Patrimônio histórico nacional de Aracati será restaurado

Escrito por Redação ,
Legenda: Museu jaguaribano, que já é restaurado pelo Iphan, será um dos contemplados com o Programa Monumenta. O lugar é um dos prédios mais valiosos do Ceará
Foto: Melquíades Júnior

Governos Federal, Estadual e Municipal dividem responsabilidades para restaurar os prédios históricos de Aracati

Aracati. Uma das mais conhecidas cidades turísticas do litoral leste do Ceará é, na maioria das vezes, desconhecida de sua riqueza histórica. Nem sempre quem ouviu falar em Majorlândia ou Canoa Quebrada sabe que está falando do território onde o europeu deu a primeira pisada para a colonização do Ceará. Ou que foi berçário de importantes movimentos de resistência colonial. Cidade-pólo do turismo praiano, Aracati, no Vale do Jaguaribe, agora quer ser visitada por sua história. Governos Federal, Estadual e Municipal dividem responsabilidades para restaurar seus prédios históricos. Alguns anos após o tombamento da “Rua Grande”, a preservação sairá, literalmente, só da fachada das casas e atingirá 275 imóveis públicos e particulares, por meio do Programa Monumenta.

O principal sítio histórico reconhecido em Aracati é a Rua Coronel Alexanzito, popular “Rua Grande”. Lá estão centenas de prédios, entre públicos e particulares, construídos entre os séculos XVIII e XIX. Desde que foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), até mesmo obras hidráulicas na rua devem ser acompanhadas por arqueólogos. Mas os interiores dos prédios estão se desgastando pelo tempo e também maus tratos do homem.

Existe uma chance de isso mudar, mas nem tudo está garantido. Conforme a Superintendente Regional Substituta do Iphan no Ceará, Olga Paiva, há entendimentos de incluir Aracati no Monumenta, “a própria direção nacional está articulando isso, mas por enquanto não há certeza absoluta”.

No entanto, a inclusão do município no programa é dada como certa pelo deputado federal cearense José Airton que, de acordo com sua assessoria, esteve em audiência com o presidente da instituição, Luiz Fernando de Almeida.

Se de fato houver a inclusão, aumenta para 27 o número de cidades brasileiras contempladas pelo projeto estratégico do Ministério da Cultura e do Iphan com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A primeira cidade cearense contemplada foi Icó, também na região jaguaribana. A intenção é recuperar e continuar o trabalho de preservação, estimulando o turismo histórico e, daí, o sentimento de preservação de moradores e visitantes dos lugares restaurados.

Devem ser beneficiadas as igrejas católicas antigas, a Casa de Câmara, Cadeia, sobrados coloniais com azulejos portugueses e o Museu Jaguaribano, este que já é restaurado pelo Iphan, após meses de paralisação no fim do ano passado. O lugar é um dos prédios históricos mais valiosos do Ceará.

Morador ilustre

Foi lá que morou José Pereira da Graça, o “Barão de Aracati” (1812-1889), dono de um dos maiores currículos da aristocracia colonial brasileira – foi juiz desembargador, deputado por três vezes pela província do Ceará, ministro do Supremo Tribunal de Justiça e vice-governador da província do Maranhão. Aracati foi berço de resistências políticas coloniais, como, por exemplo, a Confederação do Equador.

O local foi colégio, clube e hotel até ser museu, em 15 de novembro de 1968. De lá para cá, fechou algumas vezes por falta de estrutura.E até que restaurem todo o prédio – além do prédio vizinho, onde ficará a parte administrativa – mais de 12 mil livros e 400 peças das famílias da época colonial estão praticamente largados num sobrado na mesma Rua Grande. Neste depósito temporário, buracos e brechas do telhado possibilitam um lamentável banho de biqueira.

Informativo

Conforme Olga Paiva, a restauração do Museu Jaguaribano inclui a reedição do informativo: “Aracati: roteiro para preservação do Patrimônio Cultural”, de caráter didático e destinado principalmente aos próprios moradores do sítio histórico, com definições de patrimônio, tombamento e direitos e deveres dos próprios moradores privilegiados pela história. O trabalho de preservação dos órgãos federais unirá esforços com Secretaria Municipal de Cultura e escolas públicas.

RESISTÊNCIA AO TEMPO - Museu Jaguaribano é símbolo da ocupação do Ceará

Aracati. Antiga residência construída em estilo neoclássico - em reação ao barroco e ao classicismo renascentista, o Museu Jaguaribano é, ao lado da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, um dos marcos da ocupação colonial do Ceará por meio de Aracati. O Solar do Barão de Aracati se pretende museu desde o fim da década de 60. Fechou diversas vezes, mas com a retomada das obras de restauração nos últimos meses o próprio Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) diz que agora os trabalhos só param quando concluídos.

O sobrado está implantado em lote urbano tradicional e distribui-se em quatro pavimentos, sendo o quarto deles correspondente ao sótão e possui aberturas nas empenas laterais. Sua fachada principal destaca-se pelo revestimento de azulejos portugueses estampilhados, apresentando aberturas por balcão único no primeiro pavimento e balcões individuais no segundo. Em alguns destes é arriscada a entrada, devido a madeira frágil e furada pelo tempo.

O edifício residencial nº 735, ao lado do museu será destinado para funções administrativas e acervo bibliográfico. Peças grandes demais do acervo, que não puderam ser deslocadas, assistem a restauração, sob pena de ficarem mais desgastadas que antes, como ancoradouro de navio e carroça da época colonial.

A importância de um trabalho minucioso, conferido por arqueólogos, está em curiosas descobertas nos trabalhos de pedreiros e especialistas. Detalhes de desenhos de pinturas na parede datadas dos anos 1800 começam a aparecer durante os trabalhos de restauro. “São pinturas muito antigas e todo cuidado é pouco para não danificar algo que as várias pinturas por cima ajudaram a destruir”, afirma Fernando Pinto, um dos engenheiros que acompanha a obra.

“Seu Luís”, pedreiro do local, aprendeu a trabalhar “com o maior cuidado do mundo, que, quando dá fé, aparece alguma coisa antiga da época dos escravos”, estes que, preciosismos a parte com o Barão, foram os verdadeiros construtores do monumento.

Mais informações: Iphan. (85) 3221.6360/ 3221.6263. e-mail: 4sr@iphan.gov.br. Museu Jaguaribano de Aracati. (88) 9992.5275

MELQUÍADES JÚNIOR
Colaborador