Escolas fechadas na Messejana após madrugada sangrenta

Policial foi vítima de latrocínio; outras onze pessoas foram executadas no Curió e no São Miguel

Escrito por Redação ,

Um verdadeiro clima de pânico tomou conta das ruas da Grande Messejana. Doze pessoas foram mortas, em um intervalo de aproximadamente seis horas e 30 minutos durante a noite de quarta-feira (11) e a madrugada de ontem, nos bairros São Miguel, Curió e Lagoa Redonda, pertencentes à Área Integrada de Segurança (AIS) 4.

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As Escolas Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Professora Terezinha Ferreira Parente; Escola de Ensino Fundamental e Médio Iracema; e o Liceu da Messejana, foram fechadas. Na parede da Escola Iracema, o aviso: por motivos de força maior, não haveria aula nos turnos tarde e noite naquela unidade. Conforme a Secretaria da Educação do Estado (Seduc), o fechamento foi "por prevenção e respeito à situação".

A sequência de mortes, conforme a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), poderia ter relação entre si. Há ainda uma linha de investigação que aponta para represália pela morte do soldado PM Charles Serpa, vítima de latrocínio na noite de quarta-feira (11). A outra possibilidade apontada pelos investigadores seria a guerra existente entre facções rivais naquela região. Por fim, vingança pela morte do traficante Lindemberg Vieira Dias, executado com tiros de fuzil na Avenida Osório de Paiva, também poderia ter motivado os crimes.

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A primeira morte foi do soldado Valterberg Chaves Serpa, do Ronda do Quarteirão. De acordo com informações da Polícia, ele tentou proteger a esposa, que era abordada por três assaltantes no bairro Lagoa Redonda, por volta das 21h30.

A sequência de execuções começou a 0h20. Os adolescentes Antônio Alisson Inácio Cardoso, 17 e Jardel Lima dos Santos, 17, foram assassinados ao mesmo tempo, no Curió. Em seguida, à 1h20, um homem não identificado também foi baleado e morto, na Lagoa Redonda. Outro duplo homicídio, à 1h54, vitimou Marcelo da Silva Mendes, 17 e Patrício João Pinho Leite, 16, no São Miguel. Houve então uma sequência de dois triplos homicídios, também no São Miguel. Primeiro, às 3h33. Jandson Alexandre de Sousa, 19, Francisco Elenildo Pereira Chagas, 41 e Valmir Ferreira da Conceição, foram as vítimas. Por fim, às 3h57, Pedro Alcântara Barroso Filho, 18, Marcelo da Silva Pereira e outro homem não identificado também foram executados. A SSPDS utiliza nomenclatura diferente para os bairros. A reportagem opta por manter os dados conforme informado no momento das ocorrências pela Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops).

A reportagem percorreu as ruas dos bairros na tarde de ontem. O clima era de tensão. Patrulhas policiais faziam rondas pela área. Carros da Controladoria Geral de Disciplina dos órgãos de Segurança Pública (CGD), do Ronda do Quarteirão (BPRonda), do 6º DP (Messejana), além das motos do Batalhão de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (BPRaio), eram vistos pelas ruas e becos dos bairros. Equipes da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e Unidade Tático Operacional (UTO) da Divisão Antissequestro (DAS) também foram ao local.

Nas ruas, pessoas apreensivas. Especialmente, onde houve de fato o derramamento de sangue. Em entrevista à TV Diário, familiares relataram os momentos de terror vivenciados na madrugada. "Ele estava sentado na calçada com o outro. Entrou para pegar água, então eles (assassinos) chegaram e puxaram ele para fora. Deitaram os dois no chão e mataram", disse uma mulher, sobre um dos duplos homicídios registrados no Curió.

Outra mulher relembra como viu o genro ser morto dentro de casa, deitado em uma cama. Conforme relata, ela e algumas crianças tiveram armas apontadas para a cabeça. "Meu genro estava deitado. Não sei qual foi a motivação disso. Estava com meus dois filhos e dois netos em casa, mas só meu genro foi morto, na frente das crianças. É revoltante", afirmou.

Em um dos triplos homicídios no São Miguel, o filho de uma das vítimas diz que o pai estava trabalhando em um estabelecimento comercial quando foi atingido pelos disparos. "Chegaram em um carro preto, encapuzados. Mataram meu pai covardemente. Ele despachava um cliente, quando chegaram e atiraram", relembrou.

No Curió, em um dos duplos homicídios, populares relataram que os assassinos arrombaram portas. "Entraram, quebraram a fechadura da porta. O pai dele gritou para não sair, mas eles o puxaram. Estavam encapuzados, pareciam usar coletes balísticos. Deram um tiro na cabeça. Aqui é uma área perigosa. Quando morre alguém de um lado (comunidade), o outro solta fogos. Ontem não teve fogos".

No início da manhã de ontem, populares atearam fogo a um ônibus que fazia linha urbana, na Avenida Odilon Guimarães, entrada do São Miguel. Conforme moradores da área, a ação foi para chamar a atenção da imprensa para o que havia ocorrido naquela região na madrugada. As chamas foram rapidamente controladas. De acordo com a Polícia, ninguém ficou ferido.

Já no fim da manhã, um homem foi preso na Favela da Palmeirinha. Com ele, os policiais apreenderam munição e um documento falso. O homem, que responde por roubo, porte ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas, negou envolvimento com as mortes da madrugada. "Aqui está em paz, não pode mais matar nem roubar. Não sei o que aconteceu, não tenho nada a ver com isso. Só guardava as balas por causa do pessoal do Curió, que tem essa rixa", disse. Para a Polícia Militar, no entanto, Alexandre Oliveira dos Santos, que se apresentou como Alexandre dos Santos de Oliveira, teria tido participação nas ocorrências.

Suspeitas

A população dos três bairros sugeriu que as mortes teriam sido em represália pelo assassinato do policial militar Chaves Serpa. O chefe de comunicação da Polícia Militar, tenente-coronel Andrade, disse ser "muito cedo" para apontar alguma ligação entre os crimes, mas admitiu que ela pode existir. "Não há nada de concreto que possa afirmar que houve uma correlação dos fatos, mas nenhuma possibilidade pode ser descartada", afirmou.

Mais informações

Denúncias podem ser feitas à Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil (85) 3257-4807 / 190/181

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