Eleitores votam sob proteção de patrulhas do Exército

Presença ostensiva de tropas federais não diminui medo. Em territórios dominados pelas facções criminosas, militares do Exército Brasileiro e homens da força de segurança do Estado foram convocados para reforçar a segurança. Apesar de não haver registro de crimes ligados a essas organizações no dia das eleições, a população continuou a se sentir refém

Escrito por Messias Borges , messias.borges@diariodonordeste.com.br

Nem a presença das tropas federais em território cearense foi suficiente para tranquilizar o eleitor. A sensação de insegurança com a violência e o temor com as facções criminosas permaneceram em cidadãos que foram às urnas, no domingo (7), apesar do desfile de caminhões e militares do Exército Brasileiro e da presença de composições das forças de segurança do Estado.

Em pontos críticos de Fortaleza - no tocante a conflitos entre organizações criminosas e episódios de violência - durante a votação se constatou um medo incontrolável. Diante desta situação, a melhoria na Segurança foi um pedido recorrente da população.

Uma empregada doméstica (que pediu para não ser identificada), moradora do bairro Jardim Iracema, revelou o pavor de ter que ir às Goiabeiras, na região da Grande Barra do Ceará, para exercer seu direito democrático. Em uma comunidade, a facção Comando Vermelho (CV) domina o tráfico de drogas; na outra, quem manda é o grupo Guardiões do Estado (GDE) - o que fica claro pelas pichações dessas três letras nos muros do local onde a mulher vota, a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Fernando Cavalcante Mota.

A mulher e a filha já foram expulsas da comunidade uma vez, por serem identificadas como moradoras de outra região.

“Eu venho morrendo de medo, por conta dos acontecimentos. No bairro onde eu moro, eles são inimigos. Você mora em um bairro, não é envolvida com nada, mas você não pode andar em outro bairro. Eu acho isso muito injusto com o cidadão”, lamenta
.

A presença de ao menos seis militares do Exército, nos arredores da Escola, não foi determinante para a empregada doméstica. Segundo ela, a tropa garante a segurança apenas do local de votação, mas não do perímetro em volta: “É aqui. Dali para frente, não tem nada. Só quem guarda a gente é Deus”.

Apesar do receio de ser visto por “olheiros”, outro homem (que não quis se identificar) disse que traficantes de drogas mandam na comunidade Babilônia, no bairro Barroso, apesar da base fixa da Polícia Militar instalada em frente ao equipamento de educação.

Foi exatamente lá que dezenas de famílias foram expulsas por ordem da facção GDE, por suposta simpatia ou parentesco com criminosos do CV, no início deste ano. A Polícia, então, aumentou o patrulhamento na comunidade e cravou a base fixa. “Melhorou, tinha tiroteio, morte aqui direto. Mas eles (traficantes) continuam mandando, fazem o que querem ainda”, afirma.

Outra empregada doméstica criticou as propostas dos candidatos para a Segurança Pública: “Eles se preocuparam mais em debater a vida um do outro, do que falar verdadeiramente o que eles podem fazer. Você não pode sair de casa em certa hora, se você passa na rua, tem que baixar os vidros do carro. Então, a segurança é zero”.

Exército

Em locais de votação na Barra do Ceará, Jardim Iracema, Barroso e Sapiranga, se podia ver tropas nacionais que vieram ao Ceará por decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE). Na maioria dos endereços, os caminhões apenas passaram, os militares não desceram e as composições seguiram o itinerário.

Um soldador criticou a convocação do Exército para realizar a segurança do pleito eleitoral. “Nem precisava. Tem muitas pessoas com armas que derrubam um helicóptero. Vai servir pra quê? Quanto mais Polícia, mais criminalidade. Quanto mais trabalho e projeto, vai ter algo diferente”, indicou.

Já o farmacêutico José Irton viu com bons olhos o reforço enviado ao Ceará: “Tudo é viável para proteger o voto do cidadão, para que eles não votem no medo. A gente sabe que as facções e o crime organizado também estão embutidas nas eleições”.

Opinião

Luiz Fábio Paiva
Sociólogo

O poder das facções

O domínio de facções criminosas está diretamente relacionado à irresponsabilidade dos governos estaduais e do poder judiciário diante do problema. Agora, infelizmente, o que restou foi correr atrás de uma situação que poderia ter sido evitada, com ações estratégicas e políticas de garantia de direitos que alcançassem as populações mais pobres. Infelizmente, nada na atual campanha eleitoral aponta para mudança desse panorama, com promessas absurdas para situações que afetam a vida milhares de pessoas.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados