GDE: a facção que arregimenta adolescentes e adultos jovens

Segundo informações de investigadores, parte da organização concorda com os ataques e outra não

Escrito por Redação ,

Uma facção descentralizada, que tem uma liderança em cada bairro, atua fortemente no tráfico de drogas, em roubos de veículos e de residências e principalmente, a facção que aceita adolescentes e adultos jovens com a promessa de uma vida promissora no crime. Assim os Guardiões do Estado decidiram que não seriam mais uma torcida organizada e que fariam uma espécie de 'associação' de criminosos, que agiam no Conjunto Palmeiras.

Com um começo não muito promissor, a GDE foi descoberta pelo Comando Vermelho e passou a agir de forma mais incisiva, inclusive na onda de ataques anterior, ocorrida em abril de 2016, quando um carro-bomba foi colocado em frente à Assembleia Legislativa do Estado.

GDE

A facção considerada nova foi criada por dissidentes de uma torcida organizada, no Conjunto Palmeiras

"A facção é nova e formada por gente nova e inconsequente. Até no crime, com o tempo as pessoas vão criando um discernimento, um cuidado que os integrantes da GDE ainda não tem. Em sua maioria são adolescentes e adultos jovens, que não tiveram acesso a educação e a outros serviços básicos. Eles são, infelizmente, o produto de uma vida totalmente desregrada e sem perspectiva nenhuma de ascensão financeira, a não ser pelo crime", afirmou um servidor da Secretaria de segurança Pública, que não quis se identificar.

Um oficial da PM, que falou com a reportagem, disse que duas pessoas detidas, ontem, confessam os ataques e dizem que, são obrigados a cumprir as ordens da dadas pelo comando da organização. "O que eles diziam era que o 'salve' vindo presídio deveria durar 48h e que todo membro tinha que honrar a facção. Eles dizem que quem coloca os ataques em prática sobem na hierarquia da GDE e é isso que os estimula e participar"

Segundo o investigador da SSPDS, o Comando Vermelho foi o primeiro grande aliado da GDE. "Eles têm um nível de organização diferente do PCC. Ao PCC não interessa aliado que não tenha poder, já o Comando Vermelho é mais permissivo. Foi quando eles deixaram de ser criminosos de bairros e passaram a se sentir parte do que eles consideram grande. Foi quando eles sentiram que já não eram mais uma gangue, mas uma facção".

Com o racha nacional entre o PCC e o CV, as outras facções também foram afetadas e sentiram os reflexos. Aos poucos a parceria entre CV e PCC foi se desfazendo e a facção local se aproximou do PCC dentro do presídio. "Está sendo investigado até se o líder do FDN morto aqui não veio para dar algum apoio logístico ou com armamento às outras facções. Volto a dizer: a GDE não são aliada do PCC ou FDN. Apenas têm um inimigo em comum. O que existe é apenas uma aproximação", disse o policial.

Ordens desencontradas

Relativamente nova, a GDE não têm um líder máximo e as várias pessoas com poder de liderança podem inclusive estar dando ordens desencontradas, já que parte da organização concorda com os ataques e outra não. "Eles começaram a agir de forma aleatória. Não têm nada planejado. Mesmo que partam da mesma facção, não são ações orquestradas", explicou.

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Daniel da Silva Menezes, o 'Daniel Sam', 21, é membro do baixo escalão da GDE e foi preso na residência dele

De acordo com um outro policial que participa das operações de combate aos ataques, três lideranças da GDE no Vicente Pinzón, que estão presas e já foram identificadas, são responsáveis por dar início às ordens de incêndio contra os ônibus.

A informação acerca do trio dada pelo policial ressalta a facilidade dos mandantes permanecerem no poder e interferirem na estabilidade da Capital, mesmo estando encarcerados. "Esses três não foram presos recentes. Os bandidos nas prisões que têm acesso ao celular comandam do mesmo jeito que se estivessem soltos. A ordem vem de dentro para fora e os que estão livres executam", contou.

A fonte disse que em janeiro deste ano, um desses presos seria resgatado da Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Jucá Neto (CPPL III), em Itaitinga. A fuga aconteceria com o apoio de alguns residentes do Morro Santa Terezinha. No entanto, os agentes conseguiram frustrar a tentativa. Depois disso, sob atenção maior está entre os transferidos que se sentem 'oprimidos no Sistema', como as cartas das facções deixadas nos veículos queimados afirmam.

Questionada sobre as transferências terem motivado os ataques, a secretária da Justiça e Cidadania (Sejus), Socorro França, confirma que 360 presos foram realocados. No entanto, que a movimentação dos internos tenha motivado as ações criminosas que chocam a população desde a última quarta-feira (19).

Capturado

Por volta das 10h de ontem, um componente do GDE foi encontrado na Rua Álvaro Costa, do Vicente Pinzón. Daniel da Silva Menezes, o 'Daniel Sam', 21, estava em sua residência portando um revólver, carregador e munições de uma pistola 380 e 53 gramas de cocaína. Ele foi encaminhado ao 9º DP.

Conforme o soldado Jefferson Lima, da 2ª Companhia do 8º BPM, o suspeito já respondia a uma tentativa de homicídio e porte ilegal de arma. Considerado pelos policiais como membro do baixo escalão da GDE, 'Daniel Sam', revelou aos militares que é um dos membros que não concorda com os ataques. "Ele diz que é um dos que é contra porque sua família depende dos transportes públicos. Também disse achar que os ataques se repetirão nos próximos dias, mas em menor escala", afirmou.

Bando ia incendiar empresa

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Os coqueteis molotov foram deixados pelos criminosos durante a fuga e levados para o 13ºDP. Foto: Cid Barbosa

Dez coquetéis molotov que seriam usados em um ataque à empresa de ônibus Viação Dragão do Mar, no bairro Passaré, foram apreendidos, na madrugada de sexta-feira (21). Na ocasião, seguranças do estabelecimento perceberam a chegada do grupo com os artefatos e conseguiram evitar o crime. Os suspeitos fugiram sem levar o material.

Logo após a fuga, policiais militares chegaram no local, apreenderam a mistura incendiária e registraram a ocorrência no 13ºDP (Cidade dos Funcionários). Um veículo Volkswagen Gol também foi apreendido. Ninguém foi preso.

Caminhão

Um caminhão da concessionária de energia Enel Distribuição Ceará foi queimado, também na sexta-feira (21), no bairro Pajuçara, em Maracanaú. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), a PM e o Corpo de Bombeiros Militar do Ceará foram acionados imediatamente para atender o acontecimento e não houve feridos.

A ação foi registrada na Rua Bárbara de Alencar, por volta das 9h da manhã. Segundo o delegado Vagner Jorge, plantonista da Delegacia Municipal de Maracanaú, dois homens interceptaram o caminhão da Companhia em uma moto, de modelo não identificado.

Com armas em punho, ordenaram que os funcionários interrompessem as atividades - dois dos três trabalhadores estavam realizando manutenção na fiação - e saíssem do local. Após a determinação, os suspeitos jogaram um galão com líquido inflamável na cabine do veículo e atearam fogo. Vagner Jorge define a atitude como um "ato de vandalismo e terrorismo",

A Enel, empresa proprietária do veículo, também se pronunciou sobre o assunto, por meio de nota. "Multinacional de energia com atuação em vários estados brasileiros, a Enel aproveita para ressaltar que repudia os recentes ataques à viaturas da Companhia ou qualquer outro ato de violência", acrescentou a distribuidora de energia.

De acordo com a delegada Ana Lúcia Moreira, o inquérito sobre o caso será aberto no intuito de capturar os suspeitos. A delegada afirmou que, nas investigações preliminares, foi identificada a suposta placa da moto usada pelos suspeito, mas que a Polícia ainda irá averiguar se as informações são verdadeiras.

Outros dois veículos da empresa foram atacados na última quinta-feira (20). As ações aconteceram no bairro Cidade dos Funcionários, sendo que um deles foi incendiado e o outro atingido por tiros. De quarta-feira (19) até agora, 23 ônibus foram alvos de incendiários. Fora os três veículos da Enel, outros sete veículos de outras Instituições foram atacados por criminosos.

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