‘Laranja’ de delator da Lava Jato é preso pela PF no Ceará

Em todo o País, oito pessoas foram presas na Operação, sendo cinco preventivamente e três temporariamente

Escrito por Messias Borges - Repórter ,

Um “laranja” do delator da Lava Jato, o doleiro Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como ‘Ceará’, foi preso temporariamente, em Fortaleza, durante a deflagração da Operação Efeito Dominó, pela Superintendência Regional da Polícia Federal (PF) do Paraná, ontem. A ação policial tinha o objetivo de combater a lavagem de dinheiro do tráfico internacional de drogas. 

Um mandado de busca e apreensão também foi cumprido na capital cearense. A reportagem apurou que equipes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Superintendência Regional da PF no Ceará, cumpriram as ordens judiciais. 

Em todo o País, oito pessoas foram presas na Operação, sendo cinco preventivamente e três temporariamente, e 18 mandados de busca e apreensão foram cumpridos. Cerca de 90 policiais federais participaram das diligências nos estados do Ceará, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e São Paulo.

O alvo principal da ‘Efeito Dominó’ era ‘Ceará’, apontado pela PF como operador financeiro (doleiro) de uma organização criminosa, responsável por lavar dinheiro do tráfico internacional de drogas. Ele foi preso preventivamente ontem, em João Pessoa, na Paraíba - onde também foi cumprido um mandado de busca e apreensão pelos policiais federais.

Investigado também na Operação Lava Jato, Carlos Alexandre firmou acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e revelou ter repassado dinheiro para políticos conhecidos nacionalmente.

O delegado da PF no Paraná, Roberto Biasoli, destrinchou, em coletiva de imprensa, a Operação Efeito Dominó, sem citar o nome dos presos: “Em Fortaleza, nós temos o ‘laranja’, secretário desse alvo que fez a colaboração com a ‘Lava Jato’. Desde aquela época, ele já trabalhava como secretário desse cidadão e até hoje se mantém em atividade. Então, ele também sofreu prisão temporária, para esclarecer alguns detalhes, com relação a propriedades que estão no nome dele, que a gente sabe que não é dele”, disse o delegado.

A quadrilha desarticulada pela PF trabalhava para Luiz Carlos da Rocha, o ‘Cabeça Branca’, um dos maiores narcotraficantes da América do Sul, que foi preso em Sorriso, no Mato Grosso, em 2017, durante a deflagração da Operação Spectrum, da PF. Ele foi procurado por 30 anos pela Polícia Federal e pela Interpol e fez várias cirurgias plásticas para modificar o rosto e permanecer foragido.

Entre os investigados detidos ontem também estão um homem condenado por homicídio, que estava tentando fugir para os Estados Unidos, onde moram familiares dele, e foi encontrado em Recife, Pernambuco. E um doleiro que tinha a mesma atividade de ‘Ceará’ dentro da organização criminosa, que foi capturado em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

Delação

‘Ceará’ trabalhava para o doleiro Alberto Youssef e já havia sido detido na 1ª fase da Lava Jato. Com o acordo de delação premiada, ele revelou à Polícia, em 2014, que entregou R$ 300 mil para o ex-presidente da República Fernando Collor de Mello (PTB-AL), em pacotes de notas de R$ 100. O depoimento foi homologado pelo STF em 2015.

O mesmo valor de R$ 300 mil foi entregue ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), segundo ‘Ceará’. Outros políticos que teriam recebido dinheiro ilegalmente do doleiro são os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), conforme a delação premiada do doleiro.

O delegado da PF no Paraná Igor Romário de Paula destacou que a atuação de ‘Ceará’ demonstra “a demanda que existe no País para operadores que providenciam a lavagem de dinheiro dos mais diversos crimes”. Segundo ele, ‘Ceará’ desrespeitou o acordo de delação premiada com a PGR, homologado pela Justiça, e continuava cometendo crimes.

De acordo com a PF, a Operação Efeito Dominó recebeu esse nome em “alusão ao fato de existir um efeito em cascata no tráfico internacional de entorpecentes pois, por se tratar de crime que visa lucro, o dinheiro ilícito amealhado, especialmente no vultoso volume identificado nesta operação, necessita de forte estrutura de lavagem de dinheiro, consistente na movimentação de recursos em espécie no país com a intervenção de operadores financeiros (‘doleiros’)”. 

Conforme a PF, “a referência também se baseia na identificação dos procedimentos sobrepostos de lavagem de dinheiro identificados, sempre com o objetivo de ocultar a origem e o real beneficiário dos recursos provenientes do tráfico internacional de drogas”, completou.

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