Comoção e incredulidade no adeus às vítimas

Escrito por Redação ,
Legenda: Emocionado, o oficial recordou que viu Cavalcante prestar concurso para a PMCE e disse que conhecia o trabalho de cada uma das vítimas do triplo homicídio. Sobre o combate ao crime, o coronel afirmou que a luta não irá parar.

As despedidas dos três policiais mortos foram caracterizadas por comoção e promessas de continuar a luta em prol de melhorias na Segurança Pública do Estado. No enterro do subtenente da ativa da Polícia Militar do Ceará (PMCE) Sanderley Cavalcante Sampaio, no Cemitério Jardim do Éden, na Pacatuba, o comandante-adjunto da Instituição, coronel Adriano Soares, foi enfático ao afirmar que "há tempo de paz e há tempo de guerra. E hoje, é tempo de guerra".

> Dois presos por triplo homicídio são suspeitos de matar outro PM
 
"A Polícia não vai recuar. Morro junto com esses três militares. Tenho 34 anos de luta de combate ao crime. Eu sei o que é lutar, o que é trocar tiros com esses vermes asquerosos. Eu vou ser alcançado pela aposentadoria compulsória, mas ainda vou lutar", prometeu o oficial.

Dor

Ainda no velório de Sanderley Cavalcante, um dos três filhos da vítima se perguntava aos gritos: "quem vai me por na linha agora?". O primogênito do subtenente repetia aos prantos "meu pai não vai voltar". Já a terceira filha, de nove anos de idade, era consolada pela mãe.

A cunhada de Sampaio, Maria das Dores, contou que o PM da ativa era querido na família: "Ele era um bom pai. A família não sabe nada sobre ele ter recebido ameaças, sobre ele ser um alvo, nada disso. Ele era muito conhecido no bairro. Mataram sabendo que era policial. O Sanderley andava com duas pistolas, mas não tinha medo da profissão. Era isso que ele gostava".

Giodésio Freitas, primo de Cavalcante, acrescentou que restou uma sensação ainda maior de insegurança: "(Estamos) a mercê dos bandidos em todo local. E isso não só para o cidadão comum. Os próprios PMs estão nas mãos de bandidos. Meu primo era um trabalhador e prestava um bom serviço", destacou.

No velório dos outros dois policiais assassinados, o sargento da Reserva Remunerada João Augusto de Lima e o tenente da Reserva Antônio Cezar Oliveira Gomes, dezenas de amigos e familiares das vítimas também prestaram últimas homenagens. Em meio às coroas de flores, o choro e o lamento de quem não se conformava com o crime cometido na Vila Manoel Sátiro.

Por volta de meio-dia da última sexta-feira (24), um comboio com viaturas, motocicletas e um caminhão do Corpo de Bombeiros acompanharam os dois corpos aos cemitérios. Cezar deixou sete filhos e Augusto, cinco. Parentes das vítimas informaram que Augusto sofreu 21 perfurações, Cezar, por sua vez, foi alvejado 12 vezes.

"Estamos tentando entender até agora o que aconteceu. Algo completamente sem sentido", disseram alguns familiares das vítimas. Ainda segundo os entrevistados, a Vila Manoel Sátiro vem sofrendo com o avanço das facções criminosas. Vizinhos e amigos das vítimas informaram que, devido à violência, pensam em se mudar do bairro.

Um parente de Augusto, que não quis se identificar, disse que o sargento não tinha conflitos com ninguém do bairro. "Tentamos entender até agora o que aconteceu. O peso da saudade é o que vai ficar", declarou.

Rotina

Uma rua como outra qualquer. A metros, assim aparentava ser a localidade do triplo homicídio contra os PMs. Nos detalhes, as marcas da violência que aterrorizou moradores da Vila Manoel Sátiro persistiam. Na última sexta-feira (24), pouco mais de 24 horas após os homicídios e passados os enterros, a reportagem voltou até a Rua São Manuel, endereço da ocorrência.

O bar onde os militares foram executados enquanto almoçavam estava fechado e a escola, a qual o tenente Antônio Cezar tinha acabado de deixar a filha, instantes antes de ser alvejado, suspendeu as aulas.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.