Teatro Marquise Branca celebra 15 anos de apoio à arte cênica

O nome do equipamento é em homenagem à atriz Albertina Brasileiro, que nasceu no dia 6 de dezembro de 1910

Escrito por Antonio Rodrigues - Colaborador ,
Legenda: Na época em que o matadouro ganhou um novo local, foi iniciada uma campanha para o prédio ser transformado em teatro
Foto: FOTO: ANTONIO RODRIGUES

Juazeiro do Norte. O Teatro Municipal Marquise Branca, neste Município do Cariri, comemorou ontem (2) 15 anos de inauguração. O aniversário foi celebrado com espetáculo infantil, debates, palestras e apresentações da banda de música e quadrilha junina. A criação do equipamento, no local do antigo matadouro público, é um importante instrumento de fomentação da arte cênica no Cariri. Por outro lado, poucos conhecem a história da personagem que batiza o local: a atriz Albertina Brasileiro, a Marquise Branca.

O professor, ator e diretor Renato Dantas lembra que, na época em que o matadouro ganhou um novo local, as pessoas temiam que o prédio se tornasse um estacionamento. Por isso, os artistas de várias linguagens começaram uma campanha e escreveram uma carta ao então prefeito Carlos Cruz, pedindo para transformar aquele espaço em um teatro. No Memorial Padre Cícero, em reuniões, foi criado um projeto que buscava recursos junto ao Ministério da Cultura. "Esse projeto ficou lá por muitos anos e, de repente, foi liberado o recurso", conta Renato.

A ideia era que fosse preservado a arquitetura do antigo matadouro e isso foi possível. Os antigos ferros que sustentavam as carnes hoje servem de exposição. Com o equipamento pronto, restava escolher um nome para o local. Foi aí que Renato Dantas lembrou a admiração que sua mãe e sua tia tinham "por uma grande atriz de Juazeiro". A atriz era Albertina Brasileiro, nascida em Triunfo (PE), no dia 6 de dezembro de 1910.

Segundo o estudante de história Roberto Júnior, que pesquisou a vida da atriz, ela chegou em Juazeiro do Norte por volta de 1915. Seus pais, Henrique e Olegária Brasileiro, possuíam uma pensão situada na Rua do Cruzeiro, entre as atuais ruas São Pedro e Padre Cícero. Desde criança, Marquise Branca já demonstrava talento para as artes cênicas.

Em 1927, a região do Cariri festejou a chegada da Companhia de Teatro Conceição Ferreira, que fazia muito sucesso na América do Sul. O grupo ficou hospedado na pensão dos pais de Marquise. Entre os atores, estavam Affonso Moreira e Aloísio Campelo. Este último casou com sua irmã mais velha, Irma Brasileiro. Aos 15 anos, a jovem Albertina Brasileiro seguiu com a companhia em sua turnê passando por Iguatu, Sobral e Fortaleza, escalada entre os artistas que encenariam mais tarde a comédia "Pella Gatos".

"Após o casamento com o espanhol e companheiro de palco, Affonso Moreira, ocorrido em 6 de Setembro de 1928, a atriz fundou, em 1929, ao lado do esposo e de Carlita Moreira, o Trio Marquise Branca, o qual foi bem recebido no Maranhão e outros tantos estados do 'Norte', como era chamada toda essa porção do território brasileiro que hoje compreende regiões como o Norte e Nordeste", conta Roberto Júnior.

O sucesso foi rápido. Na década de 1930, Marquise Branca já é anunciada nos jornais como a "Maior sambista do Brasil". "Ela tinha a voz bonita e passa a ser sambista. Na época, isso era um escândalo", conta Renato.

O trio, que depois se tornaria companhia, fez diversas apresentações por todos os estados do Brasil, e excursionou pela América do Sul, tendo se estabelecido por algum tempo em Buenos Aires. Seu auge foi na metade dos anos 1930, época que os rádios estouravam e há a transição dos espetáculos acanhados em auditórios das emissoras para apresentações grandiosas nas ruas, praças e palcos específicos. Na década de 1940, Marquise fazia sucesso ao lado de estrelas como Dalva de Oliveira e Zezé Fonseca. Porém, sua carreira teve sensível queda após o fim de seu casamento com Affonso, com quem teve três filhos, e outros problemas pessoais.

Ela ainda seria marcante na Rádio Tamandaré, em Recife, onde atuou como atriz. Além disso, voltou a fazer participações em peças de sucesso e viu seu nome veiculado na recém-criada, mas muito badalada, Revista do Rádio; seria também a fase de estabelecimento da Companhia Wilson Valença-Marquise Branca. Na década de 1950 revezava sua vida entre o Nordeste e Sudeste, até cair no ostracismo e morrer no dia 22 de maio de 1965, no Rio de Janeiro.

Legado

"Como legado, deixou os nomes da família Brasileiro e o da cidade de Juazeiro do Norte marcados no 'hall da fama' nacional; não somente ela, mas alguns de seus irmãos e irmãs, como José Brasileiro, Irma Campelo, Leda Maura e Alberto Brasileiro".

Roberto Júnior está escrevendo uma biografia sobre a atriz que deve ser lançada em 2020. O estudante conta que há pouca literatura sobre Marquise Branca até então. Por isso, iniciou sua pesquisa através da Biblioteca Nacional e de familiares. Os textos estão avançados, mas a principal pendência é a publicação. "A maioria das pessoas acha que se chama 'Marquise Branca' por causa da marquise, mas o prédio nem marquise tem. O juazeirense está tendo contato com ela agora. Espero que o resultado desse contato sirva para existir uma valorização maior.