Indústrias de semijoias resistem à crise e se reinventam em Juazeiro

Introduzida pelo Padre Cícero, a produção de joias e semijoias vem se transformando ao longo dos anos

Escrito por Antonio Rodrigues - Colaborador ,
Legenda: Com o agravamento da crise, os folheados são uma boa alternativa
Foto: Fotos: Antonio Rodrigues

Juazeiro do Norte. A tradição da produção de joias e semijoias neste Município vem desde o Padre Cícero. Segundo os moradores mais antigos, os romeiros que chegavam à cidade eram sempre ocupados com alguma atividade. Se antes trabalhavam como agricultores, continuavam na roça. Se fabricavam calçados, fariam o mesmo. Assim, como Juazeiro do Norte recebia muitos visitantes para casar, inclusive ter a cerimônia realizada pelo próprio "Padim", eles não tinham, muitas vezes, as alianças. O pároco, então, incentivou a criação das oficinas de joias.

A matéria-prima chegava à cidade pelos romeiros, que trocavam por produtos artesanais. Além disso, os moradores de Juazeiro viajavam muito, principalmente, para a região Norte, à procura de trabalho no extrativismo. No retorno, traziam muito ouro do Pará e Maranhão.

Auge

A década de 1970, foi o auge das oficinas de joias. Um trabalho, em sua maioria, sem muita sofisticação. O Município chegou a ter 750 fábricas artesanais. Isso tornou Juazeiro do Norte um dos principais polos de fabricação e distribuição dessas peças. No entanto, nas duas últimas décadas o mercado mudou muito. Os produtos importados e as indústrias de folheados diminuíram a produção artesanal desses acessórios feitos a ouro.

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Por outro lado, o mercado de folheados sobressaiu, inclusive, durante o período de crise econômica. No processo industrial produz peças mais baratas, pois, utiliza-se metais comuns, como estanho, latão e cobre, que passam por um processo químico de lavagem e banho, que dão cor e brilho. Hoje, Juazeiro do Norte continua sendo o principal polo de distribuição de semijoias do Nordeste e está entre os principais do Brasil. São cerca de 40 fabricantes no Município, número que concorre com Itabaiana (SE), outro grande produtor.

Segundo o empresário Josimar Martins, dono da JR folheados, Juazeiro do Norte é o segundo principal polo de distribuição, atrás somente de Limeira (SP), que, inclusive, vende para os comerciantes locais. "Juazeiro atende 80% dos estados. Tem pouca penetração na região Sul. Mas atinge todos os demais estados. Ao longo dos anos, o mercado distribuidor foi migrando dos atacadistas locais para a distribuição direta. São os vendedores viajantes. Eles não vão com objetivo de visitar os lojistas, mas os consultores, revendedores, sacoleiras", explica.

A JR Folheados distribui, principalmente, o Norte e Centro-Oeste. Criada em 1983, apenas como revendedora, em 1992 a empresa iniciou o processo próprio de industrialização, trazendo equipamentos de São Paulo e capacitando as pessoas, porque não existia a oferta de mão de obra no mercado local, na época. Antes disso, Josimar Martins viajava vendendo joias, principalmente, em Minas Gerais e Goiás. Hoje, a empresa tem cerca de 100 funcionários e produz mais de 100 mil peças por mês.

Adaptações

Ao logo de 25 anos o mercado de semijoias passou por momentos de crise e adaptações. O Município, tradicionalmente, vende folheados a ouro, mas, quando a tendência de acessórios em prata cresceu, o mercado local sofreu uma queda. Outro exemplo aconteceu entre 1995 e 2005, quando o consumidor exigia produtos melhores, design mais próximo das joias preciosas. No entanto, com a crise, as pessoas migraram para as peças mais populares e os produtos mais caros não tiveram tanta demanda.

"Juazeiro sofreu um pouco menos em função de ser uma linha muito popular. A demanda é permanente. Vez por outra, muda o tipo de produto. O mercado, às vezes, muda. Quando acontece, Juazeiro sofre, porque não é um polo muito diversificado. Mas, nos últimos três anos, vem em alta. Quando veio a crise, o consumidor retornou para os folheados", explica Josimar.

O comerciante José Adevânio, de Lavras da Mangabeira, é um dos revendedores de folheados. Há 10 anos, ele trabalha com esses produtos e, todo mês, compra no atacado cerca de 10 mil peças. Ele chega a comercializar nas regiões do Cariri e no Centro-Sul, mas também visita os estados do Maranhão, Tocantins e Bahia. Inclusive, na volta para casa, o empresário já encontra seus clientes na estrada. "As fábricas daqui são conhecidas no Brasil todo e tem variedade de anéis, brincos, pulseiras, corrente, tornozeleiras. Sempre me mantive disso, me seguro com essas vendas", garante.

Religiosidade

A JR Folheados tem uma linha de acessórios religiosos que vendem nas diversas regiões do Brasil. Medalhinhas de Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora das Graças e São Jorge são algumas das mais procuradas. Mas o Padre Cícero tem um lugar especial para os clientes do Nordeste e até da região Norte. "O Brasil é um país de cultura religiosa, em especial católica. A linha religiosa, para nós é primordial. Os produtos que são tradicionais vendem em qualquer época do ano e lugar do País", exalta o empresário Josimar Martins.

A mais antiga loja de joias e bijuterias de Juazeiro é a Joalheria São Geraldo, há mais de 53 anos na Rua São Pedro. O proprietário, Geraldo Farias de Melo, começou nas pequenas oficinas de joias, trabalhando como polidor na Ourivesaria Santa Luzia. Após dois anos trabalhando por lá, resolveu partir para as vendas de joias pelo mundo afora. "Me dei muito bem. Fiz meu pé-de-meia, voltei e abri a loja", lembra o empresário.

No início, ele revendia das próprias oficinas, mas hoje compra joias e folheados de São Paulo. "Antes, em Juazeiro, era ouro mesmo, eram joias. Aí entraram essas fábricas de folheados e acabaram as oficinas", afirma o empresário, hoje, com 80 anos. "Quem tem capital e prédio próprio dá para ir vivendo. Mas, para quem paga aluguel, tá difícil", completa Geraldo Farias.

Fique por dentro

Cidade divide produção com outros polos

Juazeiro do Norte possui oito fábricas de folheados. O número já foi maior, mas deixa o Município entre quatro principais fabricantes de joias, folheados e bijuterias do Brasil. Por outro lado, as ourivesaria, as oficinas artesanais, diminuíram muito. Hoje, cerca de 28 estão em atividade, mas ainda empregam informalmente muitas pessoas.

No Brasil, a principal produtora de folheados fica em Limeira (SP), que, inclusive, comercializa para muitos revendedores de Juazeiro do Norte. A cidade paulista abriga cerca de 450 empresas desse setor e representa 60% da produção de folheados do Brasil. Em segundo lugar está Guaporé (RS), que fica na Serra Gaúcha e dispõe até de uma Escola de Joalheria. Outra grande produtora de folheados, bijuterias e joias é Itabaiana (SE), que tem uma das principais feiras livres de Sergipe e emprega cerca de 500 pessoas nas fábricas desse setor.