Mais 10 torres de GMF devem ser entregues até o fim do ano

A instalação de torres de Segurança não inibiu a atuação de grupos criminosos, na periferia da Capital, segundo os moradores. Os entrevistados dizem ainda não ter percebido as melhorias

Escrito por Messias Borges - Repórter ,

O anúncio de um projeto de Segurança, desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Fortaleza (PMF), para atender bairros da periferia da Cidade, foi um alento para os moradores dessas áreas, castigados pela violência urbana diariamente. Entretanto, nas duas localidades onde foram instaladas as primeiras Células de Proteção Comunitária, a sensação da maioria da população é que os equipamentos não cumpriram tudo o que prometeram.

> Guardas utilizam armas particulares
 
Símbolo do projeto, as torres foram lançadas no Jangurussu, no dia 28 de fevereiro deste ano; e nas Goiabeiras, no último dia 19 de junho. As Células integram o Programa Municipal de Proteção Urbana (PMPU), e possuem três diretrizes de prevenção. Na última, relacionada diretamente com a Segurança Pública, foram prometidos, em cada equipamento, 60 agentes, sendo 40 guardas municipais e 20 policiais militares, se revezando em quatro turnos e trabalhando em viaturas, motocicletas; bicicletas e a pé; e videomonitoramento com 40 câmeras e um drone.

A presença fixa dos guardas e militares, na comunidade, é bem-vista pela população. Mas não é suficiente para oferecer liberdade aos cidadãos. Assim que a equipe de reportagem chegou às Goiabeiras, já foi informada pelos moradores sobre o poderio dos criminosos. “Não gosto de dar entrevista, porque aqui é tão...”, fala uma comerciante, que é interrompida por um colega de profissão: “Só falamos o básico. Sei que, no pedaço que me pertence, tem que amenizar as palavras. Dou uma entrevista, a pessoa vê e pensa o quê? Pensa que eu tô comentando alguma besteira do bairro”, ponderou.

Quando o assunto é Segurança Pública, as pessoas pedem para não se identificar, com medo de serem mais uma vítima da violência. “Tem esses seguranças (guardas municipais e policiais), mas é complicado. Temos medo de falar uma coisa”, diz a comerciante.

Tiroteio

A torre da Guarda Municipal de Fortaleza (GMF) não intimidou uma ação criminosa, na noite do último 22 de junho, três dias após a inauguração do equipamento. A cerca de 100 metros dali, uma quadrilha rival da facção que prevalece na comunidade chegou em um carro e iniciou um tiroteio, que deixou quatro feridos. 

Moradores relataram que não havia nenhum agente de segurança, na Célula de Proteção, naquele momento. Um suspeito foi preso, após a Polícia Militar realizar algumas diligências na região.

O vice-prefeito de Fortaleza, Moroni Torgan, que está à frente do projeto, acredita que o controle foi restabelecido na área. “A Célula das Goiabeiras tem menos de uma mês de inauguração, mas já enfrentou uma situação difícil, bastante noticiada, que resultou em ferimentos a bala em quatro pessoas. Nossa ação foi pronta. Em menos de cinco minutos chegou uma viatura e passou a garantir a área. Mantivemos o controle e os feridos já estão em casa”, declarou.

Um educador físico, que conversou com a reportagem, afirmou que acredita que a Célula será significativa para reverter a sensação de insegurança, somente no local onde está instalada, ao lado da Areninha da Barra do Ceará. “Não vejo intensificação do patrulhamento nas outras ruas do bairro, para inibir ações criminosas. Quando eles querem cometer um crime não tem negócio de Polícia ou de Guarda Municipal. Chegam e fazem mesmo”, ressaltou.

Já o comerciante, avalia que faltam abordagens feitas pelos policiais. “Têm abordagens, mas são poucas. Eles estão aqui para fazer o trabalho deles, tem muita gente irregular aqui. Com abordagem, é melhor. Tem gente armada na esquina”, revelou.

No momento em que a reportagem esteve nas Goiabeiras, na manhã da última quarta-feira (4), a única viatura da GMF que deveria estar fazendo rondas no bairro, enquanto outra estava estacionada ao lado da torre, tinha sido deslocada para um protesto realizado nas proximidades do Paço Municipal, no Centro da Capital, segundo os agentes. 

O vice-prefeito salientou que o patrulhamento da Guarda é determinado por um “sistema de sorteio, de rotas em motos, via computador (denominado randômico), que torna imprevisível a passagem da patrulha”. Os agentes no local não quiseram comentar o sistema de patrulhamento.

Desfalques

Quatro meses após a chegada da Célula de Proteção Comunitária no Jangurussu, os moradores entrevistados dizem ter visto melhorias na segurança da região, mas sentem falta de outras partes do projeto, prometidas pela Prefeitura. “Não resta dúvida que com a Segurança mais perto, a presença dos criminosos é inibida. Mas foi frisado no início que teria drone, bicicletas, e já tiraram. Só tem a torre e os agentes”, aponta um empresário.

“Pelo menos assalto diminuiu. Era demais. Agora a Guarda passa todos os dias, de carro, moto. De bicicleta, não”, comprovou um comerciante que mora no Grande Jangurussu. A reportagem também não viu nenhuma bicicleta à disposição dos agentes, nas duas Células. Os profissionais alegaram que os equipamentos estavam em manutenção.

O drone, apesar de ter sido apresentado na inauguração da primeira torre, não está sendo utilizado no videomonitoramento das Células. “Estamos seguindo a legislação e treinando minuciosamente as pessoas que vão operar o equipamento. A urgência está em nossas mentes, mas nosso trabalho é sermos minuciosos na proteção da vida”, disse Moroni.

Atrasos

A instalação de mais três Células de Proteção tinha sido anunciada pela Prefeitura, para acontecer até o fim do primeiro semestre deste ano, mas não foi entregue. Os equipamentos deveriam estar funcionando no Vila Velha, Canindezinho e na Comunidade do Dendê, no Edson Queiroz.

Moroni Torgan afirmou que uma torre já está sendo construída no Vila Velha e prometeu, agora, a implantação de dez Células, até o fim de outubro deste ano. Além das três já anunciadas, as outras estão previstas para serem instaladas na Avenida Dioguinho, no Caça e Pesca; na Avenida Washington Soares, na Grande Messejana; no Tancredo Neves; no Mondubim; no Bonsucesso; no Antônio Bezerra; e na Barra do Ceará.

Outra promessa que atrasou foi o aplicativo ‘Olho Vivo’, um canal de denúncias anônimas para a população atendida pelo projeto. Prevista para estar disponível 15 dias após a inauguração da torre do Jangurussu, a ferramenta ainda está em testes, segundo o vice-prefeito. “Todo cuidado deve ser tomado, porquanto envolve a vida dos usuários. A segurança operacional deve ser plena”, argumentou Torgan.

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