Líder da GDE teria usado ‘laranjas’ para desvios

Extrato bancário de tia de Deijair, apreendido pela Polícia, pode levar a um desdobramento da investigação de chacina

Escrito por Redação ,

A Polícia Civil e o Ministério Público do Ceará (MPCE) apuram o uso de terceiros (‘laranjas’) por Deijair de Souza Silva, de 29 anos, para desviar o dinheiro proveniente do tráfico de drogas no Estado, após a descoberta de R$ 135 mil reais em uma conta bancária no nome de uma tia dele. ‘De Deus’, como é conhecido, é apontado como membro da cúpula da facção criminosa Guardiões do Estado (GDE) e suspeito de ser um dos mandantes da ‘Chacina das Cajazeiras’, que deixou 14 pessoas mortas e foi a maior matança do Ceará.

‘De Deus’ foi preso em fevereiro deste ano, em sua residência, no bairro Cocó, em Fortaleza. No imóvel, os investigadores apreenderam uma pistola calibre Ponto 45, 75 munições do mesmo calibre e dois veículos Toyota Corolla, como divulgado pela Polícia. Mas outro material apreendido na diligência chamou atenção da Polícia e pode levar a um desdobramento da investigação: um extrato bancário de R$ 135 mil no nome da tia de Deijair, que trabalhava como empregada doméstica no próprio apartamento do suspeito.

Na última terça-feira (14), o Ministério Público do Ceará (MPCE) emitiu parecer à Justiça em que afirma que a prova colhida “sinaliza para a utilização de sua tia/empregada visando a guarda de valores de origem ilícita”. Para os investigadores, o extrato indica que mais ‘laranjas’ podem ter sido utilizados por ‘De Deus’ e pela GDE para a lavagem de dinheiro do tráfico de droga.

Segundo o promotor Ricardo Machado, da 2ª Promotoria de Justiça Auxiliar das Promotorias de Justiça do Júri da Comarca de Fortaleza, “esse dinheiro está bloqueado e será depositado em uma conta judicial a favor do Estado, caso ela (tia de Deijair) não prove a origem do valor”.

No inquérito criminal, a Polícia Civil afirma que a vida luxuosa que o suspeito levava é incompatível com os rendimentos da atividade profissional informados por ele em depoimento – cerca de R$ 4 mil por mês, por comercializar frutas e verduras na Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa), em Maracanaú – e ainda que os bens seriam oriundos de dinheiro ilícito.

Uso de veículo

Na manifestação, o MPCE também solicita à Justiça, a pedido do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que um dos veículos apreendidos no condomínio onde Deijair morava seja entregue à Especializada, para auxiliar em investigações e no combate a crimes. No pedido, o órgão cita que outros bens advindos de atividades ilícitas já foram entregues para autoridades policiais, para auxiliar no exercício de suas funções, como o helicóptero utilizado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para matar os líderes da facção, Rogério Jeremias de Simone, o ‘Gegê do Mangue’, e Fabiano Alves de Souza, o ‘Paca’, em Aquiraz, em fevereiro deste ano.

O Ministério Público também alega que “o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, recentemente, que a utilização pública de bens apreendidos em razão da prática de crimes não está adstrita somente àqueles constritos no âmbito de investigações referentes ao tráfico de entorpecentes, sendo plenamente aplicável, de forma analógica, a Lei nº11.343/06 (da Presidência da República) a outras situações”.

Histórico

A ficha criminal de Deijair de Souza é extensa, com passagens pela Polícia por crimes como tráfico de drogas, homicídios, roubo, entre outros. Ele também é alvo da Operação Expresso 150, da Polícia Federal (PF), que investiga a venda de liminares nos plantões do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE). Ele teria sido beneficiado, em 2013, junto com outros traficantes, com uma ordem de soltura expedida pelo desembargador Carlos Rodrigues Feitosa. O magistrado teria recebido R$ 150 mil pela concessão do habeas corpus.

Deijair foi preso novamente cinco anos depois da soltura, sob suspeita de ser um dos mandantes da ‘Chacina das Cajazeiras’. O tempo que passou em liberdade foi suficiente para fundar, junto com outros criminosos, a GDE, que viria a se tornar uma das facções responsáveis pelo aumento dos homicídios no Ceará, anos depois. 

Após a descoberta das vendas de decisões envolvendo o desembargador, as participações de outros quatro magistrados do TJCE e dezenas de advogados foram evidenciadas. O processos referentes à investigação tramitam no STJ e no TJCE.

A reportagem procurou a defesa de Deijair, que pediu para ligar depois e não atendeu às ligações seguintes.

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