'Episódio nega tudo que foi ensinado e praticado'

O tenente-coronel, diretor da Academia, falou, ontem, sobre a morte de Giselle Araújo por um soldado da PM

Escrito por Messias Borges / Emanoela Campelo de Melo - Repórter ,
Legenda: Mais 1.319 policiais militares foram considerados aptos para ir para as ruas, ontem, após passarem pelo curso de formação da Aesp
Foto: Fotos: Saulo Roberto

A morte da pedagoga e estudante do curso de Administração de Empresas, Giselle Távora Araújo, de 42 anos, por um tiro disparado por um soldado da Polícia Militar segue sendo contestada às autoridades estaduais. O diretor-geral da Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp-CE), tenente-coronel Juarez Gomes Júnior, afirmou que "um episódio desses nega tudo que foi ensinado e praticado".

> Órgãos são doados pelos familiares

No dia seguinte ao erro policial, que custou a vida de Giselle, o Estado formou mais 1.319 PMs, em cerimônia celebrada ontem, no Centro de Eventos do Ceará. "A preparação se dá de forma a pautar todo o treinamento e o que vai se desenvolver na rua com os policiais, de forma a não acontecer um episódio desses", relacionou o oficial.

A reportagem apurou que o militar responsável pelo tiro fatal, que atingiu as costas de Giselle Araújo, ingressou na Polícia Militar do Ceará (PMCE) no último concurso e fez parte da turma que se formou e começou a trabalhar nas ruas no dia 20 de outubro de 2017, há cerca de sete meses. Ele era lotado no Motopatrulhamento (MP) da 3ª Cia do 16º BPM (Messejana).

O tenente-coronel Juarez Júnior não quis fazer nenhuma análise sobre os possíveis motivos para o soldado ter disparado. "Não podemos aprofundar neste momento sobre o que aconteceu, porque está sob investigação. Para compreendermos se houve falha, qual foi e atacar essa falha, só poderemos nos manifestar quando as investigações forem concluídas", justificou.

Giselle Araújo resistiu por cerca de 10 horas, após ser baleada. Passou por uma cirurgia no Instituto Doutor José Frota (IJF), mas não resistiu ao ferimento. Reportagem do Diário do Nordeste publicada, ontem, mostrou que as mortes provocadas por ações da Polícia cresceram 881% nos últimos cinco anos, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).

A Controladoria Geral de Disciplina (CGD) informou que o policial se apresentou espontaneamente, após o fato, livrando-se do flagrante, nos termos da legislação penal. Um Boletim de Ocorrência (B.O.) foi registrado no 34ºDP (Centro).

Um delegado de Polícia Civil ouvido pela reportagem, que preferiu não se identificar, contestou a decisão de livrar o PM do flagrante e liberá-lo. "O soldado deveria ter ouvido voz de prisão no mesmo momento, pelo crime de homicídio", avaliou.

Rigor

Na solenidade de formação dos novos militares, ontem, o governador Camilo Santana e o titular da SSPDS, André Costa, não quiseram falar muito sobre o caso. "O que determinei foi rigor na apuração. Vamos aguardar os resultados, para saber os motivos do lamentável ocorrido", afirmou Santana. O governador disse que o Estado irá procurar a família da vítima para dar apoio.

Ao ser questionado se a ação do policial foi correta, o secretário de Segurança Pública, respondeu que ainda não dá para afirmar. "É um fato que está sendo apurado. Em momento algum me manifestei sobre o caso concreto. Sempre me manifestei em termos gerais, porque não sou eu quem estou fazendo a apuração do caso, é a Controladoria Geral de Disciplina".

Formação

Em discordância com alguns oficiais da Corporação, que defendem um treinamento mais ostensivo e condizente com a realidade de Fortaleza, em relação à violência, mais 1.319 policiais militares foram considerados aptos para ir para as ruas, ontem. "Não é justo que a sociedade se ache segura, porque vê muito policial nas ruas, se estes homens não estiverem preparados psicologicamente e tecnicamente. Não está correto com a população, nem com o soldado, colocá-lo na rua para viver todo tipo de situação, com seis meses de um treinamento bem diferente do que se vê na prática".

A priori, todos os militares formados vão ser lotados em Fortaleza e na Região Metropolitana, para suprir a demanda de seis novas Unidades Integradas de Segurança (Unisegs) que serão instaladas na Capital até o fim de julho, segundo André Costa. "Já passaram por uma formação longa e vão para as ruas. Temos sempre o cuidado desses que estão em estágio atuarem com policiais graduados, mais antigos, para aprender um pouco mais".

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