre terça-feira (5) e quarta (6), suspeitos dos abusos. A criança revelou, em depoimento ao Conselho Tutelar da cidade, que os homens diziam violentar também outros estudantes. Tudo acontecia durante os intervalos do recreio, ou no fim das aulas, no banheiro. Ela reconheceu os dois suspeitos.

Os presos ainda não foram identificados pela Polícia, mas tinham entre 40 e 45 anos. Um deles, que tá tinha passagem pela polícia por gesto obsceno, trabalhava no colégio há 10 anos e confessou o abuso. "As evidências do fato são muito claras, mas sobre a possibilidade de haver outras situações, ainda estamos apurando. Só as investigações vão dizer nos próximos dias", explicou o delegado da cidade, André Firmino.

A mãe da criança revelou, em entrevista à TV Diário, que o filho chegou em casa se queixando de dores na terça-feira, dia 29 de maio. "Inocentemente achei que ele havia levado uma queda. Quando vi os machucados achei que se tratava de assaduras. Então comecei a perguntar se não tinha acontecido nada e ele apenas me abraçou e chorou muito", explica.

"Mamãe, o tio fez coisa errada comigo. E depois veio o outro. O outro era mais mau ainda, com muito mais força. Me machucou muito", desabafou a criança em seguida. A mãe conta que o caso acabou com sua família, sobretudo por ter acontecido quando eles comemoravam um ano de estadia na cidade, e que o menino teve o comportamento completamente alterado. "Ele chora, bate e arranha a gente. É como se ainda não tivesse extravasado toda a dor que sentiu", revelou.

Os pais da vítima procuraram, então, o Conselho Tutelar de Itapajé, fizeram Boletim de Ocorrência no dia seguinte e após isso emcaminharam a criança a exames no Instituto Médico Legal de Sobral. O menino vai precisar tomar medicações e coquetéis para se prevenir de doenças sexualmente transmissíveis.

"O que nos chocou bastante foi que no BO alguém, na própria delegacia, disse que a escola já sabia que um dos indivíduos tinha antecedentes por problemas sexuais. Cobramos aos diretores da insituição detalhes sobre a contratação deste funcionário. A escola negou que tinha a informação. Em nenhum momento negamos a veracidade do que a criança estava falando. Fomos ao IML e em seguida para o hospital regional. Acompanhamos tudo", enumerou a conselheira Ana Ligia Bastos.

Segundo o Conselho, cabe ao órgão resguardar os direitos da vítima, acionando outras autoridades responsáveis, como o Ministério Público. Ana Lígia revelou também que o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) da cidade estão sem psicólogos há 6 meses.

A vítima contou ao Conselho Tutelar que foi coagida a não contar nada a ninguém. "Esse é o nosso segredo. Sabemos a placa do carro da sua mãe. Se você disser a ela vamos sequestrá-las ou matar você", diziam os abusadores. A criança pergunta a mãe a todo momento se "é um herói" e se "os tios vão ser presos mesmo".

O clima na cidade de 50 mil habitantes é de muito abalo. Nenhum coordenador, professor ou aluno comenta o caso. A escola informou, em nota, que "em face de fatos que supostamente teria acontecido no ambiente escolar, está contribuindo com as autoridades para que tudo seja esclarecido". A instituição disse ainda que está conduzindo apurações administrativas e que vem se solidarizando com a família da criança. A mãe da vítima conta que não confia mais na instituição, que tem 60 anos.

Outras mães de filhos que estudam lá relatam que o clima é de pânico, e que as crianças temem voltar às aulas, que inclusive correm normalmente. "Ele não quer vir, diz que o tio mau está aí dentro. Ele tem vergonha de usar a farda da escola, coisa da qual ele tinha orgulho. Acorda assustado a noite com muito medo. E eu nao sei mais o que fazer. E a escola trata como se tudo tivesse bem, e não tá. Se eu pudesse eu ia embora, não nos sentimos mais seguros nem acolhidos", frisou outra mãe de um aluno da escola.

Uma fonte que não quis se identificar destacou que, no entanto, a assistência à família da vítima tem sido dada, de fato, pela fábrica de sapatos da cidade, onde os pais da criança trabalham. A mãe da criança apela para que outras mães tenham coragem de denunciar crimes do tipo. "Não se calem por medo ou por vergonha, isso não pode ficar impune", desabafa.

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