Governo licita aluguel de veículos blindados

O edital exige que a blindagem seja, no mínimo, III-A, ou seja, eficiente contra tiros de submetralhadora e fuzil

Escrito por Emanoela Campelo de Melo - Repórter/ Márcia Feitosa- Editora ,
Legenda: Um policial civil disse que o detento que ordenou a Chacina do Benfica foi identificado. O investigador diz que é preciso bloquear o sinal de celulares nas penitenciárias e dar respostas à sociedade sobre a violência
Foto: FOTO: REINALDO JORGE

Diante da violência que assusta os cearenses, a Casa Civil tornou púbico, no Diário Oficial de segunda-feira (12), o interesse do Gabinete do Governador de alugar veículos blindados. O contrato já existia, no entanto, foi reformulado, porque desta vez são requisitadas blindagens com eficiência superior as dos veículos que já eram utilizados pela cúpula do Governo do Estado.

A blindagem exigida no edital é, no mínimo a III-A, que aguenta tiros de submetralhadora 9 milímetros e do revólver Magnum calibre 44. A nível III aguenta tiros do Fuzil Automático Leve (FAL), calibre 7.62. Um servidor da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) conversou com a reportagem e disse que a Pasta não dispõe de blindagens especiais.

"A partir do nível III-A é uma blindagem super-reforçada. Nem os carros oficiais do Estado, nem os particulares são reforçados com essas chapas no Ceará. Todos recebem a blindagem que segura disparos de armas curtas e de calibre inferiores", afirmou.

A justificativa para a locação dos veículos explicitada no edital é "garantir a segurança e integridade pessoal do Sr. Governador do Estado e de seus familiares, do vice-governador, assim como de autoridades governamentais em visita oficial ao Estado". Ainda conforme o documento, atualmente, o Gabinete não dispõe destes veículo na frota.

As propostas de locações começaram a ser acolhidas, ontem, e vão até o próximo dia 26. O prazo do contrato é de 12 meses, contabilizados a partir das entregas dos automóveis, que devem ser realizadas no Palácio da Abolição. O outro contrato do Governo para a locação de carros com um tipo de blindagem inferior venceu no último dia 5.

O edital cita as especificações dos novos automóveis que atenderão à cúpula do Governo e seus familiares: modelo sedan, no mínimo 1.800 cilindradas, quatro portas, transmissão automática, ar-condicionado, direção hidráulica, banco de couro, som para CD e MP3, fumê, vidros e travas elétricas, airbag, capacidade para cinco passageiros, seguro completo incluindo terceiros, franquia reduzida, quilometragem livre.

O Gabinete do Governador reforça a necessidade da locação dos novos veículos, dizendo que se dá "em face a necessidade de proteção às autoridades mencionadas, principalmente em deslocamentos por locais avaliados como 'de risco' a integridade física desses".

Chacina

Uma fonte da Polícia Civil, que conversou com a reportagem, disse que o detento que ordenou a Chacina do Benfica é custodiado na Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto (CPPL II). Segundo o investigador, o interno é conhecido como 'Marquim'.

"Em posse de um celular ele vingou a morte de alguns familiares. Não foi briga de torcida, não tem nada a ver com futebol. Foi uma questão que começou no Alto da Paz, onde ele e o atual desafeto moravam. Mas o que quero pontuar é que o problema não é o 'Marquim' ou o motivo, mas a recorrência dessas chacinas. A falta de limites para os criminosos. Como é possível que o bloqueio do sinal de celular nos presídios não seja colocado em prática? A sociedade merece uma resposta que está demorando demais a chegar", afirmou.

O investigador disse também que circularam recentemente nas redes sociais ameaças ao alto escalão do Governo e a políticos, mas não está confirmado que sejam verdadeiras. "Está sendo apurado se alguma procede, mas pelo visto o governador não quer dar sorte ao azar, e preferiu locar os carros com blindagem reforçada. Infelizmente, é uma medida que não ajuda em nada ao cidadão, que continuará desprotegido no coletivo, em sua moto, bicicleta ou carro popular", considerou.

O policial civil afirmou que o combate à violência do Estado precisa ser revisto. "Pelo menos até resolver essa onda de assassinatos, muitas vezes cometidos por meios cruéis, é preciso tomar alguma medida mais enérgica. Essa guerra de facções é uma questão que precisa ser resolvida e encerrada. É preciso mudar de estratégia urgente, porque o que a SSPDS insiste em colocar em prática não está funcionando, e não precisa ser especialista para ver isso", pontuou

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