Triunfo continua verde, mesmo seca

Destino muito procurado pelas condições climáticas e belas paisagens a região destaca-se também pelos aspectos histórico-culturais, com destaque para os engenhos de rapadura que ainda resistem

Escrito por Redação ,
Legenda: O açude João Barbosa Sitônio, localizado no Centro da cidade, é adornado pelo Cine Teatro Guarany, inaugurado em 1922, e construído com rocha e óleo de baleia para dar sustentabilidade aos três pavimentos
Foto: Fotos: Cid Barbosa

Triunfo / Santa Cruz da Baixa Verde (PE) O município de Triunfo, distante 399Km de Recife, fica na parte setentrional do Vale do Pajeú, no Planalto da Borborema, numa altitude média de 1.010m. A vegetação é composta por Floresta Úmida, e pela Caatinga. Tem estações do ano bem definidas. A média da temperatura no inverno, seco, é de 19°C, e no verão, chuvoso, de 23°C. A média de precipitação anual é de 1.372,3 mm.

Poucos municípios têm o privilégio de reunir tantos atrativos, a começar pelo clima, que contradiz a aridez do sertão nordestino, com temperaturas oscilantes entre 8ºC no inverno e 28ºC no verão. Com vegetação diferente da que predomina na região e uma variedade de lugares a se visitar sem similar no Sertão nordestino, Triunfo passou a ser conhecida como "O Oásis no Sertão".

Exemplo desse contraste está na barragem do Brejinho, que costuma abastecer o município, está seca desde 2012, mas, nem por isso a região deixou de produzir. Não muito longe dali está a Cachoeira do Pinga, sem nenhuma gota d'água, mas contornada pelo verde.

Mais sustentável

Os moradores da região ainda vivem basicamente da cana-de-açúcar e a Associação de Desenvolvimento Rural Sustentável da Serra da Baixa Verde (Adessu Baixa Verde) tem incentivado uma produção mais sustentável.

Nadjanélia dos Santos Guerra é a presidente da Cooperativa de Produção e Comercialização da Agricultura Familiar Orgânica Agroecológica (Coopcafa), que tem uma unidade de beneficiamento de cana-de-açúcar e polpa de frutas, e está no segundo ano de comercialização.

Hoje, já fornece para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), depois de contar com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) na organização. No momento, com 53 cooperados, procura equipar-se e adequar-se para buscar certificação.

Na comunidade Canabrava, município vizinho de Santa Cruz da Baixa Verde, encontramos Adailton Joaquim Pereira, 44, mais conhecido como Daia. Com o apoio da Adessu Baixa Verde, seu cultivo agroecológico, em apenas 13 hectares, destoa das monoculturas do entorno. E olha que, no passado, ele chegou a migrar para trabalhar no corte de cana-de-açúcar em Mato Grosso.

Mas não fazer queimada, não utilizar adubo químico nem agrotóxico, trabalhar com uma diversidade de espécies e fazer o controle biológico de pragas fez toda a diferença para ele. "Na monocultura, uma praga acaba com tudo. Aqui, não", afirma.

Com foco em preservar as nascentes, tem um córrego em sua terra que nunca seca, mesmo sem chuva. Em apenas um ano, ele sente toda a diferença da mudança, participa de feiras agroecológicas da região e também já chegou a comercializar sua produção no PAA. Das cinco cabeças de gado que cria, o leite é doado. O que interessa é o esterco para a plantação.

História

As antigas construções, datadas do século XIX, os seculares e tradicionais convento e igrejas, as edificações em pedra bruta, a história do cangaço e os antigos engenhos de rapadura fazem os visitantes voltarem no tempo em Triunfo. Além disso, vale destacar mirantes, cachoeiras, grutas, a belíssima visão do Pico do Papagaio, ponto mais alto de Pernambuco, a 1.260m, de onde é possível avistar seis cidades do Vale do Pajeú. Lá, um monumento homenageia importantes personagens do folclore pernambucano, os caretas, que, com seus trajes e relhos, deixam os visitantes curiosos e deslumbrados.

O açude João Barbosa Sitônio, no centro da cidade, é adornado pelo do Cine Teatro Guarany (1922), construído com rocha e óleo de baleia para dar sustentação aos seus três pavimentos. Lá, um teleférico tem seus assentos movidos por cima das serras de Triunfo passando sobre as águas do açude.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA
'Apesar das potencialidades, são ambientes bastante vulneráveis'

Os brejos de altitude constituem paisagens de exceção dentro do contexto semiárido nordestino. Tal exclusividade se deve, sobretudo, às características climáticas que proporcionam melhores condições de umidade a esses ambientes. A altitude de alguns relevos, associada à sua posição geográfica, proporcionam a ocorrência de chuvas orográficas, justificando seus maiores índices pluviométricos no contexto do entorno.

Dentre esses ambientes, no caso do Ceará, destacam-se alguns maciços cristalinos, como Baturité, Aratanha, Maranguape e Meruoca; e alguns relevos em bacias sedimentares, como a chapada do Araripe e o Planalto da Ibiapaba. Seus aspectos geológicos variam significativamente, justificando topografias diferenciadas, pois, enquanto constatam-se declives acidentados nos maciços cristalinos, os relevos em bacias sedimentares apresentam topos planos ou suavemente inclinados bordejados por escarpas. Apesar de uma relativa variação nos tipos de solos, de maneira generalizada, esses se apresentam significativamente profundos contrastando com os solos rasos dos sertões.

A cobertura vegetal dessas áreas reflete nitidamente as características naturais locais, com a presença de florestas perenifólias, com espécies de Mata Atlântica, servindo de habitat para uma complexa fauna representada por diversos animais endêmicos, alguns ameaçados de extinção. Das melhores condições de umidade, derivam rios semiperenizados, além de importantes nascentes fluviais que se caracterizam como imprescindíveis dispersores hídricos que alimentam as mais diversas bacias hidrográficas cearenses.

Tendo em vista suas potencialidades naturais, essas áreas são muito procuradas para o desenvolvimento de atividades agrícolas, além de concentrarem, em alguns casos, um elevado adensamento populacional. Como são paisagens de exceção, sua beleza cênica e clima ameno constituem aspectos relevantes para o desenvolvimento de atividades turísticas. Apesar das potencialidades, são ambientes bastante vulneráveis devendo, em muitos casos, serem compulsoriamente preservados.

Na tentativa de conter a degradação existem diversas unidades de conservação implementadas nessas áreas, como as Áreas de Proteção Ambiental das Serras de Baturité, Aratanha, Meruoca, Maranguape e do Planalto da Ibiapaba, além da Floresta Nacional do Araripe.

Frederico Holanda Bastos
Professor de Geografia da Uece