Pau da Bandeira reúne cerca de 200 mil pessoas

O ponto alto da celebração foi quando 200 homens conduziram o mastro de duas ton e 23m

Escrito por Antônio Rodrigues - Colaborador ,

Barbalha. De uma ponta a outra, o colorido tomou conta das ruas deste Município, no Cariri cearense, ontem, no hasteamento do Pau da Bandeira de Santo Antônio. Há três anos reconhecida como patrimônio imaterial brasileiro, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a festa reuniu cerca 200 mil pessoas na sua abertura oficial, ao longo de todo o domingo. O ponto alto da celebração foi quando aproximadamente 200 homens conduziram o mastro, pesando mais de duas toneladas e com 23 metros de comprimento. Até o dia 13 de junho, um público de 150 mil é esperado na cidade.

A movimentação começou cedo, às 7h, com a II Cavalgada Santo Antônio que saiu do Estádio Inaldão até a Igreja do Rosário. Cerca de 500 cavaleiros desfilaram nas ruas. Pouco depois, a missa com a bênção da bandeira do padroeiro foi realizada. Ainda durante a manhã, mais de 80 grupos de tradição popular se reuniram para sair em cortejo, da Igreja Matriz até a Paróquia do Rosário. Reisado, penitentes, capoeira, maneiro-pau, vaqueiros, foram algumas das manifestações apresentadas.

Nem o calor forte impediu a animação do grupo de 80 crianças que seguiu atrás do cortejo carregando o Pau da Bandeira Mirim, feito de metalon, papel panamá e papelão reforçado. Uma réplica menor do mastro oficial. Esta tradição foi criada há mais de 15 anos e, no início, era feito com uma pequena madeira enrolada no papelão. "Eles representam os futuros carregadores do Pau da Bandeira. Daqui a quatro, cinco anos, alguns já poderão carregar. Nós temos mais de 50 carregadores que surgiram daqui, com a educação patrimonial", explicar o gestor escolar e criador deste costume infantil, Diego Alves de Souza.

Protesto

Um grupo de mulheres da região do Cariri organizou uma manifestação política dentro do cortejo para lembrar os altos índices de violência na região, principalmente, em Barbalha. O Município não possui Delegacia da Mulher e está entre os números mais altos de feminicídio do Ceará. "Desde que iniciamos essa mobilização, a gente tinha nas mãos um número gritante de mulheres vítimas de todos os tipos de violência. Nas nossas reuniões, percebemos que temos de descentralizar até onde podemos chegar. Aqui o fluxo é maior, a conscientização fica mais oportuna", explicou a radialista Célia Rodrigues.

Diversidade

De tarde, as ruas ficaram completamente tomadas por milhares de pessoas. Filas enormes de carros se formaram na entrada do Centro Histórico. Três palcos, instalados no Marco Zero, no Largo da Matriz e na Praça da Estação, trouxeram shows simultaneamente. Destaque para as apresentações de Chambinho do Acordeon e Samira Show. No fim da noite, o Parque da Cidade recebeu Solange Almeida e Gabriel Diniz como principais atrações. Além disso, cada calçada na Rua do Vidéo tinha seu palco particular, além das garagens, com vários paredões de som animando as pessoas. Forró, reggae, rock, funk. Toda essa diversidade reunida.

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Cortejo

Como de costume, o Pau da Bandeira entrou no Largo da Igreja do Rosário no fim da tarde. O mastro percorreu percurso, de quase 8Km, do Sítio São Joaquim, local onde foi retirada a rama branca - árvore utilizada -, até o largo da Igreja Matriz. Na Rua do Vídeo, os 200 carregadores dividiram espaço com milhares de pessoas que, espremidas, tentam tocar e pegar uma lasca da madeira, uma simpatia antiga para quem deseja casar.

Há 18 anos como capitão do cortejo, Rildo Teles explica que, por volta das 6h, uma oração é feita pelos carregadores mais antigos, antes de colocarem a madeira em seus ombros. Na caminhada, um sacerdote dá a bênção aos homens que, durante o percurso, entoam músicas tradicionais sobre o Santo, acompanhados por um carro de som. Em sua função, ele explica que tudo é feito com cuidado redobrado com a segurança, por isso, algumas paradas são feitas quando percebe o cansaço do grupo. Um cordão de isolamento também é feito ao redor. Por volta das 17h30, a bandeira foi erguida.

Bloqueio

A segurança, neste domingo, foi reforçada por 400 homens da Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e Guarda Civil. Nas entradas do Centro Histórico, foi organizada uma grande revista para evitar o porte de armas na festa. No entanto, por volta das 15h, nas entradas da cidade foram organizados protestos contra o aumento de combustível. Ao todo, foram dois bloqueios: na CE-060, que liga a Juazeiro do Norte, e outro na CE-293, para Missão Velha. O trânsito ficou lento, mas os manifestantes liberaram os veículos aos poucos. Isso não afetou o público que lotou Barbalha.

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À tarde, o forró tomou conta dos três palcos espalhados pela cidade

No Largo da Igreja do Rosário, Chambinho do Acordeon foi o destaque"Quem é barbalhense, sente uma coisa diferente. A Festa de Santo Antônio é um momento ímpar, porque relembra nossas tradições, nossa fé, nossa cultura e isso vem sendo preservado há muitos anos. O Pau da Bandeira se tornou a maior festa de abertura de festejos juninos do Nordeste. Isso porque, com a tradição, religiosidade, a mistura do profano e religioso, atrai pessoas daqui e de fora do Brasil. Você vê a quantidade de pessoas, tem orgulho de ter essa festa nessa cidade e ser um dos anfitriões", exaltou o prefeito Argemiro Sampaio.

Para o turismólogo Rodrigo Sampaio, as manifestações culturais barbalhenses desfilando por toda a festa são um momento único. No entanto, ele enxerga diferença o tipo de público que participou da festa neste domingo. "Muitos que vêm de manhã, não permanecem à tarde, pois é mais familiar, querem trazer os filhos. À tarde chegam mais jovens, que gostam mais de folia, brincadeira", descreveu. Para ele, a divulgação e repercussão dos anos anteriores elevou o patamar da Festa de Santo Antônio. "Já repercute em nível regional e nacional e se espalha para o mundo inteiro. Fica um legado e, se ficar em evidência, será fantástico", acrescentou.

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Dois grupos de penitentes participaram. Da zona rural, surgiram há mais de 100 anos, após suas comunidades ficarem imunes a uma peste, no fim do Século XIX

Enquanto o produtor cultural André de Andrade, juazeirense, enxerga a festa como a característica do povo. "É uma tradição que se forma a partir das experiências forjadas no cotidiano", explicou. Inclusive, ele evidencia que o Pau da Bandeira reflete o "sagrado e profano", como característica do Cariri, "elementos que encontram nessa festa uma característica única, particular. As pessoas que estão na dinâmica da cidade se preparam por muito tempo para essa festa, para receber bem e mostrar o que tem de melhor. Fazer a festa para receber bem", completou.