Esbanjando fortunas, o líder do PCC pode estar em qualquer lugar

Levando uma vida luxuosa, criminosos que são procurados, inclusive internacionalmente, transitam livremente em bares, restaurantes e festas. No Ceará, somente neste ano, foram localizados quatro traficantes ligados à facção paulista, que se diziam empresários

Escrito por Redação ,
Nas baladas mais caras da cidade, nos restaurantes e barracas de praia mais badalados, vestindo as grifes mais famosas do mundo, morando nos condomínios de luxo mais caros, circulando em carros importados pagos à vista e em espécie. O ‘chefão’ do Primeiro Comando da Capital (PCC) é, agora, o avesso do estereótipo disseminado como o de traficante. Estão nos lugares que antes eram ‘acima das suspeitas’ ostentando fortunas conseguidas com a negociação internacional de entorpecentes. 

Neste ano, pelo menos, quatro grandes criminosos ligados ao PCC, que levavam vidas luxuosas, foram localizados no Ceará: Rogério Jeremias de Simone, o ‘Gegê do Mangue’; Fabiano Alves de Souza, o ‘Paca’; Claudiney Rodrigues de Souza, o ‘Cláudio Boy’; e Adriano Moreira da Souza. 

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‘Gegê’ e ‘Paca’ eram consideradas as maiores lideranças da facção paulista, em liberdade. Eles foram vitimas de uma emboscada, em fevereiro último, ao entrarem em uma aeronave, ocupada pelos próprios comparsas. A dupla acabou sendo morta, em uma reserva indígena, em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). A trama arquitetada dentro da organização criminosa foi descoberta dias depois pelos investigadores da Polícia Civil do Ceará. 

Empresários

De meninos pobres, criados no subúrbio de São Paulo, ‘Gegê e ‘Paca’ levavam uma vida muito diferente por aqui. Esbanjavam dinheiro em churrascos com carne importada, em plena quarta-feira; moravam à beira-mar em condomínios luxuosos; se deslocavam em helicópteros; e se passavam por empresários. 

“O ‘Gegê’ se apresentava aos vizinhos como João Paulo. Estava sempre acompanhado do ‘Paca’. Aqui no Ceará ele dizia ser empresário do ramo de importação e exportação. Não estava mentindo. Só esqueceu de dizer que a ‘mercadoria’ que importava e exportava era droga”, afirmou um servidor da Polícia Civil do Ceará, que participou das investigações das execuções dos dois líderes do PCC. 

‘Cláudio Boy’ não era diferente. Frequentando sempre lugares caros e circulando entre a alta sociedade, não levantou suspeitas das pessoas com quem conviveu, no Ceará, mas é apontado pela Polícia como líder da facção, em Minas Gerais. Era procurado internacionalmente e foi detido dentro de um avião, no dia 17 de fevereiro, quando tentava escapar daqui. “Ele teve duas noivas aqui. Não eram relacionamentos furtivos, foram noivados. Tinha fotos com pessoas conhecidas em Fortaleza, inclusive filho de autoridade. Era completamente estabelecido aqui, se entrosou na Cidade, sem despertar suspeitas. Vivia como um cidadão comum”, afirmou. 

Mandado

O último preso foi Adriano Souza, conhecido como ‘Adriano Mombaça’. Ele foi flagrado em um motel, na cidade do Crato, em julho último. Com mandados de prisão em aberto, e considerado um criminoso perigoso, Adriano disse que estava na cidade para participar de um festival de música.

“É um absurdo. Eles desconsideram qualquer chance de capilaridade e troca de informações entre as Polícias, e vivem normalmente. Conhecem as fragilidades do sistema e se aproveitam delas. Vão a festas, restaurantes, bares, fazem amigos, como se não devessem nada à Justiça. O Adriano tem histórico de tráfico internacional e estava solto há anos, levando uma vida normal”, disse o policial. 

O investigador lembra que o perfil preestabelecido do criminoso, ‘inaugurado’ pelo PCC, tem certa facilidade de se aproximar, mas deve ser evitado. “O principal alerta é que as pessoas não se embelezem pelo dinheiro. Se você tem aquele amigo que não trabalha, ou você não sabe nada sobre o trabalho dele; gasta dinheiro sem nenhuma preocupação; tem reservas com lugares em que há maior circulação da Polícia; está cada dia em um carro de luxo diferente; apareceu aqui no Ceará do nada e não dá nenhuma pista do passado, apenas se afaste. Não traga essas pessoas para dentro de sua rotina. Fuja de quem impressiona pela quantidade de dinheiro que gasta”, frisou o policial civil. 

Ele afirma, ainda, que o novo estereótipo foi criado pela facção, como um jeito de driblar as investigações. “É preciso dizer a verdade: a Polícia nunca procurou traficante em apartamento de luxo da área nobre. O preto da favela sempre foi a cara apresentada à sociedade como a do traficante. O PCC botou o traficante no prédio de luxo, porque sabia que era o último lugar que iriam procurá-lo”.

Dinheiro 

O policial civil ressalta que o dinheiro ilegal conseguido com os grandes carregamentos de droga, está sendo investido no mercado legal, e as investigações tornam-se cada vez mais específicas e trabalhosas. “O dinheiro do tráfico é muito bem espalhado. Grande parte dele é investido em negócios legais. Separar essas quantias, identificar o que é ilegal ou não, é muito complicado. Rastrear de onde partiu os recursos que financiaram a importação da droga, e descobrir onde ele foi parar, principalmente depois que o traficante estrutura uma rede de empresas de fachada e ‘laranjas’, é um trabalho que exige conhecimentos específicos e policiais treinados em lavagem de dinheiro”, explicou. 

Para o investigador da Polícia Civil, o momento em que os criminosos não conseguem esconder o dinheiro fácil, a fase da ostentação, é a mais propícia para comprovar a cadeia de crimes. “Dificilmente esse dinheiro não vai aparecer. Mesmo que demore, o traficante vai começar a gastar muito. Vai pensar que ninguém percebeu que ele comprou uma casa de praia e vai comprar outra. Vai terminar esbanjando uma vida que ninguém consegue legalmente, e é nesse momento que vai ser identificado pela Polícia. Não há garantias que todo o dinheiro vá ser encontrado nas investigações, mas que o criminoso vai terminar preso ou morto pelos comparsas, sim”. 

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