Aeronave do PCC pousou duas vezes em reserva indígena

As execuções de 'Gegê' e 'Paca' foram ordenadas por 'Fuminho', com o aval de 'Marcola', segundo o MPSP

Escrito por Emanoela Campelo de Melo/ Messias Borges /Márcia Feitosa - Repórteres / Editora ,

Rogério Jeremias de Simone, 'Gegê do Mangue'; e Fabiano Alves de Souza, o 'Paca', dois principais líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), se despediram das esposas, que estavam no Ceará, no dia 15 de fevereiro. As famílias dos criminosos seguiram para São Paulo em um ônibus fretado, enquanto eles embarcavam em um helicóptero, que, segundo a mulher de 'Paca' informou à Polícia, era ocupado por um piloto e um passageiro.

Fabiano Souza disse à esposa que levaria de três a quatro dias para chegar em São Paulo. Antes de partirem, 'Gegê' e 'Paca' fizeram as malas e levaram com eles os principais objetos de valor, que estavam na mansão adquirida no condomínio de luxo Alphaville Fortaleza, localizado na Praia do Porto das Dunas.

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A viagem deles seria diferente dessa vez. O plano que a facção tinha para 'Gegê' e 'Paca' já estava traçado: o trajeto da aeronave era uma emboscada. Uma fonte da Polícia Civil revelou que o helicóptero partiu de São Paulo.

Os seis ocupantes desembarcaram em um hangar, na Praia do Futuro, depois voltaram à aeronave e seguiram para a reserva de Aquiraz, onde quatro passageiros foram deixados. O helicóptero foi até o ponto em que 'Gegê' e 'Paca' esperavam. Eles embarcaram, pensando que iriam resolver negócios da facção, mas o helicóptero fez outro pouso na reserva, onde os executores aguardavam as vítimas.

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A aeronave voltou para Fortaleza. Pousou novamente no hangar, para ser reabastecida, mas desta vez, trazia apenas o piloto e um passageiro. "O piloto foi identificado. Essas outras quatro pessoas que estavam dentro da aeronave e não voltaram, são, provavelmente, os executores. Não se sabe ainda o que aconteceu com eles", revelou.

O helicóptero retornou a São Paulo no mesmo dia. A busca da Polícia é por quem não chegou. Onde ficaram os quatro homens que saíram do Sudeste para matar os líderes do PCC? "Não são daqui. Já temos filmagens que mostram muita coisa. Serão identificados, é questão de tempo", disse o policial.

Desvendada

A trama criminosa que culminou na morte dos membros da cúpula do PCC, está perto de ser desvendada. Um bilhete encontrado na saída da Penitenciária Maurício Henrique Guimarães Pereira, a P2, em Presidente Venceslau, onde é custodiada a cúpula da facção, deu um novo caminho à Polícia.

O documento, publicado primeiramente pelo site jornalístico 'Ponte', diz explicitamente que o mandante do crime foi Gilberto Aparecido dos Santos, o 'Fuminho', 'gerente' do chefe máximo da organização, Marco Willians Herbas Camacho, o 'Marcola'.

A apreensão do bilhete foi confirmada pelo promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MPSP), Lincoln Gakiya. "Foi apreendido no domingo (18), dia de visita. A Secretaria da Segurança Pública do Ceará teve acesso ao documento".

O bilhete foi trocado entre membros do PCC. No escrito, um detento afirma: "Ontem fomos chamados em uma ideias, onde nosso irmão 'Cabelo Duro' deixou nós ciente que o 'Fuminho' mandou matar o 'GG' e o 'Paka'. Inclusive o irmão 'Cabelo Duro' e mais alguns irmãos são prova que os irmãos estavam roubando (sic)".

'Fuminho', a quem o bilhete se refere, é o apelido de Gilberto Aparecido dos Santos, braço direito de 'Marcola' e tido como um 'gerente' da facção, responsável por cuidar das contas do chefe e do grupo criminoso. Segundo Gakiya, o criminoso ordenou as mortes de 'Gegê' e 'Paca' a mando de 'Marcola' e, agora, deve assumir o posto que era de Rogério Jeremias, tornando-se a principal liderança do PCC nas ruas. Segundo o MPSP, há informações que 'Fuminho' está escondido no Paraguai.

A afirmação do bilhete confirma uma das duas principais hipóteses da motivação do crime cinematográfico, segundo investigadores. A revelação do escrito aponta que 'Gegê' e 'Paca' estariam desviando dinheiro da facção criminosa e levando uma vida luxuosa em Fortaleza, tendo gasto, ao menos, R$ 8,6 milhões em carros e imóveis de luxo, no Estado do Ceará.

'Fuminho' teria dado a última palavra para o duplo homicídio dos antigos comparsas, definindo o momento das execuções, depois de 'Marcola' atribuir esta função a ele. O chefe do PCC estava no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), sem possibilidade de comunicação, no dia em que o crime foi cometido, em uma reserva indígena, no Município de Aquiraz.

Um investigador do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil de São Paulo, disse que a autoria do crime ficou clara com o bilhete. "Quando se fala em 'Fuminho', automaticamente, todo mundo que conhece o PCC remete ao 'Marcola'. 'Fuminho' jamais tomaria uma decisão dessa envergadura, sem o aval do chefe", disse o policial.

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