Ursos siberianos que vivem no CE podem ser levados para São Paulo

O embate entre instituições de proteção animal e o zoológico de Canindé só deve ter fim após nova avaliação do espaço e dos animais

Escrito por Redação , regiao@verdesmares.com.br

Qual o melhor lugar para um casal de ursos pardos siberianos viverem após anos de maus tratos e exploração em um circo? O questionamento vem acompanhado de uma polêmica sobre o resgate dos animais que há cerca de 10 anos vivem no Zoológico do Santuário São Francisco, em Canindé, a cerca de 110 quilômetros de Fortaleza. O Instituto Luisa Mell e a Confederação Brasileira de Proteção Animal receberam, através das redes sociais, o pedido para que os ursos fossem levados para o Rancho dos Gnomos, em São Paulo.

O motivo principal é garantir um ambiente mais próximo do natural, com temperatura mais amena. "Os ursos precisam hibernar, e as altas temperaturas não permitem que o organismo diminua os batimentos cardíacos para que ele faça isso. Ou seja, o animal está sofrendo uma privação de sono. As temperaturas em Canindé chegam a 44º", justifica Carolina Mourão, presidente da Confederação Brasileira de Proteção Animal.

A campanha arrecadou recursos para o transporte dos ursos siberianos. A ativista Luisa Mell e os representantes da Confederação chegaram a visitar os animais, em Canindé. Conversaram com representantes do Santuário de São Francisco das Chagas, organização religiosa que mantém o zoológico e a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace).

No entanto, como a conclusão do parecer técnico da equipe de fiscalização da pasta estadual do meio ambiente, que vistoriou o recinto do Zoológico São Francisco de Canindé, determinou que o zoológico atende de modo parcial às exigências relacionadas na legislação aplicável à operação do empreendimento, especificamente a Instrução Normativa IBAMA N° 07/2015, os ursos não obtiveram a liberação para serem levados de Canindé para São paulo.

O parecer foi apresentado, na última sexta-feira (30), durante encontro com entidades de defesa dos animais, com a participação de um representante do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV), que também participou da vistoria e analisou a situação de saúde dos ursos. Vinte entidades participaram. Para os representantes do zoológico, a decisão foi acertada.

Laudo

Segundo laudo elaborado pela Semace, dos 12 requisitos da Instrução Normativa do IBAMA de 2015, o espaço respeitava oito deles. Logo após a visita, o zoológico colocou em prática mais um critério. Faltam agora três requisitos: o zoológico precisa ampliar a área em mais quatro metros quadrados, colocar uma rocha dentro do recinto dos ursos e construir uma pequena estrutura de madeira.

O reitor do zoológico, Frei Marconi Lins, confirmou que o Santuário deve encaminhar um pedido de licenciamento à Semace para regularizar a situação. O zoológico é registrado no Ibama com a inscrição nº 681769 e hoje trabalha com a Instrução Normativa de 2005. O objetivo agora é se adequar à Instrução Normativa de 2015.

Quanto as Instruções Normativas do Ibama que podem garantir a permanência do casal de ursos em Canindé, o biólogo do Instituto Luisa Mell argumenta que as regras são apenas burocráticas ainda que preconizadas pelo Ibama. "Não é o fato deles atenderem oito, dez ou mais itens da Instrução Normativa. Não adianta atender a Lei se a Lei não é adequada a situação vigente. A normativa do Ibama é muito frágil", argumenta Frank Alarcon. "O que deveria ser algo positivo ao Ceará e para a Secretaria do Meio Ambiente (Sema) do Estado, se tornou uma coisa reativa. Eles, ao invés de acolher nossa iniciativa, preferiram o caminho da dor e do refugo, da manutenção de ursos em um zoológico irregular no sertão, o que me parece, independente de laudos, um absurdo completo. Isso se tornou uma crise", diz Carolina.

Muller Holanda, técnico ambiental do IBAMA, afirma que Dimas e Kátia se encontram em boas condições de saúde no zoológico, mas a decisão de transferi-los não cabe mais ao Ibama. O caso será decidido pela Secretaria do Meio Ambiente.