Dois poços garantem água para Campos Sales

Uma complexa operação garantiu o funcionamento dos poços, cavados em Araripe

Escrito por Honório Barbosa / Antonio Rodrigues - Colaboradores ,
Legenda: Os dois poços tubulares foram perfurados em 2001, pela Petrobras, com o objetivo de encontrar petróleo, mas jorrou água. Eles começaram a funcionar em de 21 de fevereiro passado e estavam em período de teste

Campos Sales. A recuperação de dois dos mais profundos poços perfurados no Ceará, com cerca de mil metros, para captação de água, em Araripe, visa evitar o colapso hídrico para mais de 30 mil moradores de Campos Sales, no alto sertão do Cariri Oeste. Desde 2001, os poços foram construídos e, após várias tentativas, permaneciam desativados.

O trabalho de desobstrução, instalação de bombas e de tubulação foi realizado por técnicos da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), em parceria com a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) e a Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra), além de mão de obra especializada de empresas contratadas pelo governo do Estado.

"O funcionamento simultâneo dos dois poços é uma vitória conjunta, depois de 17 anos", comemora o gerente da Unidade de Negócios do Interior da Cagece, Adeilson Rolim. "Os olhos dos operários eram de apreensão, o temor de não dar certo, mas o funcionamento e a vazão adequados, fizeram a alegria da equipe de 50 pessoas".

Reforço

Inicialmente, os dois poços atendem a maior parte da demanda de Campos Sales, com uma vazão de 100m³/h. Outros 20m³/h são de outros poços instalados anteriormente pela Sohidra, nos bairros de Barro Branco, Aparecida e Batalhão. A cidade enfrenta crise hídrica há pelo menos sete anos. "Em período crítico, é uma oferta suficiente para eliminar o rodízio de distribuição de água na Cidade a partir do uso consciente da água pelos moradores", disse.

Os dois poços começaram a funcionar em de 21 de fevereiro passado e estavam em período de teste. Afinal, depois de tentativas anuais fracassadas, em 2001, 2011, 2013 a 2016, havia a preocupação. A recuperação começou em novembro de 2017 e de instalação de tubulação e bomba, em janeiro passado.

"Foi uma operação complexa, de alto risco, que exige conhecimento e precisão dos operários e técnicos", frisou Rolim. "A tubulação tem de estar bem instalada e a bomba, que fica a uma profundidade de 412m, não podia sofrer avaria". Um guindaste de 70 ton permitiu a colocação da bomba, que pesa, com a tubulação, 30 ton. Também foi preciso recuperar o equipamento, que veio de São Paulo com defeito.

A Sohidra perfurou anteriormente 80 poços com o objetivo de evitar o colapso hídrico em Campos Sales, mas só 20 alcançaram vazão suficiente. No entanto, com o passar do tempo, foram perdendo vazão, e não estavam oferecendo nem 10% da água necessária para abastecer a Cidade, que agora conta com o reforço dos poços pioneiros.

Outro desafio é a transferência da água. Depois de acumulada em um reservatório de cinco milhões de litros, segue por uma adutora de 50Km, passando por terrenos alagados ou de difícil acesso. Diariamente, operários da Cagece fazem manutenções para evitar vazamentos.

Tranquilidade

Para a coordenadora da Unidade de Negócios da Cagece, Arilete Barros, a reativação dos dois poços trará mais tranquilidade para Campos Sales. "A população terá a garantia de água nas torneiras e condições de abastecimento por longos períodos, especialmente porque teremos mais de uma fonte de captação", frisou. O Açude Poço da Pedra, que estava seco, recebeu uma recarga de água e em breve deve entrar em operação para complementar o abastecimento.

Com a retomada da distribuição, a Cagece vai voltar a faturar as contas de água, que estavam suspensas desde junho de 2017, período em que o Poço da Pedra deixou de abastecer a Cidade.

Localizados na Chapada do Araripe, os dois poços tubulares foram perfurados em 2001, pela Petrobras, com o objetivo inicial de encontrar petróleo. Jorrou água. Depois, em uma articulação do governo do Estado, decidiu-se usar o recurso para abastecer os municípios de Araripe, Campos Sales e Salitre.

Por causa da profundidade de cerca de mil metros e complexidade de funcionamento das bombas surgiram diversos problemas que provocaram a impossibilidade da operação. Os poços ficam 50Km de distância da Estação de Tratamento de Água (ETA) e da unidade de distribuição da Cagece, em Campos Sales. De acordo com Rolim, no futuro a água dos dois poços deverá ser usada para complementar abastecimento da cidade de Araripe e de algumas localidades rurais de Salitre.

Falhas

Segundo o radialista Damião Oliveira, de maio de 2017 até a metade de março deste ano, Campos Sales ficou sem abastecimento da Cagece. "A Prefeitura perfurou alguns poços na sede do Município, mas a vazão era insuficiente para o abastecimento", lembra. O radialista lamenta que, apesar do retorno do abastecimento da Cagece, a adutora tenha apresentado problemas. Durante as obras na CE-292, foi quebrada e a vazão é pequena.

A agricultora Lusanete Santos disse que, hoje, tem água nas torneiras de dia no Centro, mas, nos outros bairros, só chega ao escurecer. "Na zona rural, os açudes pequenos pegaram água, mas, no Poço de Pedras, entrou pouca", conta. Maior reservatório de Campo Sales, o Poço de Pedras apresenta 2,51% de sua capacidade. Por outro lado, a agricultora garante que as cisternas da zona rural encheram com as chuvas em fevereiro.