Campanha de prefeito foi financiada por golpes a idosos, diz MPCE

João Bosco Pessoa Tabosa foi eleito com o dinheiro de aposentadorias e empréstimos consignados, obtidos em um esquema criminoso, segundo a investigação. Alguns suspeitos foram afastados do cargo

Escrito por Messias Borges , messias.borges@diariodonordeste.com.br

A eleição de João Bosco Pessoa Tabosa para prefeito de Pentecoste (91 km de Fortaleza), em 2016, foi paga com dinheiro de idosos aposentados do Município, segundo o Ministério Público do Ceará (MPCE). A Operação Caixa 2, deflagrada pelo órgão nesta quinta (18), desarticulou uma organização criminosa que estaria encravada na Prefeitura e afastou servidores públicos dos cargos.

A investigação verificou que a quadrilha subtraiu ao menos R$ 300 mil dos idosos, entre 2016 e 2017. Conforme o promotor de Justiça de Pentecoste, Jairo Pereira Pequeno Neto, o grupo criminoso era chefiado pelo prefeito; pela primeira-dama, Maria Clemilda Pinho de Souza; pelo vereador e presidente da Câmara, Pedro Hermano Pinho Cardoso (sobrinho de João Bosco); e pela ouvidora municipal, Maria Clara Rodrigues Pinho (cunhada do prefeito).

Abaixo da família, na estrutura da quadrilha, vinham dois funcionários do Banco do Brasil, Igor de Castro e Silva Marinho e José Elierto Correia, e o casal Maria da Conceição Domingos Sousa e Moisés da Silva Gomes. "A Maria da Conceição ficava na porta do banco e ganhava a confiança dos idosos, porque muitos não conseguiam sacar dinheiro nos caixas eletrônicos. Ela cobrava cinco reais. Com o tempo, começou a fazer as operações com o cartão dos idosos. Os políticos se aproveitaram disso", diz o promotor.

A estelionatária, com a ajuda do marido, contraiu empréstimos consignados e adiantamentos de 13º salários e realizou saques, sem autorização das vítimas. Os funcionários do banco que participavam do esquema facilitavam os golpes ao alterar as biometrias e a margem de contratação de empréstimos. O dinheiro subtraído pelo grupo ia diretamente para as campanhas de João Bosco e Pedro Cardoso, segundo o MPCE.

Dezenas de idosos foram vítimas do golpe, apenas em Pentecoste, e ainda estão pagando os empréstimos. "O número exato de vítimas ainda não podemos precisar. Mas, com a divulgação do caso, esperamos que ainda mais vítimas procurem o Ministério Público", afirma Jairo Pequeno.

Afastamentos

A pedido do MPCE, o juiz da Comarca de Pentecoste, Caio Lima Barroso, determinou o afastamento da primeira-dama, do presidente da Câmara e da ouvidora municipal dos cargos por 180 dias. O órgão acusatório também requereu afastamento do prefeito, mas o pedido foi indeferido.

Os dois bancários foram afastados por 60 dias. O prefeito João Bosco teve os bens sequestrados e os oito investigados tiveram o sigilo bancário quebrado, por determinação judicial. Promotores de Justiça de Pentecoste e do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), com apoio da Polícia Civil, também cumpriram dois mandados de busca e apreensão, na Câmara dos Vereadores e na residência da ouvidora. Documentos e mídias foram apreendidos.

De acordo com Jairo Pequeno, as investigações sobre o caso irão prosseguir até resultar na elaboração de uma denúncia. Os suspeitos, sem antecedentes criminais, podem ser acusados por estelionato, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

O Ministério Público chegou à quadrilha após a prisão de Maria da Conceição, em julho. Além de principal estelionatária, ela é apontada como 'funcionária fantasma' da Câmara. Segundo o MPCE, também há um esquema de empregados 'fantasmas' na Casa legislativa.

A reportagem não localizou os suspeitos. A Prefeitura Municipal de Pentecoste não atendeu a nenhum telefonema, durante o dia de ontem.

 

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