Voo livre colore o céu de Quixadá

Praticantes consideram as condições geográficas de Quixadá ideais para esse tipo de esporte

Escrito por José Avelino Neto - Colaborador ,
Legenda: Adeptos nacionais e internacionais vão para o Município nesta época do ano

Quixadá. A partir deste mês, quem olhar para os céus deste Município, do Sertão Central cearense, distante cerca de 170Km da Capital, certamente verá ainda mais praticantes de voo livre colorindo o céu. É que começa, no dia 15, a nona edição da temporada internacional de voo livre de Quixadá, que se estende até dezembro, prometendo reunir praticantes de esportes radicais de vários países. Além da aventura e da adrenalina, uma das principais propostas é a quebra de recordes.

A temporada é marcada no calendário por dois eventos que já ocorrem tradicionalmente nesta época, o Encontro Internacional de Voo Livre e a X-Ceará, que conta com o apoio da Confederação Brasileira de Voo Livre. O primeiro se inicia na segunda quinzena deste mês e segue até o dia 26 de novembro. No dia seguinte, tem início a X-Ceará, que encerra em dezembro.

Segundo os organizadores do evento, cerca de 150 pilotos de outros países devem chegar a Quixadá. Na edição do ano passado, 118 gringos e 32 brasileiros de outros Estados participaram. Com o sucesso do evento, os organizadores aguardam um público ainda maior neste ano.

Havaí do voo livre

Devido à quantidade de praticantes do esporte, que se favorece da temporada de ventos fortes e de melhores térmicas, mais comuns nesta época do ano, a cidade fica conhecida como "Havaí do voo livre" devido à quantidade de praticantes que fazem seus voos na Terra dos Monólitos.

Empresas do ramo que atuam pelas cidades da região se envolvem para organizar a temporada. Eurismar de Freitas Moura é dono de uma delas, a Quixadá Aventura. Com sede no Município, a empresa é uma das maiores e mais conhecidas pelo público estrangeiro, e trabalha durante o ano todo oferecendo treinamento e suporte para a prática de voo livre, e realizando trilhas de turismo ecológico.

Condições favoráveis

Eurismar de Freitas explica que o sucesso do esporte em Quixadá garante a continuidade das temporadas. "A procura por este mercado vem expandindo, é algo que aqui na região nunca sai de moda. O voo livre é uma das marcas da região do Sertão Central, devido às condições favoráveis", explica o empresário. "Nossa estimativa é de um público sempre maior. Nós nunca paramos de receber aqui. O ano todo tem gente pra saltar", enfatiza.

Economia

Quem sai ganhando é o setor de hotelaria, que, devido às condições desta época, fica aquecido, com quartos sempre lotados de gringos. Antônio Almeida, proprietário do Hotel Fazenda Pedra dos Ventos, diz que sempre o lugar fica lotado e supera o balanço que planeja. "Nosso maior número de hóspedes é da Suíça e da Alemanha. Sempre batemos recorde de hospedagem porque é uma excelente temporada pro setor", informa.

Almeida explica que o hotel foi construído para ser a principal oferta de hospedagem aos aventureiros. Construído no topo de uma serra, com características rústicas, tem uma das duas rampas de voo livre que existem em Quixadá.

A outra fica no Santuário Rainha do Sertão, na Serra do Urucum. O modelo no qual o empresário investiu, deu certo. "A seca, nesta época do ano, faz com que o período seja de baixa estação. Mas, como o Hotel foi erguido para a abrigar praticantes do esporte, vamos na contramão do mercado: quando pro geral está vazio, pra mim sempre está lotado porque, pra eles, quanto mais seca, melhor", explica Antônio Almeida.

No ano passado, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Quixadá chegou a divulgar que os pilotos injetam mais de R$ 1,2 milhões na cidade durante esse período.

Em busca de recordes

O maior público das temporadas internacionais é formado por praticantes com experiência. A maioria vem a Quixadá com o propósito de quebrar recordes. É o que garante Paulo Rocha Lima, adepto do voo livre há quase 20 anos e proprietário e fundador da Via Sertão, outra empresa especializada em oferecer suporte a turistas que participam das temporadas. "Sempre tem quebra de recorde mundial. No ano passado, teve quebra de voo duplo, voo feminino, voo declarado e de distância livre", garante Paulo.

Histórias

As largadas das rampas de Quixadá reúnem histórias incríveis. Em edições anteriores, conforme assegura, pilotos saíram de Quixadá e só tocaram o chão quando estavam perto do Maranhão. "Foram mais de 400 quilômetros em quase dez horas de voo. Coisa que só acontece aqui", ressalta.

Recordes de outros países, como Polônia e Bulgária, já foram batidos nas competições anteriores. Ele atribui ao cenário que as condições de voo proporcionam aos praticantes, o sucesso das edições. "Praticamente todos os países da Europa vêm e quebram recordes", diz Paulo.

O trabalho de empresas é também o de garantir a segurança e oferecer condições para que a festa dos competidores não perca o brilho em meio a acidentes, fato que já aconteceu em Quixadá. Em agosto de 2015, o piloto português João Miguel Carvalho Ferreira da Silva, 39, radicado no Brasil, morreu após decolar da rampa da Serra do Juá, no distrito de Juatama.

Paulo Rocha e Eurismar Moura disseram que, na época, receberam informações de outros pilotos que João Miguel desceu do céu rodando, até bater contra uma formação rochosa elevada, vindo a morrer na hora. "A forma como ele caiu levantou uma suspeita. Liguei pro IML de Quixeramobim, pedi pra falar com o médico legista e pedi pra ele ver o coração dele. Dito e feito: foi um infarto", disse Paulo.

As empresas Via Sertão e Quixadá Aventura estão sempre atentas às condições de voo e preparo técnico e físico dos atletas. "Tem que estar bem alimentado e não pode ter histórico de problemas cardíacos", explicou Eurismar.

As empresas costumam seguir os pilotos no carro por estrada, com um localizador instalado nos pilotos para que possa saber exatamente onde eles pousaram. O perímetro aéreo também não tem o trânsito de aeronaves, o que evita de acidentes mais graves.

Além da segurança e da quebra de recordes, há ainda um fator emocional: a contemplação de ver, de cima, as formações monolíticas quixadaenses. As belas imagens registradas por pilotos enquanto saltam, integram a fan page do Quixadá Aventura no Facebook.

"Temos mais de um milhão de acessos de quase 50 países", revela Eurismar. Em Quixadá, voar não é só quebrar recordes. "É se agraciar e contemplar a nossa natureza", diz Eurismar.

FIQUE POR DENTRO

O surgimento do voo livre em Quixadá

De acordo com Eurismar de Freitas e Paulo Rocha, o voo livre em Quixadá começou em 1993, quando pilotos de caça do Exército, que faziam treinamentos na área, hoje protegida para a prática de voo livre, perceberam que a região tinha muitas térmicas, condições de ventos quentes que favorecem voo livres mais longos. Os pilotos iniciaram saltos de testes e comprovaram as boas condições. A prática se acentuou em 1993, durante a construção do Santuário Imaculada Rainha do Sertão, erguido no topo da Serra do Urucum. Pilotos pegavam carona nos carros da construção que subiam a serra e lá de cima saltavam. Com o passar do tempo, Quixadá percebeu o potencial para a prática de voo livre e começou a receber pilotos e especialistas que definiram questões de segurança e condições ainda mais seguras de voo.

Mais informações:

Quixadá Aventura

Rua Joaquim Batista, 304

Telefone: (88) 9 9911-3182

Via Sertão

Rua José Almeida, 2070

Telefone: (88) 9 9754-0892