Degradação da Caatinga avança no Estado

Conforme membros do Movimento Pró-Árvore, mais de 50% do território do Semiárido encontra-se degradado

Escrito por Alex Pimentel - Colaborador ,
Legenda: Caso não ocorra uma mudança de mentalidade, a Caatinga vai sofrer mais ainda
Foto: Fotos: Alex Pimentel

O Dia Nacional da Caatinga é 20 de agosto; todavia, para os ambientalistas, não há motivo para comemoração no próximo domingo. Pesquisadores já catalogaram mais de 1.700 espécies vegetais deste bioma, das quais muitas são arbóreas de grande porte, como a Barriguda, Baraúna e a Aroeira. No entanto há uma perspectiva de ainda serem descobertas mais de mil espécies, pois ainda há pouco estudo e conhecimento.

Conforme membros do Movimento Pró-Árvore, um coletivo multidisciplinar lançado em setembro de 2011 na capital cearense, corremos o risco de perder aquilo que nem conhecemos, já que mais de 50 % do território do Semiárido está em franco processo de desertificação e os outros 50 % estão no mesmo caminho. Menos de 1% da área é protegida por áreas de preservação permanente. Nos períodos chuvosos, espécies de plantas herbáceas se abrem em flor, dentre as quais a malva, a malícia e a flor de tijirana. Juntas, representam um tesouro natural, ameaçado pela ação do homem.

Conscientização e conhecimento. Essas são as principais ferramentas utilizadas pelos técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) no Ceará no combate à degradação desse bioma. Embora desde outubro de 2011 a proteção das paisagens naturais notáveis, a proteção do meio ambiente, o combate à poluição em qualquer de suas formas e a preservação das florestas, da fauna e da flora tenham passado à responsabilidade de estados e municípios, os demais agentes públicos e da sociedade civil organizada também precisam agir.

Conforme dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o Sertão Central abrange uma área de 15,6 mil km², composta pelas cidades de Banabuiú, Choró, Deputado Irapuan Pinheiro, Ibaretama, Milhã, Mombaça, Pedra Branca, Piquet Carneiro, Quixadá, Quixeramobim, Senador Pompeu e Solonópole. A população total dos 12 municípios é de 362.091 habitantes, dos quais 158.415 vivem na área rural, o que corresponde a 43,75% do total. É nela que estão as maiores áreas de degradação, explica o Ibama.

Para eles, a área e o número de municípios sob risco no Ceará é bem maior. Outros 12 foram incluídos no plano de formação de gestão ambiental pública.

Durante três dias (7, 8 e 9 de agosto), técnicos do Núcleo de Educação Ambiental e do Núcleo de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PrevFogo) realizaram em Quixeramobim o curso "Introdução à gestão ambiental pública". O evento era dirigido aos secretários municipais do Meio Ambiente; todavia, da relação de convidados, apenas o titular da pasta de Boa Viagem, Aislan Melo Cavalcante, participou da capacitação. O restante enviou coordenadores e técnicos da área ambiental, explicou o técnico do Ibama Douglas Damaso dos Santos. "Uma demonstração do desinteresse e da preocupação dos gestores públicos com o seu próprio habitat", acrescentou.

Dentre outros, objetivo do evento é disseminar entre os representantes dos municípios da região conhecimentos para a gestão participativa dos recursos ambientais. Alternativas de enfrentamento dos problemas e conflitos socioambientais também atraíram o interesse do grupo, formado ainda por líderes comunitários. Os municípios priorizados foram Banabuiú, Boa Viagem, Canindé, Choró, Madalena, Pedra Branca, Quixadá, Quixeramobim e Santa Quitéria, onde o NEA e o PrevFogo desenvolvem trabalhos educativos com comunidades de agricultores com vistas à construção de alternativa ao uso do fogo.

Queimadas

Além dos incêndios acidentais, as queimadas realizadas para o cultivo de culturas de subsistência e até a produção de carvão, associadas à exploração vegetal descontrolada, são consideradas as principais causas do empobrecimento do solo e da extinção da mata nativa, ressaltou o analista ambiental do Ibama José Maria Barbosa da Silva.

Associados a todos esses problemas, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a área desmatada da Caatinga chega a 46%. No Ceará, conforme a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), 80 mil hectares de áreas estão em processo de desertificação. As mais afetadas foram identificadas na macrorregião de Sobral, em Irauçuba, na Ibiapaba e Sertão de Inhamuns.

A Semace traçou a estratégia de recuperar 20 mil hectares por ano. A alternativa para o controle está na criação de mais unidades de conservação federais e estaduais nesse bioma. Também é preciso encontrar alternativas para o uso sustentável da sua biodiversidade, acrescenta o órgão estadual.

Fique por dentro

Carnaúba é árvore símbolo do Ceará

No dia 30 de março de 2004, através de decreto estadual, o ex-governador Lúcio Alcântara institui a Carnaúba, cujo nome científico é Copernicia prunifera, como a árvore símbolo do Ceará. O decreto estabeleceu ainda que o corte dessa árvore fica condicionado à autorização dos órgãos e entidades estaduais competentes. Pelos ambientalistas ficou conhecida como "árvore da vida", por uma série de utilidades para o homem.

As raízes da carnaubeira têm uso medicinal como eficiente diurético e antivenéreo; os frutos são um rico nutriente para a ração animal; o tronco é madeira de qualidade para construções; as palhas servem para a produção artesanal, adubação do solo e extração de cera, um insumo valioso utilizado na composição de diversos produtos industriais.

Enquete

Como reverter a degradação?

"Quando a gente não conhece sequer as árvores ao nosso redor é porque realmente algo muito grave está ocorrendo. Assim, como ocorre com as pessoas, precisamos saber quem elas são para poder salvá-las"

Maria das Graças Ribeiro. Agricultora

"A conscientização é com certeza o primeiro passo para evitar a extinção da nossa Caatinga. Mesmo assim estamos devastando praticamente tudo. Mas a falta de fiscalização acelera esse processo de destruição"

Rafael Ancelmo Marques. Coord. Da Sec. De Meio Ambiente de Mombaça

"Há falta de vontade política para reverter esse quadro que está se tornando cada vez mais crítico e devastador no nosso Estado. Os cidadãos também têm essa responsabilidade e não apenas os órgãos oficiais"

José Maria Barbosa da Silva. Geógrafo e analista ambiental do Ibama