'Caso Dandara': réus confessam agressão, mas alegam não ter intenção de matar

Acusação aponta que os cinco acusados "perderam-se em contradições". Julgamento pode ser concluído na madrugada desta sexta (6), prevê MP-CE.

Escrito por Redação ,

Os cinco réus já ouvidos, até a tarde desta quinta-feira (5), por crime de LGBTfobia pela morte da travesti Dandara dos Santos, "perderam-se em contradições", de acordo com a análise do advogado Hélio Leitão, assistente da acusação do Ministério Público do Estado do Ceará (MP-CE). Agora, o julgamento com Júri Popular terá falas da acusação e, em seguida, da defesa.

Todos os cinco confessaram as agressões, mas alegaram não haver intenção de matar. “Todos são responsáveis pela morte de Dandara, todos acusados agiram por motivação homofóbica, todos agiram com crueldade. A tese acusatória tem provas, áudios, laudos processuais. Os cinco se perderam em contradições. Chegamos ao momento dos debates com a tese acusatória mais fortalecida”, disse Hélio Leitão.

São julgados hoje pela morte da travesti Dandara:

  • Francisco José Monteiro de Oliveira Júnior, conhecido como 'Chupa Cabra';
  • Jean Victor Silva Oliveira;
  • Rafael Alves da Silva Paiva (o 'Buiú');
  • Isaías da Silva Camurça, o 'Zazá';
  • Francisco Gabriel Campos dos Reis, o 'Didi' ou 'Gigia'. 

"Eu quero pedir perdão a toda família" 

Francisco José Monteiro de Oliveira Júnior, o primeiro réu ouvido logo na abertura do julgamento às 9h55min, na 1ª Vara do Júri julga, no Fórum Clóvis Beviláqua, descreveu a ação. "Eles comentaram que pegaram um cara roubando. Eu fui com eles. Cheguei lá e a vítima já estava morta (...) Eu dei dois tiros", disse.

Questionado sobre o motivo de ter atirado, José Monteiro argumentou: "menino novo vai pela cabeça dos outros. Ela já estava morta. Cheia de sangue e tinha uma pedra ao lado". Diante de alguns familiares de Dandara, o primeiro réu ouvido pediu desculpas: "eu quero pedir perdão a toda família. Hoje, eu sigo Jesus e aprendi que a gente tem que ter amor no coração".

"Não cheguei em momento algum para matar"

O segundo réu, Jean Victor Silva Oliveira, também admitiu as agressões. Trabalhando como ajudante de pedreiro, junto com o pai, em uma residência vizinha ao local onde aconteceu crime, Jean Victor Silva avistou a movimentação e buscou identificar o motivo. "Falaram que ela estava roubando e não aceitam isso lá. Eu nem sei o que passou na minha mente para fazer isso". 

Sem antecedentes criminais antes da morte de 'Dandara', Jean Victor comentou: "não cheguei em momento algum para matar". Após agressões com uma tábua de madeira, Jean Victor disse que deixou o local.

Julgamento deve ser concluído na madrugada de sexta, prevê MP-CE

O julgamento de cinco dos oito acusados pela morte da travesti Dandara dos Santos ocorre um ano e um mês após o assassinato, e pode ser concluído na madrugada desta sexta-feira (6), segundo previsão do Ministério Público do Estado. O caso ganhou repercussão internacional pela forma cruel em que Dandara foi morta - através de chutes, pedradas e tiros - e pela divulgação das imagens do crime na internet.

Eles foram denunciados pelo Ministério Público do Ceará por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, meio cruel e uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima) e na corrupção de menores.

Outros três acusados estão fora do julgamento de hoje

Júlio César Braga Costa também chegou a ser preso e indiciado pela participação na morte de Dandara, mas recorreu da decisão e aguarda a análise do recurso. A defesa do acusado questionou a qualificação do crime. De acordo com o advogado Sérgio Ângelo, Júlio César participou apenas das agressões contra a travesti e não estava presente no momento em que foram efetuados os disparos que causaram a morte da vítima.

Outros dois acusados de envolvimento no crime, Francisco Wellington Teles e Jonatha Willyan Sousa da Silva, o 'Lourinho Briba', continuam foragidos.

Além dos oito adultos, quatro adolescentes foram apreendidos sob a suspeita de participar do assassinato da travesti. De acordo com o Ministério Público do Ceará (MPCE), os jovens receberam as medidas socioeducativas perante o Juízo da Vara da Infância e da Juventude de Fortaleza.

Manifestação

Enquanto o julgamento acontece a portas fechadas, um grupo de ativistas LGBT realiza um ato em frente ao local. Eles pedem por justiça não apenas para o caso de Dandara, como também para os outros 32 assassinatos cometidos contra a população LGBT no Ceará apenas no ano passado, de acordo com levantamento realizado pelo Centro de Referência LGBT Janaína Dutra.

O grupo pede ainda a instauração de políticas públicas de proteção aos LGBTs. "A gente tá aqui pedindo que o governo do Estado se comprometa em executar políticas públicas efetivas concretas para a garantia de cidadania, para a garantia do direito a vida das pessoas LGBT", afirmou o ator e militante Ari Areia.

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