Extermínio: PF prende civis, militares e um empresário

Escrito por Redação ,
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Força-Tarefa da Polícia Civil investigava vários crimes de morte. Ontem, veio a ordem para prender os suspeitos


Vinte pessoas foram presas, entre elas, 10 policiais militares, um funcionário da Justiça e um empresário, em uma complexa e fulminante operação desencadeada nas primeiras horas da manhã de ontem, pela Polícia Federal, em Fortaleza. Batizada de ‘Operação Companhia do Extermínio’, a ação teve como base legal o resultado de uma investigação sigilosa da Polícia Civil e do Ministério Público (MP) que já durava quatro meses. O alvo eram pessoas suspeitas de envolvimento em execuções sumárias.

De uma só vez, 155 policiais federais, das superintendências do Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, além do Comando Tático Especial (COT), de Brasília, saíram às ruas de Fortaleza, às 6 horas, para cumprir 21 mandados de prisão e outros 26 de busca e apreensão. Ao meio-dia a operação estava concluída e das 21 pessoas procuradas, apenas uma não foi encontrada e, até a noite passada, permanecia foragida.

Prisões

Um dos primeiros a ser capturados foi o ex-chefe do Comando do Policiamento da Capital (CPC), coronel PM Carlos Alberto Serra dos Santos, 50. A casa do oficial, na Barra do Ceará (Zona Oeste da Capital), foi cercada por volta de 6h30. O militar foi surpreendido mas não reagiu. Pacificamente se rendeu e foi encaminhado à sede da PF. Em seguida, as detenções de acusados e buscas domiciliares foram se sucedendo, sem violência.

Tiveram ainda a prisão temporária decretada pelo juiz Jucid Peixoto do Amaral, titular da Quinta Vara do Júri de Fortaleza, as seguintes pessoas: Sílvio Pereira do Vale Silva, 27, o ‘Pé de Pato’; Firmino Teles de Menezes, 48, empresário do ramo de madeireiras; Claudenor Ribeiro Alexandre, 26, o ‘Nonô’; Benevides Pereira Moura, o ‘Bené’, 36, pistoleiro e agiota; Gilvanir Castro Gomes, a ‘Vaninha’; João Gualberto de Sousa, 40, conhecido por ‘Doutor João’; Paulo César Lima de Souza, 31, o ‘Paulão’; Francisco de Sousa Vieira, 49, o ‘Chico Canindé’; Valdemar Gomes Cirino Filho, 32, funcionário do Fórum Clóvis Beviláqua, e ainda, o segurança Rogério do Carmo Abreu, 33.

Policiais

Além do coronel Serra, outros nove policiais militares foram detidos. São eles: Antônio da Silva Moraes, 29 (soldado), Marisvaldo de Oliveira Moraes, 27 (soldado), Francisco de Assis da Silva, 45, conhecido como ‘Coca’ (sargento); Daimler da Silva Santiago, 31 (soldado); Francisco José dos Santos, 39, o ‘Jacaré’ (cabo); Edimar Leite de Araújo, 30 (soldado), Pedro Cláudio Duarte Pena, 47 (cabo); José Nilton Silva dos Santos, 34, o ‘Niltinho do Gate’ (soldado); e Glaydston Gama Lopes, 27 (soldado). Todos foram recolhidos ao Presídio Militar.

SUMIU

Apenas um dos suspeitos não foi capturado e está sendo caçado

Dos 21 mandados de prisão preventiva expedidos pela Justiça, apenas um deles não foi cumprindo. O homem agora considerado fugitivo chama-se Antônio Ivanilson Soares Cunha, o ‘Nêgo Cunha’, que estaria implicado diretamente em vários crimes de pistolagem ocorridos, este ano, em Fortaleza. A Polícia preferiu não citar o nome dele, mas o Diário do Nordeste conseguiu obter a identificação dele no Fórum Clóvis Beviláqua.

“Esta pessoa agora está sendo procurada em todo o País. Já tomamos as devidas providências quanto a isto e, logo que ela for presa, nós informaremos”, disse o superintendente da Polícia Civil, delegado Luiz Carlos Dantas, ao concedera entrevista coletiva à Imprensa ao lado do secretário da Segurança Pública, Roberto Monteiro. Também participaram da coletiva o superintendente em exercício da PF no Ceará, Victor da Silva Arantes Júnior; o delegado Alcir Amaral Teixeira (que coordenou a operação policial), e ainda, o comandante-adjunto da PM, coronel Roberto Clayton Roseno Teixeira.

Mandados

O juiz Jucid Peixoto, que assinou os mandados de prisão e de busca e apreensão, disse ao Diário do Nordeste que tomou a decisão depois de receber os pedidos da Força-Tarefa e ouvir, preliminarmente, o Ministério Público. A medida teria como objetivo ensejar a colheita de provas n as investigações da Polícia Civil com o acompanhamento dos promotores de Justiça.

Os 21 acusados teriam praticado crimes de homicídio, formação de quadrilha, concurso de pessoas em práticas delituosas e, ainda, infringido a Lei dos Crimes Hediondos.

PRESO ASSASSINADO

Coronel acabou implicado no fuzilamento


A ordem judicial para prender o ex-comandante do Policiamento da Capital soou como uma ‘bomba’ no seio da Polícia Militar. Apontado como um dos melhores oficiais da corporação, e cuja característica sempre foi a operacionalidade, o coronel Serra acabou deixando o comando do CPC depois da desastrosa ação da PM que metralhou um veículo onde estavam quatro cidadãos, ao confundi-lo com uma caminhonete ocupada por assaltantes.

Mas, o motivo que teria levado à prisão de Serra foi outro grave episódio: o assassinato de um homem que estava preso ilegalmente e se encontrava em poder de policiais do Serviço Reservado (P-2) do CPC.

Suspeitos

O fato aconteceu na noite de 27 de setembro último, quando uma equipe do ‘Reservado’ do Comando do Policiamento da Capital conduzia ao hospital ‘Frotinha’ de Messejana dois presos identificados como Rogério Candeia da Silva e Roger Alves da Silva. Os dois homens eram suspeitos de terem participado do assalto contra dois PMs que faziam o policiamento na Avenida Raul Barbosa, na Aerolândia. As armas dos militares foram roubadas.

A escolta dos presos estava sendo feita ao hospital porque um deles, ferido com um tiro no pé, sangrava muito. Os acusados, algemados, eram conduzidos no porta-malas de uma viatura descaracterizada, um Renault Clio, de cor cinza.

Mas, no momento em que a viatura parou na porta do ‘Frotinha’, surgiram cerca de 10 homens encapuzados, utilizando um carro e várias motos.

Os PMs que estavam com os presos disseram ter sido atacados de surpresa. Foram rendidos e desarmados. Além disso, tiveram que obedecer a ordem dos criminosos e deitaram no chão. Em seguida, os desconhecidos abriram o porta-malas da viatura e dispararam quase 20 tiros nos presos.

Rogério - que havia sido preso na Aerolândia, no dia anterior - morreu na hora. Foi atingido com vários disparos de pistola e metralhadora. O comparsa dele, Roger Alves, que tinha sido capturado em Pacatuba, também foi baleado. Em estado gravíssimo, teve que ser levado para outro hospital e resistiu aos ferimentos.

Os militares que participavam da escolta e foram dominados, disseram que não tiveram como reagir diante do ataque dos assassinos. Suas armas foram roubadas e eles ameaçados de morte: caso tentassem impedir o fuzilamento dos presos, seriam também eliminados sumariamente.

O episódio gerou uma investigação paralela da Polícia Civil e do próprio Comando-Geral da Polícia Militar.

Os homens da escolta contaram que agiram dentro da lei e que a ida ao hospital foi comunicada - via rádio - à Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops). Um inquérito policial foi instaurado pela Polícia Civil.

A ‘queda’ do coronel Serra do comando do Policiamento da Capital, no entanto, teria sido motivada pelo episódio em que a PM confundiu a Hilux ocupada por quatro cidadãos (uma cearense e três espanhóis) com outro veículo em que bandidos fugiam com um caixa eletrônico roubado na sede da Empresa Municipal de Limpeza Urbana (Emlurb), na noite de 26 de setembro.

Fernando Ribeiro
Editor

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