Mulheres criam um grupo para melhorar a autoestima

Moradoras da periferia, as participantes convivem com situações de vulnerabilidade

Escrito por Marcelino Júnior - Colaborador ,

Sobral. Foi com certo receio que a dona de casa Maria da Conceição Oliveira, 35, resolveu, há 7 anos, aceitar o convite para conhecer o Grupo Mulheres Guerreiras em Ação, que se reúne todas as segundas-feiras, na associação dos moradores do Bairro Dom José, em Sobral, no Norte do Estado.

Localizada na periferia da cidade, a área, como ocorre em muitas outras país afora, sofre com altos índices de criminalidade, que trazem, entre outras consequências, situações de conflito e vulnerabilidade para seus moradores, fragilizando ainda mais as relações interpessoais, atingindo em cheio as famílias.

Maria da Conceição sofre de depressão, e mantém o controle com ajuda de remédios. Em um momento de sua vida, a tristeza profunda a lançou em uma situação crítica de falta de perspectiva. Foi quando buscou outro tipo de ajuda, além dos medicamentos.

"Quando eu entrei no grupo, cheia de desconfiança, eu comecei a ver que existiam pessoas com problemas mais graves do que o meu. E me perguntava, meu Deus, como ela consegue? Então, descobri que eu também posso ter essa força. As conversas, durante os encontros, não vão resolver o problema, mas amenizam, porque eu saio bem mais leve, renovada", vibra a dona de casa.

Encontro

A ideia de reunir mulheres, com idades variadas, com o intuito de, não apenas expor seus problemas, mas ampliar laços afetivos e emocionais, criando um ambiente de aprendizado e troca de saberes, partiu de agentes comunitárias de saúde que atuam no Bairro. Uma delas é Kátia Cilene Oliveira, que visita diariamente 131 famílias, atendendo um total de 493 pessoas. Para ela, o trabalho oferecido pelos Centros de Saúde da Família vão além de visitas para cuidar da saúde das pessoas.

"Por meio desse trabalho, nós percebemos que havia muitas mulheres com fortes problemas emocionais, inclusive, dependentes de medicação controlada. Claro que cada caso é diferente, mas as reuniões têm trazido um ânimo novo, não apenas para as participantes, mas para nós, agentes comunitárias, que também moramos aqui e vivenciamos conflitos no seio familiar", afirma Kátia, que comemora um novo aprendizado a cada encontro. "Eu amo meu trabalho de contato diário com as famílias, e percebo também, que os encontros do grupo são muito positivos para todas. Essas mulheres são realmente guerreiras", diz.

Ações

Criado há sete anos, o Grupo Mulheres Guerreiras em Ação possui 25 mulheres cadastradas, com idades que vão de 12 a 76 anos. Os encontros, realizados uma vez por semana, duram cerca de duas horas, onde são trabalhados temas variados, escolhidos pelas próprias participantes.

Ao longo da programação, são realizadas palestras educativas, voltadas à saúde, com discussões sobre câncer de mama, do colo do útero, nutrição e outros; além da realização de trabalhos manuais, para incentivo à geração de renda.

A autoestima também é estimulada durante os encontros, assim como a busca pela conquista de algo importante para as participantes, a cada mês; o que é compartilhado por todas.

De acordo com Evelyne de Freitas Araújo, gerente da Unidade de Saúde do Bairro, "O grande foco do grupo é a autoestima. E essa troca de saberes ajuda as mulheres do Bairro Dom José a seguirem com suas vidas, de uma forma mais leve e, até, mais atuante", relata a gerente, que contabiliza 350 mulheres em uso de medicação controlada, assistidas pelo posto.

Exposição

Uma, que não perde nenhum dos encontros, é Lurdes Stênia Pereira, 46, mãe de dois filhos. A depressão também foi o motivo que a fez pensar na possibilidade de ir além da medicação e expor seus problemas, em busca de apoio e carinho dentro do grupo de mulheres, que realizou uma exposição fotográfica, nessa semana, no CSF, tendo como foco as participantes.

"Eu busquei o grupo para tentar tirar os pensamentos ruins da cabeça. Aqui, a gente se expõe sem medo de crítica, tendo, cada uma, seu momento de falar, de ouvir, enfim, de participar. Sempre há algo novo a aprender. Eu saio daqui renovada e cheia de energia. E participar da exposição foi algo maravilhoso para mim. Porque eu tive um momento de valorização de mim mesma, ao me maquiar, me preparar para as fotos e passar uma energia boa naquela hora. A mudança foi tão grande para nós, que teve gente que não se reconheceu nas fotos. A autoestima fica lá em cima", se emociona.

Segundo o CSF, que atende em sua maioria mulheres, o Bairro Dom José é um dos mais vulneráveis de Sobral, com uma forte presença de drogas e prostituição. Muitas das famílias sobrevivem longe do emprego formal, apegados a benefícios sociais.