Mata Atlântica foi menos degradada

Entre 2016 e 2017, houve uma queda de 56,8%, nos 17 estados onde se encontra o Bioma no País

Escrito por Honório Barbosa - Colaborador ,
Legenda: A região do Maciço de Baturité é uma das que abriga, no Estado do Ceará, a vegetação remanescente da Mata Atlântica
Foto: Foto: Thiago Gadelha

Iguatu. O Ceará foi o Estado que apresentou a menor área de desmatamento da Mata Atlântica, no Brasil, entre 2016 e 2017. Os dados são da Fundação SOS Mata Atlântica, divulgados nesta quinta-feira, 24. No período houve uma queda de 56,8%, nos 17 Estados onde se encontra o Bioma. Essa é a menor taxa desde quando começou a série histórica de monitoramento pela entidade, a partir de 1985.

Segundo o levantamento do Atlas da Mata Atlântica, o desflorestamento do Bioma, entre 2016 e 2017, no Ceará, foi de apenas 5 hectares. No período anterior (2015-2016), foram desmatados 9 hectares. Um redução de 47%. Os dados colocam o Ceará como 17º no ranking do desmatamento, seguido pelo Espírito Santo, que também só registrou corte de 5 hectares.

Em novembro próximo, o Atlas da Mata Atlântica vai apontar as áreas onde houve desmatamento, indicando os municípios. "Acreditamos que fiscalização, campanhas educativas, cumprimento da legislação, atuação do Ministério Público e da sociedade civil contribuíram para que vários estados apresentassem um resultado positivo, com desmatamento quase zero", frisou a coordenadora do Atlas e diretora-executiva da SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota. "Apesar de o desmatamento continuar, há, sim, motivos de comemoração".

Márcia Hirota, entretanto, ressalta que ainda é cedo para se afirmar que há uma tendência de queda contínua de desmatamento. Ela analisa que, na atual conjuntura econômica, político e eleitoral, importante para o País, a Mata Atlântica dá o seu recado: é possível reduzir o desmatamento. "Com o compromisso e o diálogo entre toda a sociedade, incluindo proprietários de terras, governos e empresas, podemos alcançar o desmatamento ilegal zero, já presente em sete estados", vislumbrou.

Sete estados beiram o desmatamento zero, com desflorestamento em torno de 100 hectares (1 Km²). O Ceará e Espírito Santo, com 5 hectares, são os estados com o menor total de desmatamento no período. São Paulo (90 hectares) e Espírito Santo ganharam destaque pela maior redução do desmatamento em relação ao período anterior. Foram 87% e 99% de queda, respectivamente. Os demais estados no nível do desmatamento zero foram: Mato Grosso do Sul (116 ha), Paraíba (63 ha), Rio de Janeiro (19 ha) e Rio Grande do Norte (23 ha).

Neste levantamento, 65% dos 17 estados da Mata Atlântica tiveram queda do desflorestamento, incluindo os quatro maiores desmatadores. A Bahia, primeiro do ranking de desmatamento, suprimiu 4.050ha, mas teve queda de 67%; Minas Gerais (3.128 ha), reduziu 58%; o Paraná (1.643 ha), é o terceiro, e reduziu 52% e Piauí (1.478 ha), o quarto, que reduziu 53%.

Os novos dados do Atlas da Mata Atlântica indicam que as ações de alguns estados para coibir o desmatamento - como maior controle e fiscalização, autuação ao desmatamento ilegal e moratória para autorização de supressão de vegetação (caso de Minas Gerais) - trazem resultados positivos. Os mapas de monitoramento estão disponíveis para que as autoridades busquem melhorar o controle.

Os coordenadores do projeto de monitoramento do bioma observam que a crise econômica é um fator que pode ter contribuído para a queda do desmatamento, ao afetar os investimentos dos setores produtivos e reduzir seu poder econômico, mas seriam necessários novos estudos para comprovar essa relação.

Para Flávio Jorge Ponzoni, pesquisador e coordenador técnico do estudo, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), não se pode afirmar que há tendência de queda, pois o desmatamento reduziu depois de três anos com aumento consecutivo. Além disso, após a queda de 2010-2011, o ritmo do desmatamento vinha oscilando bastante. "A última queda foi no período entre 2013 e 2014, chegando a 18.267 hectares, 24% a menos que o período anterior. Antes disso, o menor índice de desmatamento havia sido registrado entre 2010 e 2011, com 14.090 hectares", comparou. "De lá para cá, não é possível comprovar uma tendência".

Alerta

Para Mário Mantovani, diretor de políticas públicas da SOS Mata Atlântica, o combate também passa pelo respeito às leis ambientais, como o Código Florestal Brasileiro e a Lei da Mata Atlântica (11.428/2006), a única a proteger um bioma e que regulamenta a proteção e a utilização da biodiversidade e recursos dessa floresta. "Muitos setores buscam flexibilizar as diversas leis ambientais, o que não podemos aceitar. O ano de 2018 é eleitoral e precisamos cobrar novas posturas dos candidatos e eleitos quanto à agenda socioambiental", destaca.

Existem diversos instrumentos que podem colaborar para que a redução do desmatamento se torne uma tendência, principalmente aqueles que valorizam a floresta em pé. São os casos do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e do ICMS Ecológico. "É importante premiar e beneficiar municípios e proprietários de terra que prestam serviços ambientais relevantes. Até porque 80% dos remanescentes florestais de Mata Atlântica estão em áreas privadas", afirma.

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O Ceará tem uma área de 14.892.047 milhões de hectares de Mata Atlântica

Pela Lei da Mata Atlântica, o Ceará tem 866.120 hectares

O bioma representa 6% da área do Estado

Quanto resta da floresta original - 64.020 hectares (7,4%)